Após a divulgação do CD oficial, trago hoje a minha avaliação sobre os sambas que compõem este grupo. Ressalto que esta opinião é definitiva e que nenhum momento está se baseando nos critérios do Manual de Julgador. As notas serão entre 9 e 10. Abaixo a avaliação sobre as obras que desfilarão na Marquês de Sapucaí no domingo.

Estácio de Sá

Enredo: “Salve Jorge! O Guerreiro na fé”.

Compositores: Edson Marinho, Júlio Alves, Adilson Alves, Jorge Xavier, André Felix, Jorge Babu e Salviano.

Intérpretes: Dominguinhos do Estácio, Wander Pires e Leandro Santos.

Buscando a permanência no Grupo Especial, o Berço do Samba aposta num samba fácil e um enredo de apelo popular para conquistar seu objetivo. A composição que será levada à Avenida é muito forte e emociona quem é devoto de São Jorge. A letra é bem construída e de fácil entendimento, pecando apenas em algumas rimas mais simples de menos beleza poética. Já a melodia tem bons momentos, como no refrão de meio, mas em boa parte é apenas correta, servindo somente para o que pede o enredo. O samba certamente emocionará muita gente, mas não é daqueles que arrebata e por isso fica um pouco abaixo de outras obras que virão mais a frente. O trio de intérpretes da escola foi muito competente na gravação. Mesmo com o excesso de vozes, deu pra notar o estilo de cada um.

Nota: 9.7

União da Ilha do Governador

Enredo: “Olímpico por natureza: todo mundo se encontra no Rio”.

Compositores: Capitão Barreto, Miguel, Marquinhus do Banjo, Roger Linhares, Paulo Guimarães Dr. Robson, Jamiro Farias, Gugu das Candongas.

Intérprete: Ito Melodia.

A Tricolor mais simpática do Rio de Janeiro busca a volta ao Desfile das Campeãs com um samba que é mais fácil do que alegre. A obra da escola insulana tem letra e melodia que não são das melhores, entretanto, não passam vergonha. A letra é até melhor que a melodia, com um início muito bonito e vai caminhando muito bem até o refrão de meio. Depois, se complica na segunda parte com rimas como “cidade” com “felicidade” e “começar” com “ficar”. Por outro lado, a melodia é mais linear e tem bons momentos. No entanto, falta algo mais explosivo, algo que contagie mais. Isso não acontece nem no refrão principal, o que ocasiona uma sensação de arrastamento da obra. Ito Melodia até tenta conseguir passar um algo a mais à composição e, mesmo não sendo bem sucedido, faz uma bela gravação.

Nota: 9.6

Beija-Flor de Nilópolis

Enredo: “Mineirinho Genial! Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal”.

Compositores: Marcelo Guimarães, Sidney de Pilares, Manolo, Jorginho Moreira, Kirraizinho e Diogo Rosa.

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor.

Na luta pelo bicampeonato, a Deusa da Passarela aposta na biografia do Marquês de Sapucaí para levar o título de novo para a Baixada. O samba da Azul e Branco é uma composição bastante correta na abordagem do enredo e a melodia é mais leve, lembrando outros sambas da trajetória da escola. A letra da composição tem trechos de bastante felicidade como no refrão de meio – meu trecho predileto na obra – e nos versos finais da segunda parte. No entanto, na cabeça da obra, a mesma dá uma viajada por conta da referência à cidade de Nova Lima que está isolada no samba. A melodia é mais leve e deve proporcionar um desfile tranqüilo. Sem dúvida, o ponto de mais força da própria é no refrão principal que chama o desfilante a berrar o samba na avenida. Neguinho da Beija-Flor, apesar da categoria de sempre, tem sua gravação prejudicada por conta da voz um tanto rouca.

Nota: 9.8

Acadêmicos do Grande Rio

Enredo: “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei…”.

Compositores: Márcio das Camisas, Mariano Araújo, Competência, Kaká e Dinho.

Intérprete: Emerson Dias.

Na busca do sonhado título, a Grande Rio cantará a cidade de Santos e suas belezas com um enfoque especial ao esporte e, consequentemente, ao Santos Futebol Clube de Pelé e Neymar. A composição da escola é um caso curioso. Acredito que, tirando os compositores e os componentes da escola, eu seja uma das pouquíssimas pessoas que gosta da obra. O samba é bastante correto e tem uma letra bastante adequada apesar de uma ou outra rima mais pobre por causa do enredo. A melodia é bastante malandreada, adequando-se perfeitamente à voz do intérprete da escola. O ponto de mais beleza da composição é o refrão de meio, que tem uma letra muito bem feita e a melodia é bastante gostosa de ouvir. Ressalto que há problemas na obra, como as rimas de “Felicidade” e “cidade” e “Olé” com “Pelé”, muito por isso, o samba não leva uma nota melhor. Emerson Dias faz a melhor gravação que já ouvi dele e agrega a composição.

