Amigos, conforme prometi ontem antes do começo dos desfiles da Série A, aí vai uma análise dos sambas-enredo do segundo dia de apresentações na Sapucaí. Então, antes de assistir aos desfiles, confiram as considerações sobre as obras.

curicica2015dUnião do Parque Curicica – Reviveremos a cultura nordestina mais uma vez no carnaval. E todas as vezes é um prazer imenso poder quase tatear o nordeste dentro da Sapucaí. A cultura da região nos faz sentir muito brasileiros. E a agremiação de Jacarepaguá nos mostrará a região de Pernambuco, especificamente os mamulengos que são marionetes/ fantoches criadas in locuo. O enredo é Corações Mamulengos e não “Corações Mamelucos” como disse o repórter da emissora detentora dos direitos de não transmissão do carnaval. Marcus Ferreira, jovem carnavalesco que já fez carnaval para Estácio, Jacarezinho e Renascer, faz sua estreia à frente da azul, vermelho e branco. O enredo parece prometer. Mas o samba deixa muito a desejar. A gravação é boa, principalmente pela voz de Elba Ramalho ao lado de Ronaldo Yllê. O primeiro refrão é ótimo. Principalmente na entrada da bateria. Mas após o segundo refrão não precisa nem reparar muito: A bateria demonstra uma dificuldade imensa de chegar ao “Tem festança, vem pra dança” sem parecer que travou, deu errado e retornou. O desfile precisa ser empolgante e bonito para poder agitar o componente e não termos perdas significativas em Evolução, pelo menos.

tuiuti2015dParaíso do Tuiuti – Após um desfile surpreendente e contagiante em 2015, dividindo opinião de críticos sobre quem ascenderia ao Grupo Especial, a escola de São Cristóvão adentra o interior do Ceará para contar a história de Mansinho, o boi zebu que Padre Cícero ganhou de presente e ganhou fama de boi milagreiro. Farra do Boi é desenvolvido por Jack Vasconcelos, que também divide seu tempo com a União da Ilha. A expectativa é de ir além de uma quinta colocação como no ano passado. Junior Scapin segue na comissão de frente que deu um show ano passado com canibais que devoravam Hans Staden. O samba foi bem escolhido e diferente do samba do Império da Tijuca, a voz de Daniel Silva se adapta a qualquer tom. Vide o segundo refrão. Ainda não ouvi o samba com a voz de Leandro Santos também, que se desligou da Estácio para permanecer no carro de som da Mangueira e como intérprete oficial da Tuiuti ao lado de Daniel. A composição do samba conta com Claudio Russo, também autor do samba da Renascer. O jogo de palavras é bem interessante na obra como no primeiro verso pós refrão “Ser tão criativo nos sertões da fé”, mas por processo fonológico e melódico o que seria ser tão torna-se sertão. O uso das palavras homi, muié, rareia, aperreia, padinho, causo popular, chuvaréu, sururu, quiprocó (derivado do latim quido pro quod que significa “um pelo outro”, mas que tem como significado , no português brasileiro, de confusão). São os termos do cearense incluídos no samba. Até a lembrança da cidade de Crato se torna um orgulho, pois é uma cidadezinha muito pequena e que pouquíssimos conhecem. Muito boa a escolha do samba para retratar essa história.

inocentes2015cInocentes de Belford Roxo – A agremiação da baixada me surpreende mais uma vez, com mais um samba belíssimo. Com o enredo Cacá Diegues – Retratos de um Brasil em Cena, a escola pode até brigar pelo título da Série A se dependesse unicamente do seu samba. Marcio Puluker assina sozinho o desfile desse ano e Nino do Milênio também permanece no comando do carro de som. A homenagem ao ícone brasileiro do cinema foi mais bem aproveitada pelos compositores que no Império da Tijuca. Inclusive, Cacá produziu o filme Giovanni Improtta, que aparecerá no desfile da agremiação do Morro da Formiga. Além de Deus é Brasileiro, Tieta do Agreste, Orfeu, Xica da Silva, Bye Bye Brasil, atuou também em For All – O Trampolim da Vitória, dentre outros. Considero o samba tão bom, que mesmo com a batida original da bateria grava em CD, dá para encaixar diversos tipos de batidas e bossas no samba. O que pode ocorrer no dia do desfile é o componente não conseguir cantar muito do samba por conter bastante informação. Inclusive houve uma adaptação fonética na composição para melhor adaptação da melodia na parte “Receba o Oscar do samba”. É uma palavra paroxítona que passa a oxítona.

