Perto de um ano após o Brasil ter se dividido em azul e vermelho, o cenário político está ainda mais estraçalhado. Se após a tempestade vem a bonança, parece que a tormenta ainda está longe de acabar. Certos caciques peemedebistas viram que era hora de botar as manguinhas mais de fora e sufocar de vez o governo. O PMDB já mandava muito na parte anterior da era petista, só não era tão nítido aos olhos de todos. Agora é uma capitalização da fragilidade (ou seria debilidade?) cada vez mais latente de Dilma para que o navio seja tomado de uma vez.

Agora, parte de ala tucana vê a chance de ouro para tentar alguma coisa, mesmo não sendo Aécio o homem a assumir. Bem, o partido já se alinha com vários caciques peemedebistas…

Aécio e Ronaldo percorreram as ruas de Osasco e Carapicuíba neste sábadoMichel Temer assumiria numa saída de Dilma, seja forçada ou à francesa. Quem precisa do Aécio estar na cadeira presidencial? É só agir conforme o PMDB sempre fez. É o cenário invertido. Tudo indica que, em 2018, o PSDB é favorito. Basta então adquirir poder e influência num governo do PMDB e, nas próximas eleições, os papeis se invertem e o status quo continua o mesmo.

Enquanto isso, o PT se vê cada vez mais afundado nas denúncias de corrupção, sem credibilidade alguma e sem qualquer poder de reação diante da antipatia do povo, do histórico e, principalmente, das medidas de austeridade e da situação econômica. Sem contar que é refém da própria situação que criou para sustentar seu poder. Foi o que bastou para inflamar quem já era contra e fazer muitos dos que eram simpáticos torcerem o nariz. Hoje, só militantes apoiam a gestão Dilma, com argumentos cada vez mais próximos do surreal ou da tapagem de sol com a peneira.

Parece-me claro que a vitória de 2014, por mais que fosse proveitosa num curto prazo (se é que vocês me entendem…), aniquilou de vez a existência competitiva do partido nos próximos pleitos. Hoje, o PT é quase uma persona non grata em forma de instituição dentro do Brasil.

Entretanto, já se noticia a criação de uma linha de frente com ministros a fim de convencer deputados a evitarem que o projeto de impeachment ande na Câmara. Com a falta de evidências concretas que comprovem um crime de responsabilidade fiscal, a atitude é prudente, mas leva em conta a manutenção do poder, queiram ou não. Com os problemas do país, me parece absurdo que o impeachment esteja na pauta neste momento, seja do Legislativo, ou do Executivo – por mais que seja uma reação neste último caso.

Contudo, a situação se deteriora tanto para Dilma que, em breve, a saída do poder antes de 2018 talvez seja, de fato, o mais vantajoso para o PT. Nesse tipo de luta, talvez, um passo atrás possa significar vários a frente num futuro adiante.

11mai2012--a-advogada-rosa-maria-cardoso-da-cunha-defendeu-dilma-foto-quando-a-presidente-foi-presa-durante-a-ditadura-militar-e-e-integrante-da-com“Ah, mas Dilma é guerreira, passou por tortura e vai lutar até o fim”. Será?

Por mais gosto que alguém tenha pelo que faça, não vejo como sendo saudável trabalhar numa situação como a que ela está. Quase de mãos atadas, entre a cruz e a espada, tendo que lidar com uma crise econômica e uma política, na qual ela é vista pela opinião pública como a principal culpada – mesmo o cenário político sendo muito mais complexo do que isso.

Nos últimos tempos, a aparência de Dilma é cada vez mais abatida. Sua oratória, já complicada, parece cada vez mais inexplicavelmente perdida. Não me surpreenderia que, pensando em questões pessoais, ela releve (ou vá relevar em algum momento) que não vale a pena se sujeitar a isso por mais três anos. Dada a situação do PT, com tudo indicando uma sangria imparável até 2018 – além do poder de influência cada vez maior do PMDB – não me chocaria nem um pouco uma renúncia.

Sem contar que me estranha a atual postura de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, que vai negando processos de impeachment e tendo um pé atrás quando é perguntado sobre o assunto. Quem conhece a figura tem todo o direito de desconfiar que isso não seja prudência ou um ataque de sensatez do “primeiro-ministro brasileiro”. Famoso por sua política de não dar ponto sem nó, longe da vista de todos, e envolvido em denúncias da Lava Jato, não ficaria surpreso que tais atitudes fossem uma manobra muito bem estudada para uma ação mais concreta quando ele se sentisse seguro de que não seria prejudicado.

CAMARA/RENEGOCIACAO DA DIVIDA DOS ESTADOS E MUNICIPIOSForam algumas hipóteses que aventei ultimamente e que acredito que possam ser plausíveis em algum momento, se já não forem – e algumas já são. “Ah, mas tal partido pensa no social, o outro na burguesia, e não no poder”. Sério?

Na última semana, o Supremo Tribunal Federal aprovou a proibição de doações de empresas para campanhas políticas. Todos os escândalos mais recentes de corrupção tem a ver com financiamento de campanhas. Os candidatos que se elegem são, em sua maioria, os que mais gastam. Dadas essas situações, é lógico que a sede de poder é o que move, quase que unicamente, a política brasileira. Basta observar, também, as atuações que se encaixam perfeitamente com a formação de uma boa imagem, no Legislativo ou no Executivo. Basicamente um marketing.

A proibição do financiamento privado não vai estancar nem um pouco a corrupção nesse sentido, já que nada é feito para baixar o custo necessário das campanhas para que se atinja um sucesso na eleição. E o financiamento privado foi aprovado para tentar diminuir as práticas de “caixa dois”…

Com as manobras pró-impeachment de partidos que juravam de pés juntos serem contra tal movimento no começo deste segundo mandato, me parece óbvio que é um erro defender e apoiar partidos, relativizar erros e procurar incoerências em adversários a fim de deixar o seu lado predileto mais “limpo”.

As questões econômicas, que preocupam muito, e as sociais, que se tornaram um buzz desde as últimas eleições, estão longe de ser uma pauta relevante para os partidos que detém a predominância política no país. E vale lembrar que numa crise econômica, a corda arrebenta sempre para as classes mais baixas. Isso em uma gestão de um partido que é incensado como defensor dos pobres. Além disso, os que ascenderam à classe média nesta era do PT devem sofrer e recuar também.

Enquanto a cúpula da política pensa em cargos, o Brasil fica cada vez mais à deriva.

One Reply to “Uma batalha pelo poder que não é para principiantes”

  1. Gustavo,

    Brilhante texto, finalmente um post sensato, imparcial, objetivo e direto.

    Ganhou um leitor para todos os seus textos.

    Abcs

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