Nenhuma das sete escolas que desfilaram no Sambódromo do Anhembi na primeira noite dos desfiles das escolas de samba de São Paulo deixou a pista com pinga de campeã. Embora o público tenha reagido com entusiasmo à passagem de todas as agremiações, erros na parte técnica devem custar pontos preciosos.

Em um grupo de frente, pode-se destacar quatro apresentações: Vila Maria, Águia de Ouro, Rosas de Ouro e Gaviões da Fiel. As demais escolas vieram com um padrão estético bastante inferior e também cometeram erros na pista.

Com visual pobre, Pérola Negra canta pouco e faz desfile ruim

A volta da Pérola Negra ao Grupo Especial não foi das melhores. A escola da Vila Madalena até conseguiu empolgar o público que já lotava o Sambódromo, mas passou com um conjunto estético muito abaixo do nível do Grupo Especial. A despeito da criatividade do Carnavalesco Fábio Borges na concepção de alas e alegorias e também na escolha dos materiais,  a maioria de baixo custo, a Jóia Rara veio simples demais para quem quer se manter no grupo.

Para piorar, a escola cantou pouco. Alas inteiras passaram caladas e foram poucas as que demonstraram algum entusiasmo. Além disso, uma evolução confusa prejudicou o bom andamento do desfile. O destaque positivo vai para a bateria e para o enredo, que foi transmitido com clareza nas alas e nos carros.

Grandiosa, Vila Maria tropeça e compromete briga pelo título

O cartão de visitas do desfile da Vila Maria – uma comissão de frente inteligentíssima e um abre-alas magnífico – foi um indicativo que aquela Vila Maria dos bons tempos estava de volta. De fato, o conjunto alegórico e de fantasias foi deslumbrante. Grandiosos, os carros tinham acabamento impecável e um efeito interessantíssimo (foto acima). As fantasias, coloridas, facilitavam a evolução do componente e também agradavam aos olhos.

Curiosamente, justamente na parte plástica a Vila Maria cometeu alguns de seus maiores erros. Especialmente por tornar carros e alas repetitivas, fruto do foco exagerado dado aos piratas e às lendas em torno da cidade de Ilhabela. Algo parecido pode ser dito da bateria. A Cadência da Vila deu um show e levantou o público com ótimas bossas e paradinhas, mas atravessou gravemente em duas oportunidades. Apesar do grande desfile, erros como esses dificultam muito a vida da Vila Mais Famosa na busca pelo sonhado título.

Mais correta da noite, Águia de Ouro emociona e apresenta visual impactante

Se tem alguma escola dessa primeira noite de desfiles que pode brigar pelo título, essa escola é a Águia de Ouro. Se em outros anos a escola deixou pela pista a chance de brigar pelo primeiro lugar com alguns erros bobos, neste ano o que se viu foi uma escola bastante correta tecnicamente, e que, por outro lado, mais uma vez conseguiu levantar o público.

O bom desempenho da bateria de Mestre Juca garantiu uma sustentação firme para o samba. Se não foi o mais cantado pelo público, foi um dos mais abraçados pelos componentes, que transmitiram com clareza a emoção que o enredo pedia. Enredo que, aliás, ficou confuso e não foi muito bem executado nas fantasias, sendo esse o maior e mais grave erro da escola. Por outro lado, as alegorias, com exceção da terceira, que passou sem brilho e sem criatividade, foram um show à parte. Apesar da leitura complicada, as fantasias foram as mais exuberantes da noite. Tanto as alas quanto o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira trajaram figurinos impecáveis e muito bem concebidos. Não foi uma apresentação imbatível pensando no desfile desse sábado, mas foi sem dúvida um espetáculo que credencia a Pompeia a novamente estar entre as primeiras colocadas.

Rosas de Ouro surpreende com desfile alegre e regular

A Rosas de Ouro pode não ter sido a mais empolgante escola a desfilar, mas ainda assim está firme na briga por uma boa colocação. Afastando os boatos que circulavam em torno de seu barracão, a Roseira fez um desfile bonito, alegre e bastante regular nos quesitos de chão, a despeito de um ou outro problema na evolução – principalmente porque o desfile começou muito lento e acelerou demais no fim.

