Depois do desfile de 1991, o Sambódromo do Anhembi continuou em obras para as apresentações de 1992. Embora ainda bem diferente do que é atualmente, a Passarela do Samba já ganharia uma nova “cara”, com a pintura da Avenida e a melhoria das estruturas de maneira geral, reformas essas que aconteceram até a véspera dos desfiles. Ainda assim, vale lembrar que as obras fizeram parte do Anhembi ao longo de todos esses 25 anos, como iremos abordar mais adiante.
A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo realizava naquele Carnaval, talvez pela primeira vez na história, visto que não existem registros anteriores, um curso para os 30 jurados que trabalhariam naquele Carnaval. Eram 10 horas de palestras divididas em duas horas nos cinco dias da semana anterior aos desfiles, onde os julgadores entendiam melhor os critérios de julgamento. Visando aumentar o número de escolas do Grupo Especial para 12, a Liga decidiu que não haveria rebaixamento naquele Carnaval.
Outra mudança foi na definição da ordem dos desfiles, que até 1991 levava em conta os resultados do ano anterior para evitar que as melhores colocadas pegassem uma arquibancada “fria”. Para 1992, a segunda escola vinda do Grupo de Acesso continuaria abrindo a festa, mas a definição das posições de desfile das outras nove agremiações passaria a ser do mesmo modo: por sorteio.
Ao contrário do que aconteceu em 1991, a procura por ingressos para o desfile de 92 foi grande. Os ingressos começaram a ser vendidos em 20 de fevereiro, nove dias antes das apresentações, e os primeiros compradores chegaram às bilheterias do Anhembi no dia 18. As filas foram gigantescas e os bilhetes se esgotaram rapidamente.
Foi um Carnaval polêmico e cercado de expectativa. Gastando em torno de 1 bilhão de cruzeiros – o dobro da segunda que mais investiu, a Vai-Vai – o Camisa Verde e Branco tentaria o tricampeonato com um desfile sobre a Lua. A chegada do Carnavalesco Augusto Oliveira, assistente de Joãosinho Trinta na Beija-Flor, rendeu uma declaração homérica da Presidente da escola, Magali Oliveira: “Ele é quem fazia tudo e Joãosinho é quem levava a fama”.
As polêmicas também chegavam à esfera política: depois de recusar o convite para desfilar na Leandro de Itaquera “por ser candidato à Prefeitura de São Paulo”, o petista Eduardo Suplicy acabou por desfilar na Unidos do Peruche, pois “não teve como recusar um convite” dos sambistas da escola. Às vésperas de aumentar o IPTU na Capital Paulista, a Prefeita Luiza Erundina, também do PT, seguiu a recomendação de sua assessoria e ficou em casa, evitando assim se expor e sofrer reações negativas do público.
Voltando aos desfiles, a outra bicampeã, Rosas de Ouro, prometia conquistar os corações paulistanos com uma homenagem à cidade de São Paulo, que carregava aquele que é o mais belo samba da história da escola. Tentando voltar a soltar o grito de “é campeã”, a Vai-Vai falaria sobre a história das navegações, enquanto a Leandro de Itaquera exaltaria o batuque dos negros. A Barroca Zona Sul também exaltaria a raça negra, enquanto a Unidos do Peruche redescobriria o Brasil através da mistura de cores e raças.
Tentando se recuperar dos resultados ruins em 1991, Mocidade Alegre e Nenê de Vila Matilde trariam enredos bem diferentes para a Avenida: a Morada do Samba homenagearia o Jornal O Estado de S. Paulo e a Águia da Zona Leste abordaria a luz. Voltavam ao Grupo Especial, a Gaviões da Fiel era outra a homenagear a cidade de São Paulo, porém sob uma ótica completamente diferente à da Rosas, e a Colorado do Brás, contaria a vida sofrida de um típico brasileiro.
Abrindo a maratona de desfiles, a Colorado do Brás contou o enredo “A cara do pai, a cara da mãe” e apostou na irreverência para fazer um desfile crítico. Sem a responsabilidade de tentar se manter no primeiro grupo, a escola abordaria o dia a dia difícil do brasileiro e conseguiu uma apresentação bastante, digamos, simpática.
