Da sigla LGBT o “T” de Transgêneros surgiu para englobar Transexuais e Travestis. Porém muita gente que não tem contato com o meio gay acaba achando que os dois são a mesma coisa – e não são.
A transexualidade é a condição considerada pela OMS como um tipo de transtorno de identidade de gênero; refere-se à condição do indivíduo que possui uma identidade de gênero diferente da designada ao nascimento, tendo o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Usualmente, os homens e as mulheres transexuais apresentam uma sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico e desejam fazer uma transição de seu sexo de nascimento para o sexo oposto (sexo-alvo) com alguma ajuda médica (terapia de reatribuição de gênero) para seu corpo. A explicação estereotipada é de “uma mulher presa em um corpo masculino” ou vice-versa, ainda que muitos membros da comunidade transexual, assim como pessoas de fora da comunidade, rejeitem esta formulação.
Entenda o que transexualidade significa: é o estado de ser em que o gênero sexual biológico (geralmente determinado no nascimento) não combina com o gênero subjetivo de uma pessoa, isso é, o gênero sexual com que a pessoa se identifica. Transexuais podem ter genitálias distintamente femininas ou masculinas e os cromossomos para combinar, mas desde pequenos eles “sabem” que estão em corpos que não combinam com sua identificação sexual própria. Por exemplo, uma mulher que se identifica como homem e usa roupas masculinas pode ser chamada de transexual.
Para não ficar dúvidas o travestismo é o ato de se vestir com roupas tipicamente associadas com o sexo oposto. Travestis não são necessariamente transexuais, embora uma pessoa transexual em pré-operação e vestida como o sexo oposto possa ser, tecnicamente, chamada de travesti. Travestis não se identificam, necessariamente, com um gênero que não seja o seu biológico. Usar esse termo para se referir a uma pessoa transexual é ofensivo. Já uma drag queen é um homem que se veste como travesti para o propósito de entreter os outros, normalmente dublando músicas populares de ‘divas’ em shows. Mulheres que se vestem como homens para entretenimento são chamadas de “drag kings“. Drag kings e queens podem não ser necessariamente transexuais ou homossexuais e se identificarem como héteros.
Pilares da Sexualidade
Para um melhor entendimento, o Dr. Cláudio Picazio, sexólogo, que conseguiu isolar os 4 pilares da sexualidade humana e explicar como que esses pilares se combinam, formando as mais diferentes variações de gênero, identidades, papéis e orientações sexuais.
- Gênero é o seu sexo biológico. É o que o médico vê quando você nasce. Pênis ou vagina. São dois: Homem e Mulher.
- Orientação Sexual tem a ver com desejo, com atração. Com quem você quer ir pra cama? Com alguém do seu sexo? Com alguém do sexo oposto? Tanto faz? São três, respectivamente: Homossexual, Heterossexual e Bissexual.
- Papel Sexual tem a ver com comportamento. Você é mais masculino ou mais feminino? Uma mulher caminhoneira está num papel masculino. Um homem que pinta as unhas está num papel feminino. Note que Papel Sexual não tem nada a ver a com Orientação Sexual – ou seja, um homem efeminado ou uma mulher masculinizada não necessariamente são homossexuais. Assim
como um cara todo machinho não é necessariamente hétero. Papéis sexuais são grande fonte de discriminação, uma vez que é exatamente como a sociedade percebe você. E se esse papel não está em acordo com o que se espera do seu Gênero, o povo se escandaliza.
- Identidade Sexual. E é exatamente ele o responsável pelos travestis e transexuais. Identidade Sexual é como você se percebe. Alguns chamam de sexo cerebral. Na sua cabeça, você acha que é o que? Homem ou Mulher? Um menino hetero típico tem gênero masculino, papel masculino, orientação heterossexual e identidade é masculina. Mas um jovem típico, enrustido, tem gênero masculino, papel masculino, orientação homossexual e uma identidade também masculina. Ele não quer ser mulher, ele só curte outros garotos. A única diferença entre um menino gay e um hetero é sua orientação sexual. E o mesmo vale pras meninas hetero e lésbicas e entre todos estes e os bissexuais.
Pessoas com problemas de identidade de gênero costumam ter expectativas pouco realistas a respeito do sexo oposto. Por essa razão, os especialistas consideram essencial que o tratamento com hormônios seja mantido, por pelo menos um ano, antes da cirurgia de mudança de sexo.
O tratamento hormonal permite desenvolver características sexuais secundárias do novo sexo e mascarar as do sexo original. Não há estudos randomizados para definir as preparações hormonais nem as doses mais adequadas para cada caso.
Nos transexuais homem-para-mulher, a administração de hormônios induz o crescimento das mamas e padrões mais femininos na distribuição de pelos e de gordura. Os estrogênios são os hormônios de escolha, geralmente associados à progesterona ou a outros hormônios que suprimem a produção de testosterona.
Na transição mulher-para-homem, o objetivo é induzir virilização: padrão masculino do contorno muscular e da distribuição de pelos e gordura, além da interrupção das menstruações. O principal hormônio empregado é a testosterona, eventualmente associada à progesterona.
