A virgindade sempre foi e sempre será um tabu dentre os jovens, sejam gays ou héteros. Mas, pelas dificuldades diversas, entre os homossexuais esse assunto é mais complexo.

Algumas pessoas acreditam que só é possível perder a virgindade através do sexo vaginal e não acham que o sexo oral e anal também são formas de “perder a virgindade”. Em parte, isso ocorre porque tem havido uma associação desde os primórdios entre virgindade e o hímen.

O hímen é uma pele fina, que se situa por cima da abertura da vagina. Embora seja rompido durante o sexo vaginal, ele também pode ser rompido masturbando-se, durante outros tipos de brincadeiras sexuais, fazendo ginástica, andando de bicicleta ou a cavalo e até mesmo usando um tampão; nestes últimos casos ocorrem raramente, mas não pode ser descartada a possibilidade.

Usar o hímen como uma medida da virgindade não é uma maneira correta pelos seguintes motivos:

  • Se o hímen é fator determinante, então um homem jamais perderia a virgindade?
  • Há muitas formas não-sexuais de romper o hímen, estaria a mulher perdendo a virgindade sem um parceiro(a)?

Tendo isso em mente, perder a virgindade é o ato de ter a primeira relação sexual com outra pessoa, independente da forma.

Um fator curioso é que tradicionalmente entre os homossexuais masculinos a virgindade tende a ser perdida mais cedo, em brincadeiras com amigos ou primos, na famosa “meinha”, quando isso não acontece naturalmente durante a infância, ocorre na adolescência pelos 13/15 anos e passa a ser um problema, pois o corpo começa a entrar em ebulição e a perda da virgindade passa a ser uma meta.

Há uma certa pressão psicológica, mas a bem de verdade é que o fator determinante quase sempre são hormônios em ebulição; hoje em dia com a internet é muito comum ver adolescentes “caçando” parceiros sexuais na redes sociais e salas de bate papo. O mais agravante, contudo, é que quase sempre há um predador mais experiente do outro lado, e nunca se sabe onde a busca vai chegar. Geralmente não há romantismo na relação e o sexo desprotegido quase sempre ocorre.

Júlio César, 29 anos, conta que durante sua adolescência tinha muito desejo nos amigos da mesma idade, mas tinha medo de tentar algo, por medo de represália ou de perdê-los, pois eram todos héteros, reprimindo assim seus desejos. Aos 16 anos, conheceu a internet na empresa onde trabalhava como jovem aprendiz; navegando na rede entrou em uma sala de bate papo e aceitou a primeira investida de um desconhecido. No mesmo dia, ao fim do expediente, faltou sua aula à noite e se encontrou com o indivíduo, dez anos mais velho, na porta de um motel no Centro do Rio; viu o rapaz pela primeira vez apenas ali naquele momento e mesmo sendo menor de idade entrou sem problemas no recinto. Seu coração palpitava bastante, o homem pedia para ele se acalmar e os dois tiveram a relação sem usar preservativo.

Quando pergunto como foi a experiência, ele foi bem sincero: “Não gostei, acho que estava muito nervoso com o momento e não senti nada, na verdade o que me marcou na minha primeira vez é que quando estava no ônibus voltando para casa, chorei muito, me sentia sujo, lembrei das DSTs, olhei no bolso o número do rapaz anotado e joguei pela janela, achei tudo muito estranho. Mas na semana seguinte estava novamente marcando com outro… virou um certo vício”.

Na primeira vez masculina há ainda o ‘drama’ da posição sexual, que pode ser de passivo, ativo ou versátil; quase sempre, com raras exceções o homossexual tende a ser passivo em sua primeira vez, mudando e/ou se adaptando conforme o resultado da primeira transa, geralmente quando sente muita dor ou desconforto prefere adotar a posição de ativo. Quando percebe que gosta das duas formas acaba sendo versátil em seus relacionamentos.

Dentre os homossexuais femininos é um pouco diferente. Não é por ser lésbica que não haja o sonho do príncipe encantado, neste caso princesa. As lésbicas tendem a perder a virgindade mais tarde, são bastante sonhadoras com este momento e quase sempre tem um amor platônico com uma colega de escola ou vizinha (quase sempre héteros), o que dificulta ainda mais a situação. As lésbicas geralmente encontram parceiras mais experientes, não necessariamente mais velhas e a primeira vez é quase sempre mais bem sucedida que com os homens, munida de muitos toques, beijos e conhecimento mútuo do corpo.

Tatiane, 28 anos, diz que ‘estragou’ seus anos no ensino médio em busca de uma menina. Segundo ela, parece cômico agora, mas desde os 13 anos buscava encontrar a mulher dos seus sonhos e passou os próximos cinco anos ou mais procurando pela mesma. Culpa isso pela timidez e por ser a única lésbica na escola. Afirma que estava bem com a situação, mas precisava enfrentar o dilema: perder a virgindade é um grande negócio. Pelo menos é isso que é dito pelo mundo, em cada filme ou programa de TV sobre adolescentes parece ser acompanhada com uma história sobre a perda da virgindade.

Suelen, 25, afirma que teve sorte ou azar de perder a virgindade duas vezes: “Claro, hoje sei que sou lésbica. Mas também não guardo segredo no fato de eu ter dormido com um homem. Quando eu tinha 18 anos, transei com um cara pela primeira vez; aos 19 anos, tive a minha primeira vez com uma garota. Duas primeiras vezes. Dupla emoção, o dobro do nervosismo, o dobro dos confrontos e cabeça embaraçosa. As experiências foram diferentes, e hoje sei que a segunda foi bem melhor, na verdade a considero como primeira e única, não tive apenas uma penetração e ponto final. Posso afirmar que cheguei ao orgasmo com uma mulher, ela soube me tocar, achou meus pontos fracos e me fez gostar da coisa”. Diz ainda que os heterossexuais ficariam surpresos com o quão semelhante o sexo lésbico e sexo heterossexual realmente são. Há, claro, um “um membro” a menos envolvido, mas no geral eles são muito parecidos. “Fico sempre surpresa com o número de heterossexuais que me perguntam como as lésbicas fazem sexo. Eles parecem pensar que há algum tipo de ato secreto que só lésbicas sabem — algo excitante e exótico. Eu quase sinto que deixo as pessoas desapontadas quando explico que o sexo lésbico e sexo hétero não são tão diferentes”, afirma.

Devido ao fato do sexo lésbico não incluir uma penetração com pênis, ficam dúvidas do que se constitui, na verdade, o sexo. De modo que o sexo está nos olhos de quem vê. Mas o fato é que para um grande número de mulheres é mais o lado emocional aliado ao carinho físico. Seja para homens ou mulheres, o que fica claro é que a primeira vez com alguém que você não tem sentimentos parece muito menos satisfatória do que com alguém que você goste ou ame.

Todo esse papo nos faz perceber porque perder virgindade é um grande negócio. É como um rito de passagem. Os adolescentes festejam quando começam a ter relações sexuais, pois é como se eles tivessem atingido a maturidade. Não há sininhos tocando na primeira vez. Eles até soarão das próximas vezes que for fazer transar, pois a cada relação sexual, você vai aprendendo coisas novas e segue explorando-as da forma mais íntima possível. Isso não é como perder a virgindade de novo?

Já dizia Madonna: “Like a virgin, touched for the very first time” (Como uma virgem, tocada pela primeira vez).