Este editor esteve duas vezes no Qualificatório Final de Ginástica Olímpica, que se realizou entre os dias 16 e 18 de abril na Arena Olímpica do Rio de Janeiro. A Arena irá sediar as competições de ginástica durante a Rio 2016, e o qualificatório foi o evento teste para a instalação.
O qualificatório continuou ontem com a ginástica de trampolim e segue amanhã e sexta com a ginástica rítmica – tenho ingressos para quinta feira. Mas já dá para fazer um balanço da “experiência do consumidor” nestes dois dias em que estive presente.
A estruturação do evento foi diferente para cada dia: o sábado e o domingo foram divididos em quatro sessões – ou seja, para estar o dia todo, seria necessário comprar quatro ingressos, um para cada sessão, sair e retornar à Arena Olímpica. Já na segunda feira, um único ingresso dava direito a assistir toda a programação do dia.
Ou seja, o final de semana já seria para se testar algo que será comum na Rio 2016: o dia de competição dividido em sessões. Outros aspectos também foram testados de maneira bem semelhante ao que veremos na Rio 2016, como o sistema de bares e lanchonetes.
Domingo
O domingo foi o dia da classificação das quatro equipes restantes da disputa por países feminina (entre oito competidores), que se somariam às oito classificadas no Mundial do ano passado para fechar as 12 equipes completas a disputar medalha na Rio 2016. Além disso, ginastas de países que não qualificaram equipes disputariam vagas individuais para a competição respectiva na Rio 2016.
Cada uma das quatro sessões foi dividida com duas equipes completas mais duas rotações de ginastas individuais. Adquiri ingressos para as sessões 2 (às 13 horas) e 3 (às 16:30), de forma antecipada no site do Aquece Rio. O processo foi o mesmo do evento anterior de saltos ornamentais, com a diferença do lugar marcado. R$20 a inteira e R$10 a meia para minhas filhas, por sessão.
Uma vez mais deixei o carro no Via Parque e peguei o BRT para o Parque Olímpico. Entretanto, com o estacionamento do shopping já bem cheio, ficou claro que para a Rio 2016 ao menos nos fins de semana só será uma opção válida se a sessão for ainda pela manhã. Obviamente precisamos aguardar a divulgação do Plano de Mobilidade Definitivo, mas se o leitor virá apenas à tarde estacionar no Via Parque e pegar o BRT ali não parece ser uma opção válida nos finais de semana da competição.
Na saída do BRT há uma grande estrutura metálica que será uma passarela ligando diretamente a saída do Parque Olímpico à estação. Mais uma vez caminhada e adentrei a Arena Olímpica por volta de 13:20, já atrasado.
A revista foi no padrão olímpico, já. Como eu e minhas filhas não tínhamos bolsas, passamos na chamada “fila preferencial”, que se limitava a passar o detector de metais. Para isso tiramos tudo de metal dos bolsos e passamos pelo aparelho.
A entrada da Arena é que estava bastante confusa. Entrava-se por dentro dela, depois se saía e enfim se chegava à área onde os ingressos eram conferidos. Não sei se não conferiram os ingressos de menores de 21 anos das minhas filhas, pois obviamente elas não têm esta idade ou se não conferiram mesmo.
Vale lembrar que a primeira sessão, que tinha a seleção brasileira disputando a vaga olímpica, esgotou. Esgotou em termos, é verdade: um amplo setor das cadeiras no terceiro nível não foi aberto ao público.
Assim que se passava o ingresso, havia uma loja oficial e se podia (no domingo) tirar foto com a tocha olímpica. A loja tinha menos variedade que a virtual no site, mas atendia razoavelmente à demanda. Bonés a preços razoáveis, os mascotes um tanto quanto caros, camisetas um pouco acima do esperado mas nada que se possa classificar como absurdo.