imperioserrano2015Império Serrano – “Silas canta Serrinha” é assinado por Severo Luzardo em seu segundo ano diante do carnaval do Império. O compositor e um dos fundadores da escola ganhará essa homenagem na voz de Pixulé que deixara o Império da Tijuca e ocupa a vaga deixada por Cremilson Silva. Não só contará a história de Silas de Oliveira, mas colocará o próprio homenageado do enredo para contar a história do “Reizinho de Madureira”. Sendo assim, notamos que a proposta do enredo é ótima. O samba é bom, bem cadenciado e bem construído, mas talvez o ponto fraco tenha sido o tom em que foi colocada a letra ou a não adaptação do tom de voz intérprete. No geral, a gravação é boa. A letra que faltou um pouco de raiz imperiana. Lembrar a cada componente que o Império Serrano tem que voltar ao seu lugar vencedor. E no refrão em que diz isso, falta exatamente esse fator. E teve reflexos em seu ensaio técnico.

caprichosos2015dCaprichosos de Pilares – Mais uma homenagem. De Pilares seremos apresentados à vida de um dos maiores ídolos do Flamengo, Petkovic. Junto a isso, a abordagem do sucesso que outros estrangeiros fizeram no Brasil também. Amauri Santos elabora seu quinto carnaval pela Caprichosos. Desta vez, substituindo Leandro Vieira, que foi para a Mangueira. Não vejo um enredo fácil de desenvolver, tendo em vista que não apresenta muita novidade ou informação para cair nas graças do povo. Também pode ter quem considere vago e não veja muita ligação com tal homenagem. Porém, ao menos Petkovic tem grande identificação com o Brasil. Tanto que foi campeão com um dos times que têm maior torcida no Brasil, jogou no Vitória, Atlético–PR, Atlético–MG, etc. Não afirmo que está entre os melhores da Série A por ser um samba de melodia arrastada, mas a letra é bem poética. Não vejo Thiago Britto sendo brilhante em gravações de sambas, mas ao vivo ele dá um show de interpretação. A letra é bem poética e é um ponto forte do samba. Tal qual a melodia, apesar de fraca, é perfeita para a adequação da batida de tamborim da escola. Tanto que no disco nota-se perfeitamente os tamborins, principalmente no segundo refrão.

padremiguel2015bUnidos de Padre Miguel – Após mais um ano batendo na trave, a vermelha e branco de Padre Miguel traz irreverência pura para o desfile de 2016. “O Quinto dos Infernos” é o título do enredo desenvolvido por Edson Pereira, que divide seu tempo com a outra agremiação do bairro, Mocidade. Marcará a volta de Luizinho Andanças ao Rio de Janeiro como intérprete oficial. O tom irônico do samba é bem forte. Tendo como objetivo um resgate bem humorado da exploração do povo brasileiro. Onde eu vejo certo problema – mas pode ser que no desfile traga algo mais de desconstrução que humor propriamente dito. Confesso que a proposta é bem interessante vinda da Unidos de Padre Miguel que teve os dois últimos desfiles sendo aclamados pela criatividade e ousadia. Ainda mais quando se trata de Brasil imperial, enredos já bastante batidos. A letra é forte, recheada de trocadilhos e sem muitos pudores para ir direto ao ponto. A melodia é simples e fica na cabeça de quem ouve. O mais curioso na composição é no verso “A nossa alma ninguém levou” referência ao “assalto” que a nossa terra sofreu dos europeus. Também não é um dos melhores do grupo, incrivelmente, devido aos três últimos sambas terem sido espetaculares.

cubango2015dAcadêmicos do Cubango – Por fim, para encerrar a análise e o segundo dia de desfiles da Série A, Um banho de mar à fantasia. Cid Carvalho faz seu primeiro carnaval pela escola de Niterói que não visitou o a elite das escolas de samba, ainda. Durante as eliminatórias, falava-se do enredo da Cubango. Entendiam que o enredo era confuso por abranger muitas lendas que cercavam rios e mares. Realmente pareceu confuso e isso teve reflexo no samba. Hugo Junior estreia na voz da Cubango já tendo o desafio de fazer deste samba melhor, que também está distante de ser um dos melhores, e provar a confiança que lhe foi dada. Mas a letra, confusa como o enredo, pode prejudicar o andamento da escola, já que o samba é bem frio. E apesar de querer mostrar as lendas dos mares, além de não trazer novidade, parece que focaram apenas em uma lenda Greco-romana, folclore brasileiro e sincretismo afro.

Então, o ranking da Série A ficaria desta maneira:

1º Viradouro
2º Renascer
3º Inocentes de Belford Roxo
4º Tuiuti
5º Alegria da Zona Sul
6º Santa Cruz
7º Império Serrano
8º Unidos de Padre Miguel
9º Rocinha
10º Cubango
11º Caprichosos
12º Império da Tijuca
13ºUnião do Parque Curicica
14º Porto da Pedra