Sem embromação, vamos direto para as resenhas.

Sábado

1. Alegria da Zona Sul: perdoem-me o trocadilho óbvio, mas que tristeza é este samba.

É o único samba ruim de toda esta safra, mas sua ruindade sozinha já responde por todo o resto. Se eu fosse jurado da LIERJ daria, pelo menos, 3 décimos a menos para a Alegria em relação à segunda pior nota.

Qualquer adjetivação negativa existente em nossa língua ainda é pouco para o que esse samba merece. É ruim, trash, chato e irritante, exatamente o oposto do carioca, que é o enredo da escola. A letra, não satisfeita em não ter rima, teima em não acompanhar a melodia o tempo inteiro, que alias é qualquer coisa.

Para uma escola que já tem graves problemas de harmonia históricos, ainda abrindo a noite, é quase que um pedido para flertar com o perigo.

2. Santa Cruz: essa foi uma boa surpresa. Para uma escola que costuma apresentar sambas tão desempolgantes quanto seus desfiles, até que a comemoração do centenário de Grande Otelo ganhou um sambinha interessante.

A melodia é animadinha e a letra, apesar de não fugir muito do padrão de um samba-enredo biográfico, tem algumas tiradas interessantes.

Mas para o azar da Santa Cruz ela apresenta isso justo em um ano de feroz concorrência, assim continuará na parte de baixo da safra. Ao menos ela não deve ser o “momento lanchonete” (aquela esticada de perna e um lanchinho durante o desfile) que ela costumou ser nos últimos anos.

inocentes-hino83. Inocentes: outro samba muito bom, mas tenho a impressão que foi pessimamente gravado. O samba sobre o grande sambista mangueirense Nelson Sargento (ao lado) foi encomendado para a mesma parceira que ganhou a disputa no ano passado, capitaneada por Claudio Russo.

Um samba muito bom, com melodia mais cadenciada e uma letra boa, mas não espetacular. Sequer é o melhor samba de Russo neste grupo para o ano. Seria samba para ponta de safra em anos normais, mas nesse fica apenas no meio do caminho.

4. Unidos de Padre Miguel: o enredo da UPM sobre a obra de Ariano Suassuana tem enfoque bastante parecido com o enredo do Império Serrano de 2002.

Naquela ocasião Ariano ganhou de Aluízio Machado um samba excelente, o qual até hoje dá gosto de cantar “Sol inclemente, vai além da imaginação”. O samba atual também é muito bom, com melodia puxada para os ritmos nordestinos e uma letra bem feita. Mas não tem o toque de genialidade que o samba do Império tinha, nem chega perto dos quatro sambas que lhe sucederão na avenida.

Chegando aqui, nosso caro leitor deve estar achando este autor um maluco. Eu abro a coluna com pomposos elogios à safra, inclusive classificando quatro sambas como espetaculares, e passo todos os sambas da coluna dizendo “é, está bom mas não no grande nível da safra”.

Afinal, cadê estes sambas espetaculares?

Apresento-lhes agora. Por uma coincidência do sorteio, os quatro grandes sambas desta brilhante safra virão consecutivamente para encerrar os desfiles do acesso, em uma sequência que se promete histórica.

Acho que nem as as supersafras do Especial de 1972 e 1976 ou o Acesso de 1992 tiveram uma sequência de quatro escolas como a que virá em 2015.

5. Império da Tijuca: a Formiga, que vem mordida do rebaixamento injusto, traz um samba espetacular para musicar o enredo sobre Oxum.

De samba afro é dificil vir coisa ruim: esse é o samba mais afro deste ano de todos os grupos e como é bom ver um “oooo” bem colocado em um refrão. Na voz de Pixulé (que já deveria estar no Especial há tempos) fica irresistível.

O único porém do samba é que, como gosta de dizer nosso editor, ele é “macumbado” do início ao fim. A comunidade da escola é forte e deve levar fácil o samba, mas até eu que estou acostumado com o vocabulário yorubá tive dificuldade de entender em alguns pontos e tive que recorrer ao escrito.

