Na era dos reallity shows, mais um surgiu no Brasil. Um tal de “Masterchef Junior”. Confesso que não tenho o mínimo saco para esse tipo de programa – ainda mais de cozinha onde não entendo nada, apenas de comer. Menos ainda um que nem o “original” é: é para crianças.

Mas uma das polêmicas da semana vem daí e temos que abordar.

Uma das participantes é chamada Valentina. É uma criança muito bonita de 12 anos de idade; isso mesmo que eu disse, criança. Mas alguns tarados esqueceram a idade dela, não respeitaram sua condição e sexualizaram a questão tecendo comentários escabrosos em relação à menina.

Meio como uma coluna antiga que escrevi “Brasil nos tempos das cavernas”, misturado com o da semana passada ao Marty McFly. Parece que quanto mais chegamos ao futuro mais retrocedemos.

enem_2015_redacao_prova_caderno-de-provas_trechoEm paralelo a isso teve Enem e, junto com todos os atrasados que fazem a festa da imprensa todos os anos, a grande “vedete” foi a prova de redação – que falava em violência à mulher. Confesso que não sei se foi antes ou aproveitando o tema da redação, mas o twitter lançou uma hastag falando em “primeiro assédio” (que depois gerou um perfil) e, juntando as três situações, temos grandes exemplos de retrocesso e de como parte dos homens se comportam. Como seus antepassados que com paus acertavam a cabeça das fêmeas e lhe arrastavam para as cavernas.

Brincaram com o caso da Valentina (até postagem do programa Pânico, depois acusando hackers, apareceu), brincaram com o tema da redação e com a hastag – tendo o cantor do Ultraje a Rigor, sempre ele, Roger Moreira dizendo que com doze anos uma empregada lhe obrigou a pegar em seus seios e que foi muito bacana seu primeiro assédio.

Depois que inventaram essa história que “a zoeira não tem limites” ficou liberada a falta de respeito.

A zoeira tem limites sim, a partir do momento em que ofende e machuca deve ter um limite. Fazer comentários sexuais para uma menina de doze anos é falta de respeito, brincar com um tema sério como assédio sexual é falta de respeito, ridicularizar um tema tão importante como violência contra mulher é falta de respeito.

Homem não entende essas coisas e nem nos culpamos completamente por isso. Fomos criados em um ambiente machista, sempre ensinados a sermos “pegadores”, “predadores”, termos várias mulheres, a “mostrar o pipi” à visita que acha bonitinho e nunca demonstrar sinal de fraqueza.

Pasmem: muitas vezes mulheres que nos ensinam isso.

Mas não é desculpa. Nós crescemos, estudamos, conhecemos pessoas que nos ensinam e mesmo que isso esteja enraizado em nossa cultura e ensinamento temos que superar e aprender a respeitar o próximo. A maioria consegue. Imagine o inferno que seria viver se todos os homens fossem como os que escrevem besteiras em redes sociais.

Porque tem isso. O anonimato protege e nem sempre o que se escreve ali mostra o que realmente é a pessoa, mas muitas vezes o que é escrito ali é realmente a pessoa desnuda. Aí é perigoso.

A mulher é violentada em seus direitos todos os dias. Sinceramente não sou radical a ponto de condenar o gracejo ou o “fiu fiu”, se não fosse isso não teríamos a canção “Garota de Ipanema”, por exemplo. Mas é horrível sair de casa, com todas as preocupações que a vida traz e ouvir um “ô lá em casa”, “te chupava toda” ou “te fazia todinha”.

É coisa medieval.

enem_vio_2É medieval agarrar menina em balada com a finalidade de forçar o beijo e xingar quando não é correspondido. É crime se esfregar em uma mulher de propósito em condução sem seu consentimento. Já imaginaram como deve ser horrível não poder se vestir como quer para que assim não atraia um tarado e ainda leve a culpa depois com a frase “ela provocou com essa roupa”?

Mulher recebe menos, muitas vezes tem que aturar assédio moral, sexual, tem que cuidar de casa e não pode nem beber uma cervejinha depois do expediente que é tratada como piranha. Aliás, pelo jeito pode mais nem participar de programas infantis.

Está longe ainda o dia em que o respeito, e não a zoeira, não terá limites. Talvez isso ocorra no dia que surja a consciência que mulher não é só aquela que a gente quer pegar. É nossa filha ou irmã que outros querem pegar. A “gostosona” que sofre assédio em ônibus ou a menininha que é alvo de tarados em redes sociais um dia pode ser nossas filhas.

Homem… Mulher…

O ser humano merece respeito.

E que uma redação não precise ensinar algo tão básico.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

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