A final do Mundial masculino de vôlei foi aquela que (quase) todos queriam: a da anfitriã Polônia contra o atual tricampeão Brasil.
Qualquer lado que ganhasse representaria a escrita de uma página importante da história de vôlei: ou o Brasil levava um inédito tetracampeonato consecutivo ou a Polônia, um país que ama o vôlei, voltaria a conquistar um mundial após 40 anos, em muitos deles sofrendo com equipes ruins.
Ao fim da grande final, a história escrita não foi bem a que o Brasil queria: a Polônia venceu de virada por 3 a 1 e conquistou o título mundial, nos deixando o vice-campeonato.
Foi uma partida até mais fácil do que a partida decida em um apertado tiebreak entre essas mesmas duas seleções cinco dias antes da final do último domingo, partida essa que marcou a queda da invencibilidade do Brasil no Mundial.
Porém, dentro de campo, me marcou um nervosismo dessa seleção na semifinal e na final deste Mundial que não era comum nas outras gerações da seleção de Bernardinho.
No sábado, na semifinal contra a França, após um primeiro set avassalador, a seleção cometeu vários erros, não teve a menor inteligência tática e ganhou a partida sufocante em um tiebreak que era completamente desnecessário.
O primeiro set fácil se repetiu na final, assim como os inúmeros erros do Brasil nos momentos decisivos nos outros três sets parelhos, especialmente no quarto set, quando o Brasil estava ganhando por 21-19 e deixou a Polônia marcar quatro pontos consecutivos.
Os dois ótimos jovens talentos do Brasil, Lucarelli e Wallace, respectivamente, cansaram de errar viradas de bola importantes e de se afobar na hora do bloqueio batendo na rede e perdendo o ponto.
Apesar disso, tal inexperiência não preocupa por dois motivos: mesmo com isso, somos vice-campeões mundiais, o que já representa muito e os dois garotos estão ganhando experiência para suportar a pressão que virá de todos os lados (imprensa, torcida, COB e CBV) para que essa equipe conquiste o ouro olímpico daqui a dois anos na experiência única dos Jogos Olímpicos serem em casa.
O que mais me chamou atenção foi a declaração de Bernardinho após o jogo reclamando de um suposto jogo armado da federação internacional para prejudicar o Brasil.
Para argumentar citou algumas mudanças de programação de jogos do Mundial para beneficiar a Polônia e o credenciamento de jornalistas que deixou um notório criador de problemas sempre perto do banco brasileiro.
É verdade que a FIVB, não é de hoje, faz regulamentos no limite da ética para ajudar o anfitrião do mundial. Isso já ocorrera em várias outras edicões.
Mas o que realmente me chamou a atenção é que desde o fim de 2012 o presidente da FIVB é o brasileiro Ary Graça. Logo ele que foi por duas décadas presidente da CBV, quem contratou Bernardinho para a Seleção feminina, depois o transferiu para o vitoriosíssimo projeto na Seleção masculina e trabalhou com Bernardo até sua eleição para a FIVB.
Em condições normais, caso Bernardo estivesse incomodado com qualquer coisa que FIVB poderia resolver, era só fazer uma ligação. Mesmo que haja algum problema pessoal entre eles, tal conversa-solicitação informal seria fácil por meios institucionais, via presidência da CBV, que ficou na mão do Walter Pitombo, aliado da dupla Nuzman/Graça desde tempos imemoriais.
Mas não, ele soltou tal reclamação nos microfones da imprensa. Podemos pensar que foi algo dito de cabeça quente após a derrota. Mas quem conhece Bernardinho sabe que é muito raro ele abrir a boca sem ser de caso pensado.
Quem acompanha a CBV e especialmente a Superliga sabe que há alguns meses vêm ocorrendo problemas políticos que encontraram espaço no vácuo de poder deixado por Graça ao se transferir para FIVB.
Houve a revelação de pagamentos indevidos pela CBV a empresas comandadas por pessoas da própria entidade. Na carona, os clubes cada vez mais estão se unindo, pleiteando seus direitos e, por tabela, mais poder.
A situação é tão complicada que até toda poderosa Globo/SporTV já abriu mão do direito de controle de placas de publicidade nas quadras da Superliga, algo absolutamente impensável para qualquer esporte olímpico, na tentativa de apaziguar os clubes. Ainda sim, não foi suficiente.
As palavras de Bernardo, voluntariamente ou não, só servem para demonstrar a confusão administrativa que anda rondando o vôlei brasileiro.
O que me preocupa é que por trás deste justíssimo movimento dos clubes (eles sempre foram muito maltratados pela CBV e pela Globo) é que eles podem estar sendo usados como marionetes por alguém que não sabemos quem é nem quais seriam sua(s) intenção(ões). O vazamento das informações dos pagamentos dos contratos suspeitos de forma sensacionalista na ESPN apenas aumentou minhas preocupações.
Torço para que seja apenas um movimento dos clubes exigindo o que eles sempre mereceram: respeito e gestão limpa na administração do esporte.
Obs: esse assunto ainda não parou na grande imprensa porque os recursos não são públicos, mas privados da própria Superliga, pelo menos até o momento.