O lamentável acidente que deixou o piloto Jules Bianchi com uma grave lesão cerebral foi, acima de tudo, causado por um erro simples de procedimento por parte da direção de prova do chuvoso Grande Prêmio do Japão.

É claro que as condições do tempo haviam piorado nos minutos anteriores às saídas de pista de Adrian Sutil e do próprio Bianchi – Felipe Massa vinha reclamando com a equipe pelo rádio. Mas os próprios pilotos disseram que na maior parte da corrida as condições eram aceitáveis.

Então o que realmente foi decisivo, entre os vários fatores deste episódio, foi a infeliz decisão de não se mandar o safety car à pista quando um trator entrou na área de escape para retirar a Sauber de Sutil. Outros episódios de tratores resgatando carros já haviam quase causado acidentes.

Mas infelizmente a direção de prova caiu na soberba de achar que o resgate vinha sendo rápido e já estava terminando. De fato, uns dez ou vinte segundos depois a retirada do carro de Sutil teria terminado. Mas não valia a pena correr o risco e o safety car deveria, sim, ter sido acionado.

Esse erro crasso, infantil, primário e inaceitável me fez lembrar de outros episódios nos quais a negligência, ou se vocês quiserem, falha nos procedimentos, causaram graves acidentes na Fórmula 1 – alguns deles terminaram em morte…

GP da Holanda de 1973

Uma série de erros ocorreu no acidente que vitimou o inglês Roger Williamson: o carro dele pegou fogo e os “bombeiros” que se aproximaram não estavam vestidos adequadamente, sem contar que os extintores não tinham força suficiente para debelar as chamas. Além disso, o diretor de prova observou por binóculo o piloto David Purley andando nas proximidades do acidente e equivocadamente não mandou “reforço” ao local por achar que Purley era o piloto acidentado, quando na verdade o inglês havia saltado do carro para tentar desvirar o carro de Williamson, sem sucesso. Além disso, a corrida continuou normalmente, mesmo com uma espessa nuvem de fumaça no local e um caminhão de bombeiros trafegando pela pista.

GP da Espanha de 1975

Liderados por Emerson Fittipaldi, os pilotos chegaram a fazer um motim contra as péssimas condições de segurança no circuito de rua de Montjuich – as barreiras estavam mal fixadas e podiam ser derrubadas com um chute. Mas os organizadores da prova ameaçaram confiscar os carros e as atividades continuaram. Emerson manteve uma posição firme e só deu uma volta lenta para cumprir uma obrigação contratual. A corrida, de fato, terminou em tragédia, depois que o carro de Rolf Stommelen decolou por quebra da asa traseira e atravessou as barreiras, matando quatro espectadores e ferindo gravemente ele próprio.

GP da Itália de 1978

A confusão que resultou no acidente que matou Ronnie Peterson começou porque o diretor de prova Gianni Restelli equivocadamente acendeu a luz verde autorizando a largada quando as últimas filas do grid ainda estavam em movimento. Isso causou um bololô de carros no ponto em que a pista afunilava e os carros de Riccardo Patrese, James Hunt e Peterson se enroscaram. Peterson teve múltiplas fraturas nas pernas e acabou morrendo depois de complicações nas cirurgias a que foi submetido.

Testes em Paul Ricard, em 1986

Em um dia de treinos coletivos, havia pouca (ou quase nenhuma assistência) no autódromo francês. Com isso, ninguém desvirou rapidamente o acidentado Brabham de Elio de Angelis, que ficou de cabeça para baixo e soltou muita fumaça, asfixiando o piloto italiano, que não conseguia sair sozinho do carro. Além disso, houve demora para a chegada de um helicóptero que pudesse transportar De Angelis para um hospital em Marselha. Mesmo sem lesões graves, De Angelis morreu 29 horas depois do acidente por ter respirado gases venenosos.

Testes em Jacarepaguá, em 1989

O francês Philippe Streiff bateu na curva do Cheirinho e dois graves problemas ocorreram: o resgate foi feito de forma inadequada, sem que a coluna e pescoço do piloto fossem devidamente imobilizados, e o transporte foi feito por terra para a Clínica São Vicente, que ficava muito longe e ainda tinha rua de paralelepípedos na época. Streiff ficou paraplégico.

Infelizmente, por mais que tenham evoluído muito na segurança das pistas e dos carros, não aprenderam com essas tragédias e mais uma entristeceu toda a comunidade automobilística.

Imagem: Globoesporte.com