Se tem uma coisa que não combina com esporte é a morte.

Tem nada a ver. Esporte é sinônimo de saúde, vida e choca quando ocorre morte com um esportista. Ainda mais quando morre exercendo seu esporte.

Mesmo em esportes perigosos.

Nesse último fim de semana o piloto britânico Justin Wilson morreu pilotando na Fórmula Indy. Foi acertado na cabeça por peça de outro carro. Choca demais ver um jovem morrer dessa forma. Sabemos que o automobilismo tem riscos, mas é como avião. Sempre pensamos que avião não vai cair, falamos das maravilhas da segurança, e caem.

Assim como pilotos morrem correndo por mais que hoje seja seguro pilotar. Não tem como garantir a integridade total de um corredor. Sempre vão morrer pilotos.

De vez em quando a Indy tem mortes, e falar esse “de vez em quando” é cruel e mostra a forma fria que a morte pode ser tratada, mas por mais cruel que seja é verdade. Na Indy é tão corriqueira que lembro até hoje de uma transmissão que o Téo José disse “acabamos de receber a confirmação da morte de Greg Moore, e Gil de Ferran assume a liderança!”. A alta velocidade, os ovais, não sei o que ocorre, mas dos monopostos deve ser a menos segura das categorias. Só lembrar que em Indianápolis Nelson Piquet teve sua carreira encerrada em forma definitiva e numa corrida da Indy Alessandro Zanardi teve um dos acidentes mais terríveis registrados.

A F1 parece mais segura, mas recentemente teve a morte de Jules Bianchi depois de agonizar meses em uma cama. A primeira morte depois de 20 anos, depois da morte de Ayrton Senna.

O esportista cuja morte traumatizou um país.

A gente vê o automobilismo e sabe dos riscos, assim como o boxe. As mortes no boxe hoje são raras, mas ninguém passa impune a tantas pancadas. O efeito pode ser devastador como o ocorrido com Muhammad Ali, que hoje sofre de Mal de Parkinson graças às pancadas que recebeu na cabeça. Os jogadores de futebol americano também costumam sofrer depois da aposentadoria. Curioso que o UFC nunca registrou uma morte.

E quando a morte vem do esporte que mais amamos? Do futebol?

Ninguém vai a uma partida de futebol pensando em morrer. Seja quem vai assistir como quem vai jogar, mas por incrível que pareça é um dos esportes que mais registra óbitos.

Quando pequeno lembro da morte do bom zagueiro Vagner que teve passagem por Guarani e Botafogo. Morreu acertando a cabeça na trave quando jogava pelo Paraná Clube.

Mas as mortes traumatizantes mesmo vieram na década passada.

Primeira a morte do camaronês Marc Vivien Foé na Copa das Confederações de 2003, um pouco depois o jogador húngaro Miklos Fehér quando jogava pelo Benfica.

E no Brasil a do zagueiro Serginho jogando pelo São Caetano.

Dormi cedo naquele dia e acordei de madrugada. Liguei nos canais esportivos para ver quanto tinha sido o jogo do Flamengo e via a todos consternados. Depois descobri o motivo. O zagueiro morrera durante o jogo com o São Paulo.

Como eu disse. Ninguém imagina uma loucura dessas. Como aceitar que um atleta tenha problemas cardíacos? Alguém que devia esbanjar saúde pode morrer exercendo sua profissão na flor da idade?

Serginho partiu e o São Caetano, que parecia se firmar como um grande clube, nunca mais foi o mesmo.

Agora foi a vez de Justin Wilson. O mesmo choque, o mesmo horror visto tantas vezes antes. Esporte é pra ser alegria, entretenimento. Nunca um lugar de mortes.

Discutem cobrir os cockpits dos pilotos de monopostos, mas não sei se realmente melhorará em algo. Quando a fatalidade vem, nada impede.

Mas não custa tentar. As mortes no futebol diminuíram após os clubes ficarem mais rigorosos em seus exames. O jogador Everton Costa, diagnosticado com problemas cardíacos quando jogava no Vasco, teve a oportunidade de encerrar a carreira e tentar a vida estagiando com treinadores.

Estranho dizer “a oportunidade” para um jovem que vivia o auge de sua carreira e teve que encerrá-la, abrir mão de seus sonhos de forma abrupta. Mas aposto que Foé, Feher e Serginho gostariam de ter tido essa chance.

Justin Wilson faleceu e fica um incômodo em todos nós que gostamos de esportes.

Mas a corrida da vida continua.

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