O desfile começava abordando as dificuldades financeiras do brasileiro e passava pelo mau-tratamento recebido no serviço público de saúde, pela falta de segurança, pelas filas, pela ineficiência do transporte público, pela fome, pela falta d’água, pelas enchentes, dentre outros perrengues. Isso, porém, apenas na primeira parte.
Na segunda, a escola tratava de como esse brasileiro superava todos esses problemas: com alegria. No boteco com uma roda de samba, com a “pelada” entre amigos, vendo o time do coração jogar e, claro, indo lá na quadra pra ver um ensaio e namorar um pouco. Apesar da evidente falta de recursos e da arquibancada gelada, a vermelha-e-branca fez uma boa apresentação dentro das suas limitações.
Maior azarada do sorteio, a Rosas de Ouro foi a segunda escola a entrar na Avenida para defender o enredo “Non Ducor Duco, Qual é a minha cara?”. Prometendo “botar medo” nas concorrentes, a escola conquistou o Anhembi com uma apresentação de altíssimo nível, a começar pelo samba.
A obra de João do Violão e Miltinho é uma das maiores da história do Carnaval paulistano e contava bem o enredo que pretendia resumir a São Paulo que o paulistano conhece, desde os aspectos históricos até os pontos turísticos. Brilhantemente interpretado por Royce do Cavaco, ele ajudou a escola a levantar as arquibancadas do Anhembi. O refrão anterior ao principal, “azul e rosa a passar / azul e rosa é roseira / roseira onde canta o sabiá” é de fato irresistível. O refrão principal provocou uma apoteose na Avenida com seu “meu sabiá, ô ô ô / soltou o trinar, cantou, cantou / deu show na passarela / levantou a galera / bateu asas e voou”
O desfile começava pelo surgimento da Cidade de São Paulo, dos lampiões de gás, dos jesuítas vindo da Serra do Mar, e dos barões do café. Havia também espaço para uma crítica ou outra, como ao ar poluído, mas a maior parte do desfile exaltava a cidade, abordando pontos como o famoso cruzamento entre a Ipiranga e a São João, o Teatro Municipal, o Lago do Arouche, o Pacaembu, ou ainda a Praça da Sé.
O canto dos componentes foi muito forte e toda a parte plástica estava muito bem concebida e luxuosa. Por outro lado, algumas fantasias foram se desmanchando ao longo do desfile, o que poderia custar pontos preciosos para a escola, que, ainda assim, se colocava como favorita ao tri.
Desfilando pela segunda vez no Grupo Especial, a Gaviões da Fiel fez uma boa apresentação na defesa do enredo “Cidade Aquariana”. Contando pela primeira vez com o talento do Carnavalesco Raúl Diniz no Grupo Especial, a Torcida Que Samba trazia um enredo até um pouco parecido com o da Colorado do Brás, mas reduzido à cidade de São Paulo.
Ao contrário do que fez por exemplo a Rosas de Ouro, não houve espaço para uma visão muito romântica da Terra da Garoa, falando sobre como é cidade é regida pelo signo de Aquário. O enredo era até um pouco confuso, falava sobre alguém que “trabalha e estuda num lugar fora de mão” e está esperando a condução, que “sonha em ser bacana” e que depois, tal como na Colorado do Brás, encontra no samba e no futebol – nesse caso, é claro, com o Corinthians, um bom divertimento.
O bom samba, interpretado brilhantemente por Ernesto Teixeira, foi o ponto alto de um desfile marcado por limitações plásticas. O abre-alas não era exatamente de bom gosto, nem em concepção, muito menos em execução. Embora as fantasias estivessem bem acabadas, faltou luxo e foi um desfile apenas “ok”, embora a animação da escola e o canto forte dos componentes mereçam destaque.
A quarta escola a desfilar foi a Unidos do Peruche, que tentaria conquistar o público com um enredo de mais fácil compreensão em relação ao de 1990. “O Brasil Mostra Suas Cores”, outro enredo de Raúl Diniz, exaltava a mistura de raças – ou “cores” – que formou o Brasil miscigenado que conhecemos hoje.
