20 anos..

Olhando assim parece uma eternidade. Em vinte anos tudo muda, o mundo muda, mas quando o assunto é emoção ou algo que se tornou histórico parece que foi ontem.

Datas redondas de fatos históricos sempre chamam a atenção, seja esse fato bom ou ruim. E quando esse fato pode ser as duas coisas ao mesmo tempo?

Quando muita gente lembra de algo por 20 anos que lhes fez muito feliz e outra parcela significativa lembra com tristeza? Dizem que a história só é contada pela parte vitoriosa. Vamos subverter isso. Vamos ler a história pela parte derrotada.

O torcedor do Fluminense, com toda razão, comemora 20 anos de um dos momentos mais importantes da sua. O famoso gol de barriga de Renato Gaúcho. Quem não é tricolor e não é Flamengo também comemora já que ou se torce a favor do rubro-negro ou contra. O torcedor do Flamengo finge desdenhar, diz que é ridículo comemorar título carioca tantos anos depois, mesmo reverenciando o gol de Pet no tri contra o Vasco até hoje.

Desdenhar o gol de barriga são burrice e perda de tempo. Analisando os fatos da época vemos o quão importante foi e negar sua importância é negar a própria história do Flamengo – já que um clube e seu amor por ele são construídos na vitória e na derrota.

Evidente que é muito importante. Talvez o campeonato carioca de 1995 tenha sido o último grande estadual da história, em qualquer estado brasileiro. Podem citar o tri do Flamengo em 2001 ou o paulista da embaixadinhas de Edílson em 1999, mas aqueles foram fins históricos de campeonato. Os campeonatos em si não.

O campeonato carioca de 95 já começou histórico com a contratação de Romário. O baixinho era o melhor jogador do mundo da época, equivalente a algum time do Rio contratar o Messi hoje e é a maior contratação que nosso futebol fez.

Para aumentar a importância, Romário foi contratado no ano do centenário do Flamengo, o primeiro dos centenários dos grandes clubes brasileiros e talvez por isso tudo o mais impactante. Junto com Romário vieram Branco, Luxemburgo, William, Mazinho, Jorge Luis e ainda teve a contratação de Edmundo durante o certame para estrear no Brasileiro, fora a revelação Sávio. Sem dúvida era o começo de um grande esquadrão.

O Vasco era tricampeão carioca, no auge do poder e força de Eurico Miranda e queria o tetra inédito. O Botafogo tinha a base do time que meses depois foi campeão brasileiro e tinha como camisa 9 um dos mais carismáticos jogadores de nossa história, Túlio Maravilha..

E tinha o Fluminense.

Era o patinho feio, o time dos renegados, dos desempregados. Eram quase dez anos sem títulos, nenhuma grande estrela, sem patrocínios, salários atrasados, contratou Ailton porque o Flamengo não quis, contratou um aparentemente decadente Renato Gaúcho porque não tinha clube. Assim foi montado o Fluminense que se classificou para o octogonal final com uma campanha pífia.

Romário e Túlio disputavam os holofotes, a artilharia do campeonato e o título de “Rei do Rio”. Romário com o braço imobilizado era dúvida, mas foi escalado contra o Botafogo e decidiu a Taça Guanabara para o rubro-negro com uma entregada de Marcio Teodoro que também ficou famosa. O jogador ficou marcado e ganhou o apelido de “Marcio Teadoro”.

O Flamengo caminhava tranquilo pera o título estadual, seu inevitável título no centenário. Só esqueceu de combinar com o Fluminense.

O tricolor fez uma campanha fraca na Taça Guanabara, mas venceu o Flamengo nela e no octogonal venceu novamente. Romário nunca marcara gols no Fluminense e a equipe de Renato crescia contra tudo e contra todos. Contra a falta de talento da maioria e contra a diretoria e seus salários atrasados com muita garra, disposição, amor a camisa e a profissão.

Assim as duas equipes se encontraram e em 25 de junho de 1995. O estrelado e centenário Flamengo e o “timinho” do Fluminense com o primeiro jogando pelo empate.

O que ocorreu depois foi história no mais espetacular “Fla x Flu” que já existiu e foi escrito dez mil anos antes do nada. Viradas, reviradas, expulsões, inédito gol de Romário e uma barriga.

Um dos poucos gols que tem nome, o “gol de barriga”. Um gol que fez explodir milhões de torcedores e fez outros milhões, como eu, não acreditar no que ocorria. Lembro que ouvi aquele jogo no rádio. Ele acabou e continuei parado do mesmo jeito sem esboçar reação. Sem saber o que fazer.

O timinho venceu, o dos renegados, desempregados, a quarta força foi campeão fez de Renato o eterno rei do Rio. Tinha que ser do Fluminense, aquele campeonato não poderia ter outro campeão.

Posso até dizer que aquele título fez mal aos dois clubes. O Fluminense achou que tinha um timaço e foi pra terceira divisão, Kleber Leite endoidou de vez e o prometido esquadrão ficou apenas no papel, virando piada. Mas quem liga? O que importa é 1995 e sua barriga.

Eu como rubro-negro reverencio o título tricolor de 1995 e tenho orgulho de meu time ter participado daquela final mesmo como coadjuvante. São momentos como aquele que fazem ser bacana esse negócio tantas vezes duvidoso chamando futebol.

O que são a FIFA, a CBF e suas maracutaias perto da barriga de Renato?

Parabéns Fluminense das três cores que traduzem tradição.

Vence o Fluminense.

Vence o futebol.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

One Reply to “Vence o Fluminense”

  1. Só discordo quando diz que o Paulistão de 1999 só teve a final histórica – era o auge dos times do interior daqui. Mas é assunto pra outro dia.

    Vão se passar 100 anos e o gol de barriga continuará sendo lembrado!!

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