A cirurgia para a transformação do sexo masculino em feminino requer a retirada dos testículos e a construção de uma neovagina, a partir da pele do pênis ou de um retalho de mucosa do intestino grosso.
Na transformação oposta, há necessidade de retirar útero, ovários e mamas. Em casos raros, o clitóris cresce tanto sob a influência da testosterona e adquire o tamanho de um pênis pequeno. Quando esse crescimento é insuficiente, está indicada a metoidioplastia, cirurgia na qual o clitóris é alongado e reconstruído como um neopênis de modo a preservar a ereção e conferir a habilidade de urinar em pé, ou de introduzir próteses rígidas ou infláveis. A bolsa escrotal é reconstruída com os grandes lábios e próteses de testículos.
O tratamento cirúrgico melhora a qualidade de vida da maioria dos que optaram por ele. Quando bem indicado, apenas 1% a 2% confessam arrependimento. Complicações precoces do tratamento hormonal são raras, mas as implicações tardias são mal conhecidas; apenas agora a medicina começa a se interessar pelo tema.
Os requisitos mínimos para que uma pessoa seja considerada transexual
Para ser considerado transexual o indivíduo não deve ter o transtorno como sintoma de um distúrbio mental, tal como esquizofrenia, nem estar associada a qualquer anormalidade intersexual, genética ou do cromossomo sexual e a persistência do transtorno durante um longo período de tempo, que a OMS quantifica como no mínimo de dois anos. Alguns consideram que as mudanças provocadas por tratamento hormonal, sem alterações cirúrgicas, são suficientes para qualificar o uso do termo transexual. Outros, especialmente agentes de saúde, acreditam que existe um conjunto de procedimentos, que engloba psicoterapia, hormonioterapia e cirurgia devem ser seguidos de acordo cada caso e não de forma padronizada para todos. O público em geral muitas vezes define “um/uma transexual” como alguém que fez ou planeja fazer uma cirurgia de “mudança de sexo”.
Nome social e outras questões
Nome social é o nome pelo qual pessoas com transtorno de identidade de gênero preferem ser chamadas cotidianamente, em contraste com o nome oficialmente registrado que não reflete sua identidade de gênero. Transexuais com menos de 18 anos podem alterar o nome social nas chamadas e quaisquer coisas que utilizem seu nome de nascença na escola, desde que tenham a autorização dos pais. Também possuem o direito de usar a fila do gênero-alvo, bem como o banheiro, se assim desejarem.
No Brasil, a Universidade Federal do Amapá foi pioneira na adoção do nome social para seus alunos. Há iniciativas no mesmo sentido em andamento em outros estados, notavelmente Minas Gerais, Amazonas, Piauí, Pará, Goiás e Paraná, segundo a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Essa decisão foi tomada por escolas que evitam quaisquer tipos de preconceito e que prezam pela integridade de seus alunos.
Alguns outros pontos importantes relacionados aos transtornos de identidade de gênero merecem destaque. De certa maneira, estão ligados ao transtorno e influenciam, especialmente em relação à transexualidade, a qualidade de vida e o sentido de realização desses indivíduos.
As atitudes das pessoas em relação à transexualidade é um aspecto importante, tendo sido analisado de maneira complexa em amplo estudo realizado na Suécia. Os resultados obtidos podem ser assim resumidos:
- a grande maioria aceita a possibilidade dos transexuais poderem ter seu sexo reatribuído;
- 63% acreditam que a própria pessoa deva pagar por isso e não o Estado;
- a grande maioria acredita que eles possam se casar e trabalhar com crianças após a mudança;
- 43% apoiam a adoção de crianças por transexuais operados e 41% são contra;
- homens e o grupo com idade mais alta apresentam visão mais restritiva, que os grupos de mulheres e os de idade mais jovem.
A maior visibilidade dos transexuais pode contribuir para a diminuição do preconceito e da discriminação, o cuidado deve centrar no sensacionalismo e na exploração sexual e pornográfica do tema.
Os transexuais estarão expostos à discriminação, chacota e humilhação alimentadas pela ignorância e preconceito, enquanto não for adotada uma postura de legalização, legitimação, reconhecimento e repeito. Cabe também aos profissionais de saúde fomentar e defender essa mudança de atitude e cuidado em relação a esses indivíduos que buscam na Medicina ajuda para resolução de seus problemas.
Em verdade, essa é uma história que está longe do término. A questão transexual é recente dentro da Medicina e mesmo de outras áreas de pesquisa. Só nos últimos 40 anos é que algum conhecimento se estruturou, há muito para ser discutido, revelado, conhecido, e em trabalho integrado.
Esse tema e essa população necessitam de diversas equipes calcadas em princípios sólidos de respeito e atenção à saúde e à cidadania. As questões legais não são específicas desse processo médico, mas a interligação é evidente e necessária, e o distanciamento representaria uma fuga de responsabilidades éticas e sociais.