O mundo está perplexo..

Por mais que, infelizmente, atentados terroristas sejam situações cada vez mais normais nós não conseguimos nos acostumar com isso. Eu não consigo.

Semana passada via tranquilamente o amistoso entre Itália e Bélgica quando começaram a surgir informações sobre explosões de bombas perto do estádio onde jogavam França e Alemanha. As informações iam aumentando assim como a gravidade da situação e a tranquilidade que eu estava vendo o jogo acabou.

Não sou da geração que viu o “setembro negro” por ocasião dos jogos de Munique em 1972, mas sou da geração do “11 de setembro”. Fui um dos que, perplexo, viu Nova York sucumbir ao terror. Tudo aquilo que vi em Paris semana passada já tinha visto antes. Mas não dá para acostumar.

Não dá para ver com normalidade Paris, que é um dos centros do mundo, naquele estado. Saber que naquele instante pessoas desesperadas mandavam mensagens por redes sociais dizendo que estavam sendo executadas. Curiosa situação em que pensamos que falta Deus no coração de alguns e percebemos que muito desse horror ocorre “em nome de Deus”.

Deus tem várias nomenclaturas, vários significados para as mais diversas pessoas e povos, mas eu dentro do meu jeito agnóstico de ser e de não entender muito de religião entendo que Deus, seja lá qual for seu nome, é amor e dessa forma ver que esse amor é mal interpretado e usado há tantos séculos para impor o genocídio, o horror não dá para entender.

Evidente que sei que não é só religião que envolve a tudo isso. Que há todo um sentimento nacionalista e de briga por poder envolvido. Não tenho o pensamento rasteiro que “eles são safados e nós as vítimas”. Assim como não podemos acusar todos os muçulmanos de terroristas, são mais de um bilhão. Se todos fossem estávamos arruinados. Também sabemos que muitas dessas facções criminosas foram apadrinhadas por governos ocidentais e seus interesses. Que os governos do dito mundo civilizado também fazem guerra, bombardeiam e fazem vítimas inocentes.

Vira um círculo vicioso. Um quer se vingar do outro e isso nunca acaba.

Mas tem uma coisa que sempre que ocorre um horror, um desastre, surge. É como a lama depois de uma tempestade. Chama-se “chorume”.

Alguns dias antes ocorreu o rompimento da barragem em Mariana que atingiu cidades, matou pessoas e o rio doce, o principal rio da região. Uma grande tragédia nacional que tem como maior culpada um antigo orgulho nacional, a companhia Vale, ex Vale do Rio Doce e que foi privatizada pelo PSDB a preço de banana. Evidente que os partidos de esquerda capitalizaram em cima da tragédia.

Assim como os de direita capitalizaram em cima do terrorismo colocando discursos da Dilma e insinuando um apoio dela ao Estado Islâmico, o responsável pelo massacre. Direita e esquerda no Brasil já provaram faz tempo que não se importam com tragédias e sim em como podem ganhar em cima e atacar o adversário.

Mas a maravilhosa internet, esse invento maneiro e divertido que permite que eu escreva a vocês também é a maior fornecedora mundial de chorume. O Brasil foi dividido entre “minha tragédia” e “sua tragédia”. O pessoal que chorava a tragédia de Mariana começou a reclamar de quem chorava por Paris. A internet conseguiu inventar o “recalque trágico” ou o “ciúme trágico”, aquele em que o enciumado não aceita que falem mais de outras tragédias que da sua.

Fora que sempre aparece aquela turma do “Você ta chorando por ( ) Paris ( ) Nova York ( ) Morte de um famoso ( ) Todas as respostas acima enquanto milhares de crianças morrem de fome ou pelo motivo da última tragédia em ( ) Mariana ( ) África ( ) Favela ( ) Nordeste ( ) Todas as respostas acima?”.

Curiosidade. Quem faz isso geralmente está pouco se lixando com a África, favelas ou qualquer ligar mais pobre. Não deixa de dormir ou se divertir por isso. Faz apenas para povoar seu chorume pelo mundo.

Em tudo na vida têm chatos. Por quê em tragédias ou terrorismo não teria? O ser humano, essa invenção tão genial, às vezes esquece seu dom racional e se limita achando que só temos capacidade de sofrer por uma tragédia de cada vez não entendendo que podemos sim nos indignar e sofrer por todos ao mesmo tempo e mesmo que não ocorra isso cada um tem o direito de sofrer ou chorar pelo que quiser.

charlie-sheen-hiv-positive.w_hrOutro dia fiquei chocado com Charlie Sheen se declarando soropositivo, pensei em postar na internet lamentando, mas imaginei alguém reclamando e dizendo “Sabe quantas crianças morrem de AIDS por ano na África?”.

Outro dia estava em um restaurante, jantava próximo ao banheiro e um cliente gritou de dentro do mesmo que não tinha papel. O gerente entregou um rolo de papel higiênico no fim, o cliente reclamou e o gerente respondeu “você sabia que as crianças na África não limpam a bunda?”.

Aliás, você que está lendo essa coluna em seu IPHONE, sabia que as crianças na África ainda usam Windows 95? Não tem vergonha disso?

Sem piadas agora até porque o momento não pede isso e as crianças da África não tem do que rir acho que na hora que o ser humano aprender a respeitar o outro, sejam suas convicções políticas, religiosas, seja a dor que passa, dor que é uma coisa individual e só nós sentimos aquela, a coisa pode melhorar.

Não existem mortos de direita e esquerda, existem mortos. Não existe a minha tragédia ou a sua, existem tragédias.

E querendo ou não o terror sempre nos atinge de alguma forma. Afinal, mesmo sempre querendo nos diferenciar somos de uma raça apenas. A raça humana.

Que Deus, não importa seu nome, olhe por nós.

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