Não há qualquer registro em vídeo ou mesmo em fotos do desfile da Unidos do Peruche, mas sabe-se que a apresentação da Filial do Samba foi apenas regular. O samba não era dos melhores, nem dos piores, e passou longe de ter sido bem cantado. O enredo foi desenvolvido com alguma correção, mas faltou algo mais. Foi um desfile de meio de tabela, ainda mais por conta da parte plástica que, embora bem acabada, não estava muito bem concebida e não apresentava muito luxo. Para piorar, a escola ainda teve muitos problemas na evolução.
A quinta agremiação a entrar no Anhembi foi a Mocidade Alegre, que desfilou o ousado tema “A Espada da Liberdade – ‘Jornal O Estado de S. Paulo’”. O enredo contava a história do Jornal, mas inteligentemente focava na luta contra a ditadura, na luta pela liberdade de expressão e, em alguns momentos, parecia não só uma homenagem a um dos mais tradicionais periódicos nacionais, mas também ao jornalismo em geral.
A Morada continuava apresentando algumas dificuldades financeiras, mas fez um desfile competente dentro das suas limitações. O samba era bem escrito, resumia bem o enredo e a escola conseguiu empolgar a Avenida. Não era um desfile para brigar pelo título, mas foi uma boa apresentação, especialmente por se tratar de um ano que não foi exatamente pródigo em ótimos desfiles, como concluiremos mais adiante.
Sexta escola da noite, a Leandro de Itaquera retomava a linha de enredos afro com o tema “Batuque, a força de uma raça” e fez outra apresentação inferior às que havia tido em 1989 e, principalmente, 1990. O samba, carregado de expressões afro, até foi bem cantado, até porque era bom, mas a parte plástica acabou decepcionando. A escola ao menos conseguiu levantar um pouco a passarela, que começava a dar sinais de cansaço.
O tema contava a origem do batuque, mas no fim das contas parecia mais uma das muitas homenagens feitas aos negros no Carnaval. Tal como com a Unidos do Peruche, faltou algo diferente, novo. Ainda assim, era um desfile que poderia render uma boa colocação para a agremiação da Zona Leste.
A sétima agremiação a pisar na Avenida foi a Barroca Zona Sul que, em ascensão, contou o enredo “Roma Negra”, mudando um pouco o estilo de enredos que vinha trazendo para o Carnaval paulistano. A apresentação da verde-e-rosa da Zona Sul, no entanto, ficou muito abaixo daquilo que se esperava da escola.
Primeiro porque o enredo era confuso e, ao tentar ser inovador na abordagem de exaltação aos negros, acabou ficando sem pé, nem cabeça. Era difícil entender o que era Roma, o que era África, o que era Brasil e, no fim das contas, ficou a sensação de mais do mesmo, contraditoriamente. O samba também não ajudava e a parte plástica estava bem inferior ao que a escola vinha apresentando.
O que contribuiu para o desastre da apresentação, porém, foi a noite infeliz da harmonia da escola. Alas inteiras passavam mudas e, como as apresentações já não estavam em altíssimo nível há algum tempo, o público praticamente ficou indiferente ao desfile da Faculdade do Samba. Jornais da época relatam que alguns presentes que trouxeram cobertores para suportar o surpreendente frio que fazia em São Paulo naquele 29 de fevereiro de 1992, chegaram a cochilar na arquibancada. Enfim, um desfile pra se esquecer.
Depois da apresentação infeliz da Barroca Zona Sul, pisou na Avenida, já com o dia clareando, a bilionária e “carioca” Camisa Verde e Branco. Prometendo fazer um desfile de Rio de Janeiro, o Trevo da Barra Funda pisou forte como sempre para defender o enredo “Banho de luz que me seduz” e levantou uma Avenida que começava a adormecer.
O enredo sobre a Lua, é necessário dizer, foi desenvolvido com correção. O primeiro setor foi dedicado à mitologia, o segundo às tradições, o terceiro ao lado romântico e sedutor da dita cuja e o último à conquista do espaço pelo homem. Augusto de Oliveira fez o simples, o feijão com arroz e fez muito bem. Foi um desfile digno de uma bicampeã que vinha com vontade de levar o tri e superar as suspeitas de sabotagem que circulavam no meio.