O samba-enredo foi o menos cantado pelo público, mas o canto da escola nem de longe deixou a desejar. Especialmente nos versos finais antes do refrão principal, ele foi muito bem defendido pelos componentes e garantiu uma harmonia eficiente. O excesso de preciosismo com os tripés na comissão de frente atrapalhou uma das melhores coreografias da noite. Os primeiros carros alegóricos, representando a África tribal, causaram um bom impacto e o desfile ficou bastante interessante com uma ruptura na estética a partir dos setores finais. Alas alegres como a dos funkeiros, presidiários e motoqueiros agradaram bastante o público que foi ao delírio com a passagem dos componentes trajados com as camisas dos quatro times grandes de São Paulo. Menos luxuosa que em outros anos, a escola não deve brigar pelo título, mas fez bonito no Anhembi.

Nenê apresenta visual irregular e tropeça nos quesitos de pista

A Nenê de Vila Matilde foi praticamente duas escolas em uma no Anhembi. Se alguns carros como o abre-alas ou o último passaram bonitos, com boa iluminação é ótimo impacto, outros passaram excessivamente simples, apelando para recursos banais como o plotter, além de apresentarem um acabamento falho em muitos casos.

As fantasias também pecaram pela falta de criatividade. Os recursos usados pelo carnavalesco Roberto Szaniecki facilitaram a leitura do público, mas resultaram em uma estética bastante ineficiente, com exceção do ótimo setor sobre o cinema. O samba começou mal, sem empolgar o público, mas aos poucos foi agradando. A Nenê, porém, foi mais uma a pecar em vários momentos com sua evolução. Era o que faltava para colocar a escola de vez como uma das candidatas ao descenso.

Com visual impactante, Gaviões levanta o Anhembi, mas tem desfile comprometido pela evolução

O desfile da Gaviões da Fiel foi curioso. Com exceção do quesito harmonia, a escola não foi a melhor da noite em nada. Mas também não esteve entre as piores em quase nenhum ponto. O desfile da Torcida Que Samba foi uma sucessão de acertos que, em algum momento, sofreu com algum deslize.

As alegorias, por exemplo, foram um show. A estética proposta por Zilkson Reis garantiu um visual bem definido, com representações mais fortes no início e mais claras no final. Apenas o quarto carro, com plotagens muito mal feitas, destoou. O enredo também foi quase perfeito, pecando apenas na falta de contextualização dos setores 2 e 3. A bateria esteve firme, mas um pouquinho antes do recuo, falhou na equalização. A comissão de frente fez a melhor coreografia da noite, mas esteticamente não foi brilhante. Em suma, um desfile tecnicamente muito bom, mas sem “cara” de campeão. Tirando, é claro, as arquibancadas. A Fiel mais uma vez deu um show e provocou o momento de maior vibração da noite no Anhembi.

Mas um quesito colocou tudo a perder. Mais uma vez, a evolução da escola foi bastante deficiente. Com muita dificuldade para manobras os carros, a Gaviões ficou parada por um tempo considerável e abriu dois buracos um pouco antes do recuo da bateria. Ainda mais se tratando do quesito julgado com mais rigor em São Paulo, pode ser o suficiente para fazer a escola despencar na classificação.

Solta, Tatuapé conquista o público, mas samba e bateria decepcionam

A Tatuapé preparou um Carnaval bastante simples do ponto de vista da concepção do enredo. O público que ficou até o final no Anhembi viu a história da Beija-Flor ser contada de maneira trivial, com fantasias de leitura simples representando os enredos mais famosos da escola.

Também com um visual bastante irregular – o extraordinário último carro não parecia fazer parte do mesmo desfile que o carro número 4 -, a Tatuapé teve ótimas fantasias, apesar de simples, e carros que pecaram em alguns momentos pelo excesso de informações. O ponto alto do desfile foi, sem dúvida, o componente. Nenhuma escola se divertiu tanto no Anhembi nessa sexta quanto a Tatuapé. O samba, excelente, ajudava, mas me pareceu realmente uma escola feliz.

Por falar em samba, há um certo paradoxo nesse ponto. Bem cantado na pista e nas arquibancadas, ele passou de maneira decepcionante. O carro de som não teve uma performance das mais brilhantes, com o cavaco entrando de maneira confusa na virada do refrão principal para a primeira parte. Esse problema refletiu em uma harmonia falha em diversos momentos, em especial em algumas das paradinhas (outras, registre-se, foram ótimas). A Bateria Qualidade Especial também não viveu seu melhor dia. Começou muito acelerada e não esteve muito equalizada em sua passagem pelo recuo da bateria.

Foto: UOL

7 Replies to “Primeira noite de desfiles em São Paulo é marcada pelo equilíbrio”

  1. Pérola Negra

    Desfilou mostrando a pouca condição financeira que tem em fazer um carnaval grandioso e digno de Grupo Especial. Para piorar os componentes passaram mornos, com alas sem ritmo e canto, e isso pode pesar nas notas de Harmonia. Comissão de Frente que já ganhou vários Estandartes de Ouro nos últimos anos, foi simples.