Em compensação, as lanchonetes… Tinha uma variedade razoável, e tinha cerveja à venda. Salgados, sanduíches, alguns snacks, sorvete e açaí. Mas os preços…
Uma Skol a absurdos 15 reais. Repito, leitor: um latão de Skol a 15 reais – quase o que paguei pelo ingresso, 20. Sem comentários. E ainda teve os cachorros quentes meu e da minha filha mais nova, que vieram em “Sistema Lego”: o pão, a salsicha separados e você tinha de montar o sanduíche.
Pelo menos não havia grandes filas nos bares do terceiro nível, onde fiquei. E estavam aceitando cartões Visa, parceiro do COI. Crédito e débito.
Na área de competições, um problema: as pessoas estavam com muita dificuldade de respeitar os lugares marcados nos ingressos. Além disso, a Fila A, onde fiquei, estava com a visão encoberta pela grade de proteção.
Por outro lado, vale elogiar a educação do público, que empurrou o time brasileiro mas em momento nenhum vaiou ou desrespeitou as adversárias. Um problema durante as competições e que se agravaria na segunda feira era a demora na divulgação das notas, causada por problemas de energia segundo a versão oficial mas que, em meu entendimento, também foi exacerbado pela demora por parte dos juízes em estabelecer e concluir seus julgamentos. Isso era perceptível ao público.
Outro fator que merece ser mencionado quanto ao público era o expressivo número de casais de lésbicas, e sem serem em momento algum alvo de reações homofóbicas. Algo a se celebrar.
A saída das pessoas após a sessão foi relativamente rápida, favorecida também pelo tempo razoável entre uma e outra – uma hora e meia. As pessoas que, como nós, tinham entradas para a sessão seguinte não precisaram sair do Parque Olímpico e retornar, não passando novamente pelo processo de revista. Contudo, a espera no sol foi considerável antes de se liberar a entrada para a sessão seguinte.
Às 16:30 a Arena Olímpica estava mais vazia, mas repetiu-se o que havíamos reparado na sessão anterior: o ar condicionado do ginásio não deu vazão. Estive em Flamengo e Orlando Magic no mesmo local e funcionou a contento, então prefiro acreditar que houve a opção por não ligar o equipamento em potência máxima. Mas estava desconfortável – e olha que eu estava de camiseta sem mangas.
Apesar do BRT um pouco cheio na volta, retorno bastante tranquilo. Pelo menos nos fins de semana, levando-se em conta que não teremos todas as arenas do Parque Olímpico encerrando sessões ao mesmo tempo, me parece que o sistema irá comportar de forma razoável o fluxo.
Segunda-Feira
Em princípio, viria também com minhas filhas, mas uma delas teve prova no colégio e acabei vindo sozinho para as finais por aparelhos. Mais uma vez acabei me atrasando e cheguei por volta das 14 horas, quando a final do solo masculino já havia se encerrado.
Mesmo procedimento de entrada, mas com muito menos gente. Talvez uns 25% dos lugares estivessem ocupados, mesmo se levando em conta a presença na primeira parte da programação de estudantes de escolas públicas. Para o dia todo, o preço da entrada foi de 30 reais.
Outra diferença é que nem todas as lanchonetes estavam abertas. Meu setor, que era o 101, estava bastante isolado delas. E paguei inacreditáveis 18 reais em um cheeseburger que de queijo só tinha o cheiro e que veio com o hamburger queimado. Dose.
Um problema grave foi o não respeito aos lugares marcados. Isso ficou claro nas finais das argolas masculinas e das traves femininas, que foram em frente onde eu estava e cujo setor ficou absolutamente lotado nestes dois momentos.
Também contribuiu o fato de atletas e treinadores também estarem ocupando lugares que teoricamente foram vendidos, o que agravou o problema. Tanto que tive oportunidade de tirar fotos com diversos atletas e com o treinador chinês, bastante simpático aliás.
