Quem disser que racismo não existe é irresponsável, ainda mais em um campo de futebol onde tudo de bom e ruim ganha ainda maiores proporções.
Desde moleque aprendemos que em jogo de futebol vale tudo. O que discordo, pra mim não vale. Para alguns vale trapacear, ofender adversário, xingar colega. Dizem que o que ocorre no campo acaba no campo.
Torcedor de futebol também se vale disso. Ele aproveita a arquibancada ou cadeira de um estádio para se “soltar”. O cara pacato do dia a dia é capaz dos maiores xingamentos, gritos e impropérios. Natural, é da cultura esportiva. Mas tem gente que aproveita pro mal.
O torcedor que se junta a outros torcedores e se acha mais macho que os demais atacando adversários ou pessoas sozinhas de forma covarde. Não digo como bandidos porque são bandidos. Nada diferencia um bandido do dia a dia daquele que comete infrações com a camisa de um clube.
É se aproveitar do anonimato que a multidão proporciona. No meio da multidão o sujeito aparentemente normal se transforma para bater e matar os outros. O sujeito normal se aproveita do anonimato da arquibancada para cometer atos desprezíveis como, por exemplo, o racismo.
Não foram poucas às vezes em que vimos atos racistas em estádios. Todos desprezíveis, repugnantes. Mais uma vez digo que não vale a máxima “No futebol pode tudo”. Não, não pode. Nenhum branco pode dizer também se o negro foi ofendido ou não. Só o negro pode dar a dimensão de sofrer um ato desses e ser chamado de “branquelo” ou “branco azedo” não se compara a “macaco” ou coisas parecidas. Ocorreu durante séculos uma subjugação de raças e existe sim uma dívida histórica e impagável.
Dito tudo isso, quero entrar na seara da irresponsabilidade.
Como eu disse acima, só o negro sabe como dói o racismo e Cristóvão Borges deu uma declaração se dizendo perseguido e que ouviu coisas horríveis como ser ironizado e chamado de “Mourinho do pelourinho”. Ninguém pode julgá-lo ou tentar ter a dimensão de sua dor.
Mas não pode um veículo sério como a ESPN “comprar” a história de racismo e dar essa conotação a críticas recebidas pelo técnico.
É irresponsável o que faz. A ESPN, tendo como porta voz o lunático e ultrapassado José Trajano, acusa a torcida do Flamengo (parte dela porque não são loucos de dizer a torcida inteira) de praticar racismo contra o técnico.
É incoerente porque nenhuma torcida sofre mais com racismo ou tem mais apelidos pejorativos em relação a conotações sociais e raciais que a do Flamengo. É incoerente quando vemos que quase não existem negros na ESPN. Entre os principais narradores, apresentadores e comentaristas nenhum.
Detalhe. Gosto da emissora. Estou lhe assistindo nesse momento.
Mas é complicado pedir coerência e uma empresa que brilhantemente põe o dedo na ferida em várias frentes, se mostra como um “PSOL” do jornalismo esportivo, mas é bancada pela Disney.
Não cola essa história numa torcida que idolatra treinadores recentes como Andrade e Jayme de Almeida, os dois negros. Não sei a situação financeira de Cristóvão Borges, nem me interessa saber, mas a pecha de coitadinho não cola nele. Jogou em grandes clubes e dirigiu também grandes equipes então sua condição financeira deve ser melhor que a maioria da população. Como eu disse, dirigiu apenas grandes clubes. Mesmo não ganhando nada de relevante como técnico, um coitado não tem esse privilégio.
Sofre muitas críticas da torcida do Flamengo sim. Como sofria de Vasco e Fluminense. Mas porque escala times exageradamente defensivos (melhorou nesse aspecto quarta) e mexe mal. Torcedor quer seu time jogando pra frente, bem e ganhando. Não importa se o técnico é negro, branco, amarelo ou o Pedro Migão.
E, no meio das muitas críticas que vejo Cristóvão receber, nunca vi uma com conotação racista.
Vamos ter cuidado com acusações. O país já vem sendo tomado por uma cultura de ódio que irresponsabilidades como essa só podem piorar.
E vamos botar negros na equipe ESPN. Deem o exemplo.
Twitter – @aloisiovillar
Facebook – Aloisio Villar
Perdão pela discordância Aloisio, mas acho que de dentro das arquibancadas,fica mais claro esse aspecto do racismo, mesmo a ídolos como Andrade (fraco e sortudo como técnico) e Jaime (muito bom pra mim). O trabalho do Cristóvão é muito melhor do que o do Pofexô, que ficou passeando e Atibaia e esperando reforços para começar a trabalhar. A história dos 3 volantes ficou clara o porquê no jogo de ontem. E quando se tem material para isso (Fluminense, por exemplo) ele se mostrou mais propenso a um time mais ofensivo (mas o importante é o equilibrio, como diz Tite). Mexer mal, ninguém falou muito do Pofexô quando ele inventou o “Filho do Bebeto” na semi da Copa do Brasil ano passado. Acho que o Cristóvão precisa de tempo, e o trabalho começa a aparecer. Mas parabéns por iniciar o debate e pelas colunas sempre de brilho e conteúdo. Abraços!