Para encerrar os quesitos de pista, e já fazendo a transição para os quesitos de segmentos específicos, o assunto de hoje será Bateria. Outro quesito que vem sofrendo críticas porque os julgadores não estariam respeitando características de algumas escolas no julgamento.

Módulo 1

Julgador: Fabiano Rocha

Notas

Viradouro – 9.9
Mangueira -9.8
Mocidade – 9.9
Vila Isabel – 9.9
Salgueiro – 10
Grande Rio – 10
São Clemente – 10
Portela – 10
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.9
Imperatriz – 9.8
Unidos da Tijuca – 10

Mais uma ótima aquisição da Serie A. O julgador foi muito bem e teve até aqui nesta série o melhor caderno de julgamento, com notas muito bem justificadas em problemas nas baterias.

Basicamente,  vejo apenas três notas com alguma possibilidade de polêmica.

A primeira é da Imperatriz Leopoldinense. Como o próprio julgador justificou e eu posso testemunhar, a bateria passou cheia de problemas no módulo 1. Nada se encontrava com nada e os instrumentos se embolaram como se estivessem em uma batedeira. Foram tantos problemas, apontados pelo julgador, que caberia uma punição até maior. Talvez um 9.6.

A outra justificativa que pode render polêmicas, e já rendeu, pois o presidente Chiquinho mesmo sem citar nomes já se mostrou insatisfeito, é a da Mangueira. Fabiano descontou pontos por duas imprecisões técnicas no toque da bateria, além da falta de precisão dos surdos-mor por excesso de cortes nas laterais.

Quanto aos detalhes técnicos, faltam-me conhecimentos, mas estou de acordo que havia uma quantidade excessiva de cortes nas laterais.

Aqui abro espaço para a opinião do leitor do blog e exímio ritmista Eduardo Silva: “Bateria da Mangueira ser cortada por causa dos cortes é um PECADO! Os mor são tocados justamente de maneira livre, o ritmista corta quando o samba pede.”

O Eduardo tem um ótimo conhecimento técnico  do assunto e só essa divergência de opiniões mostra o quão complicado é a tarefa de ser julgador.

Por fim, na Mocidade o desconto se deu por causa de uma batida mais lenta (143bpm) que levou a “acentuação tradicional das levadas das caixas nesse andamento, me fez ter a sensação de quase uma ‘marchinha’ de carnaval”.

Aqui eu senti que a Mocidade foi penalizada por uma característica de sua bateria e por uma atitude louvável de trazer a bateria mais “pra trás”. Além do mais, o samba-enredo já resvalava na marchinha naturalmente, aí fica até difícil da bateria fazer milagre. Podemos então colocar na conta do samba esse 9.9?

Excelente trabalho do julgador.

Módulo 2

Julgador: Leandro Osiris

Notas

Viradouro – 9.7
Mangueira -9.8
Mocidade – 9.8
Vila Isabel – 10
Salgueiro – 9.9
Grande Rio – 10
São Clemente – 10
Portela – 10
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.8
Imperatriz – 9.9
Unidos da Tijuca – 10

Osires, que já carrega consigo polêmicas de outros anos, sempre usa a desculpa de algum problema na “levada rítmica” para descontar as baterias. Foi assim que ele justificou todos os descontos, à exceção de Mangueira e Mocidade. O problema dessa justificativa é que fica difícil entender o que a escola errou exatamente; algumas vezes a própria escola fica insatisfeita com a justificativa.

O julgador em suas observações finais anota que julga essa tal levada de forma comparativa entre as escolas e que o nível a cada ano está mais alto.

Quanto às duas justificativas diferentes, na Mangueira ele reclamou que, durante a bossa, “frases de surdo fazem uma divisão rítmica forçada, atropelando e não mantendo uma perfeita junção com o canto (melodia rítmica do samba-enredo)”. Só por isso descontou dois décimos.

Esse problema apenas na bossa é menor que o problema da bateria da Imperatriz (falta de definição na levada de caixas, embolando a bateria), por exemplo, e não obstante ele tirou apenas 1 décimo da Imperatriz?

Em tempo: ele só viu isso de problema na Imperatriz? Então ela se ajeitou bastante entre os módulos.

Outra justificativa que incomodou bastante foi a da Mocidade. Apenas pelo fato de ela não executar nenhuma bossa no módulo ele descontou a fórceps dois décimos por falta de “versatilidade, criatividade e ousadia”.

Isso demonstra um forte descompasso na medição dos descontos. Primeiro porque tradicionalmente só se tira um 1 décimo por falta de criatividade e ousadia. Segundo porque a falta de ousadia é um problema menor do que problemas na “levada rítmica” e não obstante ele tirou apenas 1 décimo de Salgueiro e Imperatriz por isso.

