O bom Tite

Tite voltou..

O treinador tirou um ano sabático, assim como fez Pep Guardiola quando deixou o Barcelona; e como o espanhol o tempo fez bem a ele [1].

Tite surgiu para o país no começo do século, dirigindo um Grêmio inferior ao Corinthians campeão do mundo e vencendo a Copa do Brasil. Rodou por alguns clubes do Brasil sem ter o mesmo impacto de resultados; até 2008, talvez seu melhor trabalho tenha sido em 2004 salvando o Corinthians do rebaixamento do Brasileiro (um prenúncio enorme da empatia entre clube e time) e se encaminhava para ser um “Novo Celso Roth”, técnico surgido no Sul sem brilho.

Em 2008 voltou a ter um trabalho de destaque ganhando a Copa Sul Americana com o Inter e em 2010 acabou voltando ao Corinthians.

Levou o time ao terceiro lugar do Brasileiro e logo no começo de 2011 passou por aquilo que poderia ser o fim de sua carreira. A eliminação para o Tolima na primeira fase da Libertadores (aqui no Brasil se chama erradamente de pré-Libertadores, mas a competição já está em andamento e a fase de grupos é a segunda).

A Libertadores era um trauma para a equipe mais popular de São Paulo e uma das maiores do Brasil. Único grande de SP sem o título, fez um bom começo de torneio em 2010, ano de seu centenário, com a melhor campanha da fase de grupos e foi eliminado de forma surpreendente por um bagunçado Flamengo. Pensavam que 2011 poderia ser o ano, mas foi sim o pior dos anos.

Qualquer treinador seria demitido nessa situação. Eliminação vexatória que nenhum clube brasileiro repetiu, a Fiel louca de raiva, Ronaldo se aposentando e Roberto Carlos indo embora por medo da violência da torcida. Qualquer um teria ido, se o presidente do clube não fosse Andrés Sanchez que é um cara cheio de defeitos, mas teve essa virtude.

O vexame mudou a história de Tite e a história do Corinthians.

Juntos ganharam tudo que um clube possa sonhar. Brasileiro de 2011, Paulista de 2013, a tão sonhada Libertadores em 2012 batendo o mítico Boca Junior, o Mundial de Clubes, um dos raros ganhos ultimamente por sul-americanos, vencendo o milionário Chelsea. E ainda ganhou a Recopa em 2013.

O popular Corinthians se tornava organizado administrativamente e finalmente ganhava seu estádio. Auto estima elevada, treinador mostrando todo seu potencial e deixando de ser um “Celso Roth”.

Sem exagero poderia dizer que hoje Tite está mais pra Pep que para Celso. O elenco do Corinthians de 2012 era bom, mas nada demais. Nada que alguém olhasse no papel e falasse “Aí está um campeão mundial”. Jogadores como Alessandro, Fabio Santos e Ralf entraram para a história do clube como campeões mundiais e não sei se seriam titulares em algum dos brasileiros que já levantou a taça.

Na verdade, se formos comparar os maiores jogadores da história do Corinthians com de outros times ele perde para quase todos, mas o clube tem um diferencial que Tite sabe usar muito bem.

Sua Fiel torcida.

Não é a maior torcida do Brasil, mas talvez seja mesmo a mais apaixonada, a mais fiel. A do Flamengo é festeira, a do Corinthians é dramática. Talvez os 23 anos sem títulos tenha lhe feito assim e Tite ganhou de vez essa torcida quando foi para o meio dela e abraçou os populares, os humildes quando Paulinho fez o histórico gol ma Libertadores contra o Vasco.

Tite é um “cara maneiro”, que puxa a emoção da torcida abraçando os seus ou dizendo que trocaria seu título mundial pela vida do menino boliviano. Um cara carismático, de declarações engraçadas, do “fala muito” e que entende de futebol. Capaz de armar um ferrolho defensivo quase intransponível, com ataques mortais e de fazer jogadores normais virarem craques se superando.

Foi trocado injustamente pelo enganador Mano Menezes e, mesmo sabendo da troca, manteve seu trabalho até o fim com dignidade. Foi preterido, também injustamente, na escolha do novo técnico da Seleção e continuou com sua dignidade.

Até que voltou em 2015 ao Corinthians.

Muitos podem pensar que ele errou na volta. Por que voltar a um lugar que ganhou tudo? Para manchar o que fez? Tite não pensou assim e pode até ganhar nada esse ano, mas novamente fez o Corinthians a sua feição e prova que é sim o melhor técnico do Brasil.

Faz jogadores normais ou apenas bons como Felipe, Gil e Guerrero se superarem e virarem craques. Ressuscita Emerson Sheik e de novo arma um Corinthians quase imbatível mesmo com um elenco inferior a elencos como de São Paulo, Cruzeiro e Atlético. Mas sem dúvidas é o melhor time do Brasil desse começo de 2015.

Pode ser eliminado do paulista amanhã, mas não há dúvidas que a combinação Tite e Corinthians é explosiva para os adversários e a Fiel pode sonhar com um novo 2012.

Que ao contrário da previsão Maia não foi de fim do mundo para Fiel, mas de conquista do mesmo.

Que pode ser seu de novo.

[N.do.E.: vale lembrar que neste ano sabático Tite fez estágios na Europa com Guardiola e com o técnico do Real Madrid Carlo Ancelotti. PM]

Imagens: Uol, Globoesporte.com e VipComm