2013_661488067-2013110629661.jpg_201311066. Renascer: ano passado eu já falava que Moacyr Luz havia trazido um gingado para o samba da escola que iria dar muito certo na avenida. No início a maioria reclamou e não acreditava, a medida que o tempo passava ganhava adeptos até que realmente o samba foi um sucesso e o que salvou um péssimo desfile plástico e uma não-atuação da direção de harmonia.

Este ano para compor o samba sobre um dos três maiores portelenses da história, Candeia, a dupla Moacyr Luz e Claudio Russo ganhou o reforço de peso da também portelense Tereza Cristina.

O resultado ficou ainda mais espetacular do que o samba do ano passado. O samba é um ótimo resumo sobre a vida do “sambista de verdade” Candeia, puxando um pouco mais para o afro, o que realçou ainda mais esse toque diferente de Moacyr.

Outro samba que tem um “oooo” extremamente bem colocado, logo em seu primeiro verso, fazendo um elo maravilhoso entre o baita refrão principal e a incrível cabeça do samba. Que “Antonio filho da flecha certeira” dê um grande desfile à Renascer, mas antes ela precisa fazer seu dever de casa para não ter que usar seu samba e sua bateria como “bengalas”.

7. Cubango: outra escola que apostou na mesma parceira para seguir a mesma ótima linha de samba do ano passado.

Dessa vez o enredo é sobre a origem do bairro Cubango, que teria surgido a partir de um quilombo e, como sempre, a escola deverá vir bem forte.

O samba é bastante parecido com o do ano passado, inclusive com o refrão do meio terminando com o verso “pro ritual continuar”, em clara referencia ao “o ritual vai começar” do desfile passado. Mas ao meu ver o samba de 2015 é ligeiramente inferior ao seu antecessor.

Outro samba muito bem feito e empolgante e para mostrar que as onomatopeias felizmente voltaram a moda este ano (terá outras no especial) em um “ooo” já para abrir o refrão princpal. Porém a escola tem o pior puxador dessa série de quatro escolas, Preto Joia, que já passou de sua melhor fase.

estacio578. Estácio de Sá: o melhor foi reservado para o final. Samba lindo, singelo e emocionante assinado pelo maior nome da campeã do Especial de 1992: Dominguinhos do Estácio, que volta a puxar a escola com Leandro Santos em uma ótima parceria, pois ambos se completam. Desafio qualquer um a apresentar um samba mais bonito que esse para o ano que vem, de qualquer escola de qualquer grupo de qualquer cidade.

A escola será a única a exaltar os 450 anos da cidade do Rio na Serie A e o enredo se aproveita do fato da escola ter ao mesmo tempo o nome de seu bairro e do fundador da cidade. A cabeça do samba é sensacional: ele é quase que um grito de súplica do tipo “Não se esqueçam de mim, sou Estácio de Sá, estou no Acesso mas meu lugar é no Especial”.

A parte final da terceira estrofe, que já fala mais abertamente do bairro Estácio é uma pedrada para arrepiar a todos que conheçam o local e a escola.

Ela já começa com um “Se você quer matar-me de amor, que seja aqui” em emocionante referência à famosa música da cria do Morro do Estácio, Luis Melodia “Estácio, Holly Estácio” e termina com “não dá mais para segurar, a saudade apertou e agora vou voltar” insinuando que a Estácio voltará ao Especial.

Eu já fecho os olhos e imagino a aguerrida comunidade estaciana gritando esse samba, que toca ao coração mais pesado que exista, na avenida e eu gritando junto, extasiado. Se ela irá voltar ao Especial não sabemos, mas nas rodas de conversa ela e a Império da Tijuca são tratadas como as maiores favoritas.

Após esse longo colóquio, vamos ao meu ranking. O nível é tão alto que o nono colocado disputaria o 4o lugar no Especial de 2015.

1. Estácio de Sá
2. Renascer
3. Cubango
4. Império da Tijuca
5. Império Serrano
6. Tuiuti
7. Inocentes
8. Unidos de Bangu
9. Unidos de Padre Miguel
10. Santa Cruz
11. Em Cima da Hora
12. Curicica
13. Porto da Pedra
14. Caprichosos
15. (muito distante dos outros) Alegria

Imagens: SRZD Carnaval e O Globo

Abaixo, os áudios oficiais desta noite.

One Reply to “A Espetacular Safra da Serie A – Sábado”

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