Depois de abordar Harmonia, nada mais lógico do que abordar sua quase irmã Evolução, que neste ano o sorteio determinou que fosse o quesito de desempate e foi fundamental para resolver a igualdade entre Grande Rio, Unidos da Tijuca e Portela.
Quesito esse que também foi bastante criticado pelas quatro notas 10 para a Beija-Flor, quando a mesma teve uma evolução bastante errática.
Módulo 1
Julgadora: Paola Novaes
Notas
Viradouro – 9.7
Mangueira -9.8
Mocidade – 9.9
Vila Isabel – 9.8
Salgueiro – 9.9
Grande Rio – 10
São Clemente – 9.9
Portela – 9.8
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.9
Imperatriz – 10
Unidos da Tijuca – 10
Paola Novaes foi uma grata surpresa em sua estréia ano passado. Neste ano ela mais uma vez foi muito bem, atenta aos problemas de velocidade muito alternante das escolas, buracos formados e empolgação abaixo da média. Porém, cometeu uma incoerência mortal: dar 10 para a Beija-Flor no quesito.
Por que incoerência? Porque a jurada foi bastante rigorosa, inclusive tirando décimo da Mocidade apenas por causa da ala das baianas que “chegou com buracos” e que também não deu tantos rodopios característicos.
Também justificou de forma corretíssima a perda de 0,2 décimos da Portela por causa da “apresentação da comissão de frente que parava e perdia fluência. Por conta disso em alguns momentos às alas se embolaram… A partir dos 59′ a escola dispara e acelera seu desfile criando inclusive um claro entre a ala 33 e a alegoria 6”.
Ocorre que o fato relatado na Portela ocorreu da exata mesma forma na Beija-Flor. A comissão de frente evoluiu de forma muito lenta e a escola ficou mais de 40 minutos em passos lentíssimos na avenida. De repente em torno dos 45 minutos a escola disparou e quatro alegorias (ou três setores inteiros, como preferirem) passaram pelo módulo 1 em apenas 15 minutos.
Por que a punição para uma e a não punição para outra? Dois pesos e duas medidas para as mesmas falhas.
Fora isso, que não deixa de ser uma falha grave, bom trabalho da julgadora.
Julgadora: Sonia Gallo
Notas
Viradouro – 9.8
Mangueira -9.8
Mocidade – 9.9
Vila Isabel – 9.8
Salgueiro – 9.9
Grande Rio – 10
São Clemente – 10
Portela – 9.8
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.8
Imperatriz – 9.9
Unidos da Tijuca – 9.8
Para começar, um detalhe que não vi ninguém se atentar até hoje: a julgadora não assinou a folha de notas das escolas de segunda-feira.
Gallo é jurada das antigas. Em suas justificativas se focou mais na “fluência”, “coesão” e “empolgação” e na dança propriamente dita do que realmente na velocidade imprimida pela escola ao longo do cortejo.
Por exemplo: ela despontuou Vila Isabel e Salgueiro pelos momentos dispares de aceleração e lentidão. Porém nenhuma palavra sobre a correria da Portela ao fim do desfile (o 9.8 não foi por isso). Muito menos sobre a disparada da Beija-Flor. A própria aceleração final da Vila passou incólume.
Ao mesmo tempo despontuou por falta de dança, espontaneidade e afins a Viradouro, a Vila, a Portela, a Ilha e a Imperatriz e a Tijuca.
Aliás, é nessa justificativa da Unidos da Tijuca que se centrarão meus questionamentos. Transcrevo-a abaixo.
“A Escola teve momentos de aceleração quase correndo depois da passagem da 03 alegoria – Tic Tac até o final do desfile, prejudicando assim a espontaneidade do componente e a evolução e a progressão da dança, sem criatividade nenhuma”
Para começar eu pergunto que criatividade pode haver no quesito evolução? Creio que junto com harmonia são os únicos quesitos que não há muito espaço para criatividades.
Segundo: se a Tijuca realmente acelerou acentuadamente de forma incisiva tão cedo em seu desfile no módulo 2, fatalmente os reflexos seriam sentidos no módulo 1. Seja na forma de uma aceleração para acompanhar o ritmo no módulo 2, seja na forma de um belo buraco formado por conta da velocidade mais lenta no fim da escola do que em seu meio.