Plasticamente, foi totalmente justificado o investimento de 1 bilhão de cruzeiros anunciados por sua Presidente. Tudo foi feito com extremo bom gosto e luxo e as alegorias e fantasias estavam muito bem acabadas. A divisão cromática foi muito correta e o Carnavalesco soube usar do verde e branco com maestria. O samba não era tão bom quanto o da Rosas, mas cumpriu razoavelmente bem o seu papel. Quesito a quesito, ainda que não tenha sido uma apresentação tão marcante quanto a da Roseira, foi o melhor desfile da noite até então, principalmente por conta dos problemas nas fantasias da agremiação da Brasilândia. Antes de se colocar como favorita, porém, a verde-e-branca teria que acompanhar a passagem de duas coirmãs que também esbanjavam tradição.
Nenê de Vila Matilde, que desejava deixar de vez para trás os dias ruins e de certa forma conseguiu um bom desfile com o tema “Luz, divina luz”. O excelente samba conquistou as arquibancadas e, mesmo sem qualquer registro em vídeo ou mesmo em fotos do desfile, sabe-se que foi realizado um trabalho plástico de muito bom gosto.
O melhor desfile da Águia da Zona Leste em muito tempo continuava deixando visíveis as dificuldades financeiras da escola, mas, continuando com o trabalho realizado em 1991 com Tito Arantes, o Carnavalesco Oswaldinho fez um desfile competente dentro de suas condições. O fantástico desempenho da Bateria de Bamba ajudou o que era para ser um desfile de meio de tabela a ser alçado a azarão na briga pelo título.
A Nenê pareceu ter optado por investir bastante nas fantasias e deixou mais aparente os defeitos nas alegorias. Como veremos mais adiante, isso acabou sendo um problema. Ainda assim, depois de alguns anos ruins, a Nenê podia enfim ao menos sonhar com mais uma taça. Dada a crise recente pela qual a azul-e-branca havia passado, já era muita coisa.
Para encerrar os desfiles de 1992, entrou no Anhembi a Vai-Vai fazendo, podemos dizer, um desfile de Vai-Vai. Antes mesmo da escola iniciar seu desfile, o samba que contava o enredo “Por mares nunca dantes navegados”, já era cantado a plenos pulmões nas arquibancadas. E olha que ele não era um primor, embora fosse bastante competente.
Com o sambódromo ainda cheio, a Saracura conquistou o público com a cadência sempre certeira de Mestre Tadeu. Thobias da Vai-Vai também viveu um de seus dias mais inspiradas com cacos divertidíssimos como o seu “di di di di di diz!”. Thobias, aliás, se mostrava o melhor intérprete do Anhembi naqueles tempos. Levava o samba sozinho durante praticamente todo o desfie, mas não cansava seus ouvintes. Quase insuperável, ainda que Royce do Cavaco também vivesse momento brilhante.
Plasticamente, a escola viveu quase um dilema. Havia a opção nítida por um desfile colorido, que não pendesse somente para o azul do mar, mas explorasse todas as nuances que um enredo sobre a navegação poderia oferecer. E assim foi feito ao menos nas alegorias. Nas fantasias, a escola teve que optar por cores mais claras, quase sempre o branco e usar de muito brilho. Dificuldades naturais por se desfilar com o dia claro.
No entanto, em termos de fantasias, em nada se pode questionar o desfile da escola do Bixiga. As fantasias foram disparadas as mais luxuosas de 1992. Grandes, imponentes e perfeitamente acabadas, elas acabaram garantindo um ótimo efeito, mas ironicamente prejudicaram a harmonia. Por serem muito caras, afastaram um pouco parte da comunidade, que não podia pagar pelas mesmas. O resultado foi que o samba foi melhor cantado na arquibancada que na Avenida.