Nota: 9.7

Mocidade Independente de Padre Miguel

Enredo: “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou  Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”.

Compositores: Jefinho Rodrigues, Wander Pires, Marquinho Índio, J. Medeiros, Domingos Pressão, Jonas Marques, Paulo Ferraz, Lauro Silva e Lero Pires.

Intérprete: Bruno Ribas.

Disposta a apagar a mancha, a Mocidade vem renovada para o Carnaval de 2016. Tentando não amargar o 20° aniversário de jejum de títulos, a Verde e Branco contará um complicado enredo sobre Miguel de Cervantes. Por conta da complicação do enredo, o samba em sua letra é bastante confuso apesar de bonito. As rimas são bem feitas apesar de um ou outro trocadilho desnecessário e do insólito verso sobre “jatos de felicidade”. Mesmo assim, a beleza da letra é nítida e tem seu ponto alto no refrão de meio que é muito bem construído e tem citações adequadas. O refrão principal também é muito bem feito e merece destaque. A melodia apesar de boas passagens me parece muito fria e com uma tendência grande de arrastamento na avenida. No geral, é uma obra bastante agradável no CD, mas que me preocupa em relação a seu rendimento no desfile. Bruno Ribas faz ótima gravação, valorizando muito a melodia.

Nota: 9.7

Unidos da Tijuca

Enredo: “Semeando Sorriso, a Tijuca festeja o solo sagrado!”.

Compositores: Dudu Nobre, Gusttavo Clarão, Zé Paulo Sierra, Paulo Oliveira e Cláudio Mattos.

Intérprete: Tinga.

Com um enredo patrocinado, a azul e ouro do morro do Borel aposta na força de seu samba para voltar a comemorar um título. De fato, o samba além de forte e muito bonito. Letra e melodia caminham muito bem juntas em praticamente toda obra. A letra é lindíssima, conta com passagens maravilhosas como “Sou matuto sonhador em louvação, lá no meu interior, a viola dá o tom” e “o dia vai raiar e o povo há de cantar feliz”. Entretanto, há passagens complicadas como “Pro país é um exemplo, a tal capital” que faz referência ao fato da cidade de Sorriso ser a capital do agronegócio. Esse é o tipo de verso que tira um pouco da beleza poética da obra. A melodia apesar de muito bem construída e bem concebida para letra está excessivamente acelerada na gravação do CD, fazendo que sua beleza fique um tanto despercebida na gravação. Por isso tudo, a obra que poderia até receber nota 10, recebe uma nota inferior ao seu potencial. Tinga, apesar da correria da bateria faz boa gravação.

Nota: 9.9

Qualquer discordância sobre a análise pode ser feita nos comentários, estarei respondendo a todos.

É isso

Um abraço!

14 Replies to “Os sambas de enredo do Grupo Especial do Rio de Janeiro – Domingo”

  1. Parabens pelo texto Bruno… Mais uma vez Incrível… Acho q minha visão sobre os sambas cariocas e a sua são próximas… A respeito dos sambas do Domingo… São obras incriveis… mas para mim eh o dia onde contem menos sambas de auto nível… Estácio com samba mediano mas gostoso de se ouvir… Ilha com este samba que para mim vai ser o mais complicado na avenida… Grande Rio com uma obra que para mim eh a pior do ano… O Samba da beija-flor me agrada muito… Ae vem Mocidade (que eh o samba que mais me agrada na safra do ano) mas como vc cojita em sua análise há muitas partes que apobresse o samba sendo impossivel a nota 10… E por fim tijuca, Eh um samba lindo mas que particularmente nao eh meu favorito… Minhas notas…
    9.7 Estácio
    9.6 União da Ilha
    9.6 Grande Rio
    9.8 Beija-Flor
    9.8 Mocidade Independente
    9.8 Unidos da Tijuca

    1. Valeu cara! As divergências são naturais, são questão de gosto mesmo. Eu prefiro GR a Ilha, mas entendo o contrário.

      Agradeço o comentário e a leitura!
      Abraços!

  2. Meu prezado Bruno Malta,
    Elenquei 10 pontos de total discordância com essa sua análise. Sendo assim seguem as discordâncias :
    1 – Como eu ia me prolongar muito e ficar muito grande esse meu comentário, resolvi resumir esses 10 pontos de discordância numa só frase, qual seja : ¨estou brincando com você meu parceiro kkkkkkk ¨
    Sua análise, como sempre diga-se de passagem, é bastante oportuna e embasada e nossa única divergência nessas escolas de domingo você sabe muito bem qual é né rs.
    Só passei por aqui para prestigiar o amigo
    Um forte abraço
    Gil Fonseca

    1. HAHAHAHAHAH valeu demais. Nossa discordância já foi muito debatida e está bem explicada no texto.

      Valeu pela leitura e pelo prestígio.