Porém nem um nem outro ocorreu. Alias, a Tijuca foi a única escola neste ano que teve uma evolução impecável no módulo 1. A única diferença percebida foi a natural pequena aceleração que qualquer escola faz quando a comissão e o casal terminam seus desfiles lá na cabeça da escola.
Além disso, por que a dita aceleração da Tijuca foi escolhida como vítima? Eu, no fim da Portela, passei como flecha pelo módulo 2, a ponto de sequer conseguir dar uma olhada de canto de olho nos jurados como sempre faço. E a Beija-Flor? Se ela passou quatro alegorias em 15 minutos no módulo 1, não tem como não ter corrido no módulo 2.
Por fim, questiono a “falta de empolgação da Tijuca”. Sei que nesse ponto o desfile é dinâmico, mas o módulo 2 é perto demais do módulo 1 para se ter uma diferença tão grande. A Tijuca passou no módulo 1 muito mais animada do que oito ou nove escolas, inclusive a Beija-Flor e a Grande Rio, duas das três notas 10 da julgadora – curiosamente, as duas que mais reclamaram dos jurados do ano passado…
Módulo 3
Julgador: José Roberto Lages
Notas
Viradouro – 9.7
Mangueira -9.8
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.8
Salgueiro – 10
Grande Rio – 9.9
São Clemente – 9.6
Portela – 10
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 10
Imperatriz – 10
Unidos da Tijuca – 10
José Roberto Lages foi o único julgador novo deste quesito, substituindo o folclórico e nada saudoso Carlos Pousa. Interessante que esse julgador teve performances completamente diferentes entre o domingo e a segunda-feira.
No domingo ele foi bastante criterioso, soltando apenas um único 10 para o Salgueiro. Todas as suas justificativas foram pertinentes ao quesito e a quantidade das punições para cada escola foi bem medida em relação as justificativas apontadas.
Apenas ressalvo que as vezes ele apontava o que até é um problema, mas que acredito que não deveria levar em consideração no caso específico, o que pode ser relevado pelo fato de ser novato. A experiência deve-o ajudar nesse refinamento.
Estava muito longe do módulo 3, então não posso assegurar o que houve, mas tenho a impressão que o julgador usou nas suas justificativas da Viradouro e da Vila uma parada da escola no começo que na verdade fora ocasionada pelas apresentações de comissão de frente e MS & PB no módulo 4.
Em todas as escolas de domingo, ele justificou com vários argumentos diferentes. Alguns até talvez exagerados como “a ala 23 não estava compacta e apresentou-se com pouca empolgação”. Mas isso também se ajusta com a experiência.
Por outro lado, seu julgamento de segunda-feira é inexplicável. Depois de um forte 9.6 muitíssimo bem justificado contra a São Clemente, ele deu 10 para todas as outras escolas da dia.
Só que nesse cabedal de 10 entraram Portela, Beija-Flor e Ilha, de evoluções extremamente acidentadas. Fica impossível explicar como ele deu esses três dez, ainda mais levando em consideração o julgamento de domingo.
Alias, esses foram os únicos 10 de Ilha e Portela no quesito. Sejamos sinceros: é raríssimo uma escola que começa e termina mal sua evolução mas que a acerte no meio da avenida.
Julgador: Salete Lisboa
Notas
Viradouro – 9.7
Mangueira -10
Mocidade – 10
Vila Isabel – 9.8
Salgueiro – 10
Grande Rio – 10
São Clemente – 10
Portela – 9.9
Beija-Flor – 10
União da Ilha – 9.8
Imperatriz – 10
Unidos da Tijuca – 9.9
Chegou a hora de falar da julgadora “preferida” de muitos, Salete Lisboa, e sua profusão de notas 10 e 9.9.
Para variar esse ano não foi diferente: foram 7 notas máximas em 12, além de 2 notas 9.9. Isso no módulo 4, tradicional em ter problemas gigantescos de evolução.
Alias junto com a profusão de notas 10 dadas por Lages na segunda-feira, isso criou um fenômeno curioso nas notas de evolução. A se guiar apenas por elas, as escolas foram infinitamente melhores na parte final do desfile do que no início, o que é extremamente raro.