Única nota diferente de 10 para o Salgueiro no quesito e única nota 10 para a Vila Isabel.

Módulo 3

Julgador: Xandy Figueiredo

Notas

Viradouro – 9.6
Mangueira -9.9
Mocidade – 9.9
Vila Isabel – 9.7
Salgueiro – 10
Grande Rio – 9.8
São Clemente – 10
Portela – 9.8
Beija-Flor – 9.8
União da Ilha – 9.8
Imperatriz – 9.9
Unidos da Tijuca – 10

Xandy sempre foi muito rigoroso e não tem medo de descontar décimos. Esse ano foram apenas três notas dez e metade das notas abaixo de 9.9.

Todos os décimos foram bem justificados com erros e problemas nas batidas. Se eles realmente ocorreram, como alguns já reclamaram, não posso afirmar.

A única coisa que sinto falta em Xandy é de uma penalização maior para o “conjunto da obra” quando a bateria está completamente torta. Falo isso esse ano por causa da nota da Imperatriz. Mantendo sua rigidez característica, o desconto deveria ser muito maior em relação ao que ouvimos no módulo 1.

Sempre há a possibilidade de a bateria ter se acertado no meio da avenida, mas não são esses os relatos repassados por quem estava assistindo aos desfiles próximo do desse módulo.

Única nota diferente de 10 da Beija-Flor e da Grande Rio no quesito.

Mais um bom caderno.

Módulo 4

Julgador: Cláudio Luiz Matheus.

Notas

Viradouro – 9.8
Mangueira -9.9
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.9
Salgueiro – 10
Grande Rio – 10
São Clemente – 10
Portela – 9.9
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.9
Imperatriz – 9.9
Unidos da Tijuca – 10

Matheus descontou pouco e não convenceu em suas justificativas.

Por exemplo, na Ilha ele apenas escreveu duas palavras: “faltou criatividade” – e lá se foi um décimo.

Na Vila ele escreveu mais, mas apenas para reclamar que a bateria não se apresentou no módulo e que “não dá para julgar a criatividade”. Lá se foi outro décimo. Para piorar a situação, o manual do julgador é claríssimo que em bateria o julgador não deve considerar o fato da escola se apresentar ou não no módulo!

Na Portela ele escreveu “após convenção do trecho ‘sou carioca, sou de Madureira’ na retomada volta indecisa, sem firmeza e sem peso na marcação”. Para a Imperatriz, “no trecho ‘vamos a luta pelos direitos’ dá uma antecipada no desenho”.

Para finalizar, a justificativa da Mangueira. “No bis do refrão “Ora yê yê” (2a convenção)  com grau de dificuldade muito grande, valeu pela ousadia, mas faltou precisão”.

O que exatamente houve? Qual naipe faltou com precisão? Onde faltou o peso e a firmeza? Por que faltou criatividade? Como não dá para julgar criatividade sem a bateria parar no módulo? Ainda sim ela passa tocando por ele?

Como sempre, Matheus nunca explica suas justificativas.

Para finalizar o quesito, duas considerações:

1º – Está havendo um excesso de notas de 10 no quesito, tendo três dos quatro jurados dado seis notas 10. Com as três notas máximas do jurado mais rigoroso, Figueiredo, isso dá uma porcentagem de 44% de notas 10 em bateria. Alto, não?

2º – A LIESA poderia pensar com carinho em uma oxigenação maior no quesito. A vinda de Fabiano Rocha e suas ótimas justificativas já ajudaram, mas está na hora de mudar Claudio Luiz Matheus e Leandro Osires, dois julgadores que estão no Grupo Especial há muito tempo.

2 Replies to “Justificando o Injustificável – Bateria”

  1. Bateria da Mangueira ser cortada por causa dos cortes é um PECADO! Os mor são tocados justamente de maneira livre, o ritmista corta quando o samba pede.

    Sobre a Mocidade, concordo com a observação do colunista. Cair de 146 pra 143 talvez seja um pouco (bem pouco) acima do aceitável (geralmente caem 2 pontos), mas falar em batida marcheada? 143 é um ótimo andamento, e a característica da Mocidade é bater daquele jeito. O que é bater marcheado? Pq o jurado não deu a definição? Pareceu muito subjetivo. Seguindo por essa lógica, que a Escola escolha sambas que permitam um andamento de 145 pra cima e abandona logo sua levada de caixa, já que ela é mais difícil de se tocar “mais pra frente”.

    Finalizando, não entendi pq elogiaram tanto o julgador se ele errou tanto (em 3 de 12).

    1. Dudu, algo que me incomodou no julgamento foi a Imperatriz ter sido bem menos despontuada neste quesito do que deveria.

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