      Abraços!

  3. Nota: 9.7 Estácio
    Nota:9.6 União da Ilha
    Nota:9.6 Grande Rio
    Nota:9.8 Beija-Flor
    nota: 9.8 Mocidade Independente
    Nota: 10- Unidos da Tijuca(Eu vou com a grande maioria,não consigo achar erros,muito menos erros graves neste samba)

    1. O samba da Tijuca tem uma linda melodia e letra é praticamente perfeita, só peca no verso que cita claramente o patrocínio e por isso, não levou meu 10.

      Valeu pela leitura e pelo comentário.
      Abraços!

  4. Concordo com tudo, ótima análise.O samba da Estácio é lindo e gostoso de ouvir e cantar, tomara que ajude na permanência da agremiação. Apesar de uma letra até muito inspirada e o Ito arrasando , para mim o samba da Ilha é o que menos gosto de ouvir, também por causa da falta de explosão ou emoção. Na Beija-Flor achei que seria um samba um pouco mais leve, mas é lindo, apesar de não gostar da parte “Herdeiro verdadeiro de Ciata”. Tia Ciata nasceu 1853. Mocidade possui um bom samba, apesar do enredo confuso. Grade Rio, pode ser até o pior samba do ano em letra, mas eu adoro ouvir esse samba, é um samba explosivo, envolvente e divertido possui o azar de está numa safra equilibrada de sambas para ser o mais criticado.Por último a Unidos da Tijuca, retorna a fazer um bom samba depois de alguns anos, por este motivo acho que algumas pessoas estão superestimando este samba, apesar de ser um bom samba. A referência ao “Dono da Terra” é valida, emocionante e até um pouco confusa por causa da questão índios x agronegócio. Notas=>

    Estácio de Sá => 9,7
    União de Ilha =>9,6
    Beija Flor =>9,7
    Mocidade Indepedente =>9,7
    Grande Rio =>9,7
    Unidos da Tijuca =>9,8

    1. Estou de acordo com todo o seu comentário e não tinha me tocado sobre a questão do Dono da Terra e a relação índios x agronegócio. Muito bem lembrado.

      Agradeço a leitura e o comentário.
      Abraços!

  5. Concordo e discordo de muita coisa. Achei uma supervalorização desnecessária em relação à Grande Rio. Mas enfim.

    Minhas notas:

    Estácio de Sá 9.8
    União da Ilha 9.7
    Beija-Flor 9.8
    Grande Rio 9.6
    Mocidade 9.7
    U.da Tijuca 10

    1. Não houve nenhuma supervalorização no texto sobre o samba da Grande,pois foram mostrados diversos problemas, mas também não houve uma crítica pesada como outros analistas fazem desse bom samba da escola

    2. Olá Anderson.
      Então, sobre o samba da Grande Rio, nem é uma questão de valorizar porque tecnicamente ela é mediana, mas é um samba que me agrada, apesar dos problemas que cito no texto.

      Agradeço a leitura e o comentário.
      Abraços!

      1. E Léo, foi exatamente essa a intenção do comentário sobre o samba da Tricolor de Caxias.
        Abraços!

  6. Finalmente posso relaxar e escutar com mais cuidado as obras que vão embalar o carnaval 2016. Sobre a 1ª noite do Especial RJ acho que todos os sambas estão em um mesmo nível, destoando pouco ou nada. Mas vamos as notas:

    Estácio -> 9.8 (bom samba que contribui e muito pra Estácio fincar o pé no Especial se nada de anormal ou a típica canetada ocorrer)

    Ilha -> 9.7 (por mais que eu goste da primeira parte e o refrão cabeça, a obra como um todo está abaixo do que a escola apresentou em retrospecto)

    Beija-Flor -> 9.8 (é o típico estilo BF de samba: pesado, descritivo perfeito esteticamente, mas eu particularmente não gostei da obra. Chega a arrastar em certas partes. Salva-se o refrão principal)

    Grande Rio -> 9.7 (pensei que seria pior, mas que milagre o Emerson fez hein? A faixa tenta animar mas pra mim falha, porém está longe do samba ser ruim, mas também não é bom)

    Mocidade -> 9.6 (A melodia é ótima, mas a letra é confusa. Eu não tinha me tocado no duplo sentido dos “jatos de felicidade”, mais um ponto no meu conceito sr. Malta hahahaha)

    Tijuca -> 9.9 (Letra boa e melodia no mesmo nível. Gilsinho está em alta e mal posso esperar pra ver como esse samba se sairá na avenida)

    1. Estou de acordo com quase todo comentário, Sr. Renato.
      Só faço a ressalva que você confundiu Gilsinho e Tinga hahahaha.

      Abraços!

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