Mais um avião caiu…
Quando isso ocorre, é natural que haja insegurança, até para quem está acostumado a andar de avião. Dizem, e acredito que seja verdade, que avião é o veículo mais seguro do mundo e que morre mais gente andando de elevador que de avião.
O problema, amigo, é que quando avião cai morre todo mundo e a morte não é muito bacana.
É braço que fica em cima de uma árvore, cabeça que para no fundo do rio, corpos carbonizados que se misturam e muitas vezes nem exame de DNA dá jeito. Todo mundo vai morrer um dia, não tem jeito. Mas se pudermos escolher uma forma de morrer com certeza ninguém vai escolher essa.
Quer dizer, depois do último problema com aviões eu diria quase ninguém.
Quando era pequeno andava tranquilamente de avião. Andei até em avião da CAM para Curitiba, daquele estilo para-quedista e nunca tive problema nenhum. Nem turbulência passei. Mas desde a queda do avião dos Mamonas Assassinas, combinada com a queda do voo da TAM que faria o trajeto São Paulo x Rio no ano seguinte, passei a ter.
Demorei a voltar a andar de avião, não por medo, mas falta de dinheiro e voltei a andar em 2010, indo de São Paulo a Buenos Aires. Fui apavorado. Não lembrava da pressão que faz no corpo quando o mesmo decola. Mas tanto a ida quanto a volta foram tranquilas. Em 2012, indo e voltando de Curitiba, também. Na volta de Curitiba foram tantas paradas pelo meio do caminho parecendo uma Kombi que faz o trajeto Largo do Bicão x Bananal cobrando o preço do ônibus que me acostumei.
Ainda não gosto de andar de avião, mas não fico mais sem dormir como fiquei na véspera da viagem a Buenos Aires. Encaro com bem mais tranquilidade.
Reconheço a eficiência e agilidade dos aviões. Reconheço a segurança deles, mas, sempre que um avião cai, dá insegurança, não tem jeito. A nossa sorte é que no Brasil, pelo menos por enquanto, não existe terrorismo e então corremos menos riscos. Mas existem voos internacionais e, com Jogos Olímpicos se aproximando, todo cuidado é pouco.
Por falar nisso, o país do caos aéreo e do jeitinho está preparado para as ameaças que o primeiro mundo sofre?
Além de todas as ameaças, agora também temos a ameaça humana. Tempo atrás escrevi aqui sobre depressão e os malefícios que ela traz. Muita gente trata a doença como “frescura”, mas não é. Como falei nessa mesma coluna, depressão é o “câncer da alma” e tem que ser tratada com a seriedade que merece.
Seriedade com a qual parece que a companhia aérea do último acidente não tratou. Vários indícios que o co-piloto tinha problemas surgiram depois da queda e ninguém ficou atento. Essa falta de atenção é comum naqueles que cercam uma tragédia com depressivo.
Mas a última tragédia envolvendo um doente ganha escala mundial. Só que, infelizmente, não vem sendo tratada como deveria.
É um caso muito complicado para se debater. O normal do ser humano é procurar culpados para tudo, parece que isso lhe alivia a alma e o co-piloto é o culpado. Pronto, acabou.
Evidente que ele é culpado. Afinal de contas tirou a vida de muitos. Mas além de culpado ele também é vítima.
Depressão é uma doença muito séria. Eu não sei se já tive, mas acho que cheguei próximo. O dono do blog reconhecidamente diz que teve e quem já passou por isso sabe o desespero que essa doença traz. A pessoa pensa em mais nada, apenas quer se livrar daquela angústia que lhe mata por dentro.
Ninguém quer morrer, ninguém quer se matar. Se alguém chega a esse extremo é porque a coisa está insuportável.
Assim foi que ocorreu com esse suicida que levou tanta gente consigo. Com razão discutem normas de segurança na aviação e modo que pessoas com transtorno não possam mais ser responsáveis por voos.
É o mínimo que tem que ser feito envolvendo a vida de tantas pessoas.
Mas o mundo perde a grande oportunidade de discutir a depressão e por consequência o estilo de vida que temos hoje. A vida feita de pressão e que exige sucesso a todo custo.
Depressivo não é fresco, não é maluco. Precisa de ajuda.
Fica o lamento pela forma que as pessoas que nada tinham a ver com a história morreram. O terror que devem ter passado nos oito minutos de queda livre. Nem gosto de pensar nisso e sempre que penso me dá saudade das minhas viagens de ônibus.
Só nos resta rezar por essas almas e especialmente por essa alma atormentada que em seu desespero acabou ceifando tantas vidas.
E o voo da vida moderna segue em turbulência.
Fotos: Abril e Blog Drauzio Varella