As alegorias seguiram o padrão de luxo e acabamento das fantasias, mas já foram de gosto um pouco mais duvidoso. O último carro, por exemplo, parecia uma pista de autorama e não representava nada. O próprio abre-alas, apesar de bastante grande, não era dos melhores a passar pela Avenida naquela noite.
Ainda assim, a Vai-Vai se posicionou como grande favorita ao lado do Camisa Verde e Branco. A Rosas de Ouro estaria em pé de igualdade com as duas, mas os problemas nas fantasias a faziam correr por fora, mas com chances bastante superiores às da Nenê de Vila Matilde, que tinha no título um sonho bastante distante.
Foi, no entanto, um ano de apresentações ruins, onde, excetuando-se o “trio de ferro” do momento – Rosas, Camisa e Vai-Vai – pouca coisa mereceu grandes destaques positivos. O aspecto mais positivo no geral talvez tenha sido a melhora considerável na evolução, visto que as escolas pareciam mais habituadas à Passarela.
Na apuração, no entanto, algumas surpresas. A começar pela Nenê de Vila Matilde, que, embora de fato tenha apresentado alegorias de nível baixo, foi bastante “canetada” no quesito, o que provocou a fúria dos integrantes da escola. O grande e saudoso Seu Nenê, então Presidente da escola, armou um quiproquó danado e chegou a rasgar algumas notas, paralisando a apuração por algum tempo.
Quando os ânimos se acalmaram, foi a vez da fúria ser transferida para as duas maiores favoritas, Camisa e Vai-Vai, que não gostaram nem um pouco das notas altas dada a Rosas de Ouro em quesitos como fantasia. Posteriormente, o Trevo da Barra Funda tentaria anular o resultado dos desfiles na Justiça – sem sucesso.
Não adiantou chorar, espernear, ir à Justiça, nada. Depois de dois anos, o Carnaval de São Paulo enfim tinha um único dono: a Rosas de Ouro faturou o tricampeonato ao somar 294 pontos dentre 300 possíveis, três a mais que Camisa e Vai-Vai, empatadas na segunda colocação. A Mocidade Alegre surpreendeu e conquistou o terceiro lugar com 289 pontos que foram bastante superiores ao que a escola apresentou.
A Nenê de Vila Matilde, embora tenha tido uma pontuação relativamente justa – 287 pontos -, não merecia ficar atrás da Morada do Samba e empatar com a Unidos do Peruche. A Águia da Zona Leste se colocou logo à frente de Leandro de Itaquera e Gaviões da Fiel, que tiveram colocações bem condizentes ao que foi apresentado. Como já se esperava, as duas últimas colocações ficaram com a Barroca Zona Sul e a Colorado do Brás, que fizeram, de longe, os dois piores desfiles do ano e foram salvas pelo não-rebaixamento naquele Carnaval. A Barroca terminou com 264 pontos, seis a menos que a Gaviões, e nove a mais que a Colorado.
No Grupo 1, a Imperador do Ipiranga conquistou o título e voltou ao Grupo Especial junto com a Acadêmicos do Tucuruvi, que deixou para trás a Águia de Ouro, vinda do Grupo Especial, e a Pérola Negra, que ficou mais uma vez no quase. Tal como no Especial, não houve rebaixamento, o que acabou provocando uma história curiosa, como veremos na semana que vem.
Curiosidades
– A transmissão do Carnaval de 1992 na TV Globo, iniciada às 23h30, foi dividida entre Carlos Tramontina e Luiz Alfredo e os comentários ficaram a cargo de Paulo Rogério. Com cuidado imenso para, digamos, definir e apresentar as moças que desfilavam mais à vontade, a transmissão teve alguns momentos homéricos como quando Tramontina, no desfile da Gaviões, apresentou “a águia do abre-alas”, se corrigindo em seguida: “gavião, claro”.
– A TV Gazeta também transmitiu os desfiles, porém desde o início, e cometeu algumas gafes devido à falta de sincronia entre o que os narradores viam e o que a transmissão exibia para o telespectador. Outro grande momento se deu quando uma destaque da Rosas de Ouro apareceu na tela e o comentarista Evaristo de Carvalho interveio na narração de Tereza Santos: “ih, olha lá, esta é minha prima!”.