    Vila Maria

    A escola veio colorida e com alegorias bem acabadas. Fred você comentou sobre a repetição de piratas no desfile e eu notei a grande incidência de alas com referencias aos povos indígenas. A bateria deu show com bossas e paradinhas e pode ajudar a levar a Vila a ter esperança de título.

    Águia de Ouro

    Sem duvida a Águia vai para as cabeças. Visual lindo nas fantasias e alegorias. A bateria do Mestre Juca novamente deu show e sustentou o bom samba. Também concordo em relação ao enredo: é sobre “Maria” ou não é? Ártemis, Gaia, Mãe-África…uma miscelânea que vai exigir uma boa leitura de sinopse pelos julgadores.

    Rosas de Ouro

    Definitivamente não foi um desfile a ser lembrado pela Rosas. Comissão de Frente com marinheiros e Moari, índio e presidiário. Os jurados também terão que ter um bom entendimento. Alegorias com grandes esculturas, mas concepção simples e acabamento aquém da marca da escola.

    Nenê de Vila Matilde

    De longe esse enredo foi o menos “parecido” com a Águia da zona leste. Por mais boa vontade que a homenageada tenha tido, os componentes não passaram com aquela pegada habitual e isso pode pesar. Alegorias bem resolvidas e fantasias de fácil leitura.

    Gaviões da Fiel

    Com um dos melhores conjuntos alegóricos deste ano a Gaviões levou um enredo um pouco confuso, mas que proporcionou belas e coloridas alegorias e fantasias bem feitas. O problema da evolução e dos buracos pode puxar a escola para baixo na disputa ao título.

    Acadêmicos do Tatuapé

    Entrou cantando e sambando. Mostrando leveza e espontaneidade durante o desfile, a escola da zona leste fez valer a pena pra quem ficou até o fim. Alegorias e fantasias simples, mas funcionais. A Tatuapé pode não vir para brigar ao título, mas irá se manter no Especial em 2017.

  2. Só pretendo ver os desfiles de SP depois, pois acompanho o acesso do RJ. Porém, consegui ver a metade final do desfile de minha escola em SP, a Nenê de Vila Matilde, e, apesar do bom e velho chão do povo da Zona Leste, fiquei preocupado. Com todo o respeito a Cláudia Raia, mas não dá pra ela ser enredo de uma escola como a Nenê (diferente de Marília Pêra e José Wilker, por exemplo). Se for pra cair, que seja como 2009, com um show de canto e garra. Espero que não chegue a esse ponto, mas a diretoria da escola acabou assumindo esse risco com suas escolhas…

    Sobre a Rosas, estranho que em outro site todos afirmaram que foi a pior do dia, com risco até de rebaixamento! Eu hein…

    1. Acho que o colunista desse site não viu o mesmo desfile que a maioria das pessoas viram.No mais,eu achei a Rosas de Ouro a pior da noite.

  3. Meu gosto pessoal:

    1ºVila Maria(A MELHOR DA NOITE)

    2º(Águia de ouro) apesar do enredo meio confuso.

    3ºGaviôes da Fiel(Alegorias surpreendentes,nada mais que isso.

    4ºTatuapè(Falou,falou, misturou tudo, e não contou o enredo com maestria)

    5ºNenê ( A homenageada não tinha muitas histórias de vida pra se contar,encheram muito linguiça pra nada.)

    6ºPérola Negra:fez um desfile paupérrimo,porém não foi o pior da noite,apesar de ser uma escola que subiu.

    7:Rosas de Ouro:A decepção da noite,carros irregulares(Pra não dizer de péssimo gosto)enredo hiper confuso e samba ruim.Pelas redes sociais ,o público achou a Rosas de OUro a pior da noite.

  4. Foi mal esse post hein…. Vila Maria foi a s melhores notas de bateria…. Rosas foi pessimaa … Tatuape brigou pelo titulo….. Aguia de Ouro brigar pelo titulo… Eu estava la na arquibancada setor F e não vi isso postado a cima não. … e nem os Jurados

  5. Você não viu o mesmo desfile do grande público não né?
    Aguia de Ouro não basta o enredo ter sido confuso, o tripé da comissão de frente se apagou no meio da avenida, passou um carro desacoplado e 2 das 3 partes do carro sem iluminação
    Rosas de Ouro fez o pior desfile de sua história, desfile tenebroso

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