No mais, embora em menor escala os mesmos acertos e erros ocorridos no domingo. A entrada me pareceu bastante tumultuada, houve o problema da demora na divulgação nas notas e os preços nas lanchonetes, e a temperatura da arena também estava bastante desconfortável. Mas são pontos perfeitamente corrigíveis.
Uma curiosidade é que o BRT voltou vazio até o Via Parque Shopping, mesmo sendo um dia de semana no horário do rush. E abaixo o colunista Rafael Rafic analisa a competição em si.
Os Resultados
Para os ginastas, o evento-teste foi o mais importante de todos os esportes, pois foi a única forma de classificação para os Jogos Olímpicos – a não ser para as 8 equipes finalistas e os medalhistas individuais por aparelho no mundial do ano passado.
O prêmio mais disputado, sem dúvidas eram as 4 vagas por equipes restantes, tanto no masculino como no feminino. No masculino tais vagas ficaram com Alemanha, Holanda, Ucrânia e França (lembrando que o Brasil já estava classificado por ser finalista no mundial) enquanto no feminino ficaram com Brasil, Alemanha, França e Bélgica. Ou seja, tanto no masculino como no feminino as vagas ficaram com as quatro melhores equipes não classificadas pelo Mundial.
Destaque para as performances por equipes da Alemanha no masculino e do Brasil no feminino, campeões por equipes. Caso a Alemanha fizesse os 350.6 pontos no mundial, teria sido 5ª colocada. Já o Brasil, se fizesse os impressionantes 226.986 pontos no mundial seria 4º colocado. Alias, essa foi, com alguma folga, a maior pontuação da equipe brasileira feminina em um mundial ou evento-teste desde a ampla revisão do código de pontuação em 2009.
Outro dado interessante para mostrar como a ginástica artística é um clubinho fechado, onde se junta know-how e investimento: dos 12 países que classificaram equipe completa no masculino, nove deles também classificaram equipe completa no feminino: Estados Unidos, Alemanha, França, Japão, China, Brasil, Holanda, Grã-Bretanha e Russia.
Na disputa individual, por causa da coincidência de que todas, a exceção de uma, das medalhistas por aparelho no mundial feminino são de países classificados por equipes, houve um grande número de vagas e só duas atletas que competiram no evento-teste não se classificaram: a azeri Nekrasova e a malaia Abdul Hadi. Com isso, não houve surpresas e todas as ginastas com chances de medalhas aqui no Rio se classificaram, seja individualmente ou por equipes.
Já no masculino, a disputa foi mais forte e uma quantidade maior dos ginastas que competiram aqui ficaram sem vaga. Duas ausências deverão ser notadas nos Jogos Olímpcios: o croata Robert Seligman e o armeno Damian Vaughn que sequer puderam vir para 0 evento-teste por causa dos critérios de classificação. Vaughn tem uma forte prova de argolas, a mesma de Zanetti, e não poderá disputar tal medalha.
Mas o evento-teste de ginástica ainda não acabou. Nesta terça teremos o evento-teste de ginástica de trampolim, que classificará mais 5 ginastas masculinos e outras 5 femininas (Brasil já tem vaga por ser sede e não disputa por equipes.
Já na quinta e na sexta é a vez da ginástica rítimica entrar em ação. Serão mais 3 equipes classificadas além de 7 ginastas no individual classificadas para praticamente fechar a lista de competidores da modalidade na Rio 2016.
Imagens: Arquivo Ouro de Tolo
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Daqui a pouco vai aparecer de novo aquele cara falando “tem que ter foto desse cara, né?” rs
Sobre o texto em si, uma latão de cerveja a 15 pratas me remete a Bienal que fui, onde uma lata pequena de refrigerante custava R$ 8!
Pois é
vc disse que tinha lugar no bloco 101. como vc julga a visao do ginásio? deu para ver a paralela do feminino numa boa?
comprei ginastica para a olimpíada na cat A e meu assento eh no bloco 102. acho q nao vou conseguir ver a paralela direito.. :(
A paralela ficou um pouco distante, mas nada que comprometa a visão.