O Dicionário da História Social do Samba, parceria minha com o mestre Nei Lopes, chegou às livrarias. O próprio Nei, no facebook, lançou um aviso aos desavisados. Reproduzo: “O DICIONÁRIO DA HISTÓRIA SOCIAL DO SAMBA é um livro que, claro, fala de escolas de samba e eventualmente de carnaval; mas tem um alcance muito mais amplo: fala de racismo, exclusão, sexualização, violência…”.

É isso mesmo. A ideia do dicionário é entender o samba como um fenômeno cultural que envolve um complexo de saberes e modos de vida que circulam dinamicamente a partir dele: formas de cantar, dançar, comer, beber, lutar, matar, morrer, amar e inventar a vida. Abaixo vai, em primeira mão, a apresentação que Alberto Mussa fez do trabalho.

dicionário capaApresentação

Embora constitua o principal fenômeno cultural brasileiro surgido no século XX, embora seja a forma de arte tida e sentida como definidora da identidade nacional, é ainda relativamente escassa a bibliografia sobre o samba urbano carioca.

Tal carência é tão mais assustadora quando nos damos conta de que Samba deveria ser matéria regular nas nossas escolas, assunto recorrente em nossas academias — por corresponder ao que o país produziu e produz de melhor, e de mais original, entre suas criações lítero-musicais.

Assim, nada poderia ser mais oportuno que a publicação deste Dicionário da história social do samba, que vem não apenas enriquecer nossas bibliotecas, mas também abrir caminhos fundamentais para a expansão desse conhecimento.

É obra que vem assinada por dois grandes bambas: Nei Lopes e Luiz Antonio Simas. Dois eruditos que dispensam apresentação, pelo que têm escrito, pelo seu devotamento intelectual à história do Rio de Janeiro e à cultura brasileira.São homens de livros, que leem, que pesquisam, que polemizam e contrariam as tendências conservadoras do pensamento dominante. Ao mesmo tempo, bebem em fontes puras de saber ancestral. E também podem ostentar o diploma dessa grande universidade que é a Rua. Integram, por princípio ético, por necessidade ontológica, um partido muito alto — o dos que combatem com inteligência e conhecimento o espírito subalterno de certo segmento da sociedade brasileira que nega valor a toda expressão estética de matriz popular.

Fruto dessa grande parceria, o Dicionário que o leitor tem em mãos condensa uma impressionante variedade de temas, de recortes, de abordagens, de associações, sempre analisados por um viés inovador.

Os verbetes tratam dos diversos gêneros de samba, (por exemplo: de breque, chulado, sincopado); de períodos históricos (como Anos Dourados ou República Velha); de conceitos abstratos (como consciência negra ou malandragem); da estrutura das escolas de samba (ala, bateria, comissão de frente etc.); de morros e regiões do Rio de Janeiro; dos instrumentos musicais; de estilos ou modos de dançar; de teatros e casas de espetáculos; da culinária típica; de festas populares — enfim, de tudo que tenha alguma relação com o fascinante mundo do samba, sempre de uma perspectiva crítica, que ultrapassa a mera informação.

O Dicionário da história social do samba, assim, já nasce clássico, já nasce como fonte de consulta obrigatória, indispensável, para pesquisadores de diversas áreas. E como livro de cabeceira, para aqueles que — como Nei Lopes e Luiz Antonio Simas — têm samba na veia.

Alberto Mussa