Como todo ano ocorre com ela, pouco ou nada há de se reclamar das suas justificativas, mas sim do que ela não escreveu nem descontou.
Para começar, a Portela. A justificativa do 9.9 foi tão somente a falta de empolgação de uma mísera ala em comparação com as demais. A Portela teve vários problemas de evolução no módulo 4, mas falta de empolgação não foi uma delas. E sobre a disparada da escola? Sequer uma virgula.
E quanto à Beija-Flor, sempre ela, quando o assunto é Salete Lisboa? Há vídeos (como o que abre este artigo) e fotos de espectadores circulando na Internet, alem de vários relatos consistentes de jornalistas que estavam no módulo 4 de inúmeros problemas da evolução nilopolitana – resultado da correria desenfreada da escola após os 40 minutos de desfile que resultaram inclusive em um belo buraco em frente ao seu módulo.
O que ela escreveu? Nada, obviamente, já que a nota 10 não precisa ser justificada! Aliás, o que é um “pequeno” buraco para quem deu 9.9 para um buraco de dois setores e meio em 2013 (foto acima)?
E quanto à Vila, que também apertou o passo no final após um irritante para e anda? O 9.8 foi por isso, não foi? Não. O 9.8 foi apenas por falta de “empolgação” e “espontaneidade”.
Então o 9.8 da Ilha, pesado para os padrões “saletianos”, foi por algo mais grave no andamento do cortejo? Também não. Foi por apenas três alas sem “empolgação”.
Então ela despontuou alguma escola por correria ou velocidade muito variante, tão comum no módulo 4? Não.
Concluindo o quesito, parece que cada ano um quesito “dá a louca total” e muito pouco reflete o que foi visto na pista de forma geral. Em 2012 foi bateria, em 2013, comissão de frente, e em 2014, alegorias e adereços. Neste 2015 foi evolução.
Imagens: Arquivo Pessoal do Editor
Bom dia!
Prezado Rafael Rafic:
Exatamente no texto em que eu pensei que iria escrever bastante, nada tenho a acrescentar de sua análise.
Assisti aos desfiles na arquibancada do setor 5 no Domingo e na frisa do setor 10 na Segunda-Feira.
Salete…é melhor não escrever mais nada!
Ainda aguardo Comissão de Frente e Alegorias e Adereços.
Atenciosamente
Fellipe Barroso
Prezado Fellipe,
Evolução foi bem complicado mesmo. Talvez você acabe poupando palavras para comentar sobre comissão de frente que virá no fim da semana que vêm.
Espero que esteja gostando da série.
Abraços,
Rafael Rafic
Há imagens de buracos do Salgueiro em frente os módulos 1 e 4. Porque a implicância com a Beija? Salete também deu 10 pro Salgueiro.
Prezado Gabriel,
Como já afirmei na primeira coluna da série, assisti aos desfiles quase embaixo do módulo 1 e lá não vi nenhum problema com a evolução do Salgueiro.
Também desconheço o buraco informado do módulo 4. Não vi tal imagem nem o colunista do blog que assistiu o desfile mais próximo do módulo 4 nos reportou nada. Por isso que não “peguei no pé” do Salgueiro aqui. O problema do julgamento da escola foi outro lado já abordado aqui: samba-enredo.
Quanto a Beija-Flor era simplesmente impossível dada a velocidade impressa no módulo 1 após 40min a escola não ter problemas de evolução durante toda a pista.
O julgamento de evolução foi um acinte!!
Parabéns, Rafael. Génio cara, isso aí, ainda bem que tem jornalistas com esta visão do Carnaval, to cansado de ver a globo dar 10 a todas escolas e não apontar seus erros.
O Carnaval esta perdendo a cada dia seu brilho, primeiro com a falta de lisura, a comercialização discriminada das escolas, o horário cada vez mais tardio e com a péssima transmissão que acompanhamos da televisão.
Prezado Daniel,
Se fosse só a Globo… A ideia do Ouro de Tolo é sempre sair do óbvio e do elogio barato e ajudar a melhorar a festa. É isso que quero com essa série. Tanto é que ela é focada em julgadores e não em escolas. Olhando os erros do passado não para apenas ficar reclamando, mas para evitar sua repetição no futuro.