– A segurança foi reforçada para 1992, com cerca de três mil policiais trabalhando na Avenida, o que não evitou uma série de problemas relacionados à consumo de drogas, brigas e, digamos, atentados ao pudor. A estrutura dos camarotes também não estava lá essas coisas, com comida de qualidade ruim e chope acabando antes da metade dos desfiles.
– A organização do Carnaval era tão boa no começo da década de 1990, que jornais da época, como a Folha de S. Paulo, classificavam como “uma surpresa” o cumprimento dos horários estipulados pela Liga para o início das apresentações. Houve apenas algum atraso para o início do desfile da primeira escola, mas nada que se comparasse a anos anteriores.
– O desfile da Gaviões da Fiel foi importante para tentar quebrar a imagem ruim que as Torcidas Organizadas tinham com a população naquele 1992, visto que, semanas antes, havia acontecido a briga entre corinthianos e são-paulinos na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
– O verso “Roseira onde canta o sabiá”, que ajudou a consagrar o desfile campeão da Rosas de Ouro, voltaria a aparecer em um desfile da escola em 2014, quando a agremiação da Freguesia do Ó falou de momentos inesquecíveis e tinha no refrão principal do seu samba os versos: “Roseira, impossível não lembrar / ‘Roseira onde canta o sabiá’”
– A crítica em geral noticiou bastante o fato do Carnaval de São Paulo ter sido bastante “comportado” em termos de nudez. Para os padrões da época, o contador de seios à mostra e, como se diz no Carnaval, “genitálias desnudas” foi bastante baixo.
– A confusão na apuração de 1992 foi só uma das que marcaram esses 25 anos de Anhembi. O leitor verá em textos futuros que já aconteceu de tudo. No próximo episódio mesmo, o de 1993, tem uma história que beira o inacreditável.
– A Acadêmicos do Tatuapé, hoje consolidada no Grupo Especial, voltava à ativa em 1992, no extinto “Grupo de Seleção B”. A escola terminou em terceiro lugar em um grupo vencido pela Falcão do Morro Itaquerense.
Links
O samba de 1992 da Gaviões da Fiel
O desfile campeão da Rosas de Ouro
O samba da Nenê de Vila Matilde
A excelente apresentação da Vai-Vai
Ótimo texto, a Rosas ganhou muito pelo grande samba.
Curioso para saber a história de 93, 94 tem os tais Jurados Vip que bagunçaram a apuração, porém isso é assunto pra daqui 15 dias.
A Camisa fez um desfile espetacular em termos de luxo e coerência, mereceria o título muito por isso, acho que esse desfile merecia o empate, tanto Rosas, quanto Camisa foram campeãs a sua maneira.
Esse desfile da Mocidade é bem superestimado, aliás segundo consta, o carnavalesco atual sonha em reeditar esse enredo.
Gaviões e Raul Diniz, ainda fariam grandes desfiles, foi uma boa estréia.
Peruche já em fase descendente fez um desfile abaixo de suas tradições.
E a Nenê foi prejudicada pela caneta dos jurados em Alegorias.
No todo fica a lembrança do grande samba da Rosas de versos maravilhosos, Que venha 93.
Eu só fiquei com uma dúvida: O Raul Diniz trabalhou tanto na Gaviões quanto na Peruche?
No SASP, também, diz a mesma coisa. Interessante!
Abraço!
Não quero semear a discórdia aqui, mas o samba da Rosas de Ouro deve muito à brilhante interpretação de Royce do Cavaco, em noite mais que inspirada, segurou o samba no gogó, e fez a roseira desabrochar rumo ao título!
Uma curiosidade: Patrícia Godoy, Miss Brasil 1992, desfilou no Vai-Vai e na Estácio de Sá!
Vai-Vai, aliás, ocupando a pista de forma incrível, muito pelas grandes fantasias.
Conforme já mencionei no post da semana passada, esta “neurose” em ocupar a pista corretamente perseguirá as escolas paulistanas por um longo tempo.
Ansioso pela semana que vem!
Atenciosamente
Fellipe Barroso