Entrando nos quesitos específicos, hoje é dia de analisarmos comissão de frente. É um quesito um tanto quanto difícil de analisar, pois o manual diz que é necessário a analisar a “capacidade de impactar positivamente o público”.
E o que é esse impactar? Nos últimos anos ficou implícito que o impactar é “pensar grande”, trazer comissões gigantescas e quem não fizesse isso perdia ponto em “criatividade” ou “falta de impacto”. Mas, dentro dos critérios, é um quesito que tem tido julgamentos coerentes nos últimos anos.
Em Comissão também há a subdivisão das notas: 5 pontos para concepção/indumentária e 5 pontos para apresentação/realização.
Notas
- Estácio – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
- União da Ilha – 9.8 (apresentação/realização 4.8)
- Beija-Flor – 10
- Grande Rio – 10
- Mocidade – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
- Unidos da Tijuca – 10
- Vila Isabel – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Salgueiro – 10
- São Clemente – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Portela – 10
- Imperatriz – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
- Mangueira – 9.9 (concepção/indumentária 4.9)
Neste caderno o maior vilão foi exatamente a “falta de impacto positivo”. Tal foi alegado para Estácio, Vila e São Clemente, mesmo que motivado por problemas diferentes segundo o julgador.
Na Vila, o julgador disse que tal falta de impacto ocorreu por falta de harmonia e sincronismo na apresentação. Já na São Clemente algo parecido: “A comissão apresentou-se com pouca desenvoltura e sem qualquer criatividade…”
Quanto à Estácio ele disse que a coreografia para alguns integrantes se limitou a puxar as cordas fazer o cavalo se movimentar como se fosse uma marionete, não havendo uniformidade na apresentação. Aqui, devo concordar plenamente com o julgador. A Estácio mostrou que só tamanho não resolve. A comissão de frente tinha um tripé gigantesco, com uma cavalo enorme. Todos achavam que aquele cavalo faria muito mais do que fez. Ao fim, a própria mensagem da comissão não ficou clara.
Quanto à falta de harmonia e sincronismo na apresentação ele ainda canetou Mocidade, por funcionamento lentíssimo do tripé (algo que realmente ocorreu em frente ao módulo 1) arrastando a apresentação, e Ilha em relação às cadeiras de roda.
Em relação ainda a concepção, interessante salientar que o ponto retirado da Mangueira foi por falta de adequação das saias dos integrantes da comissão à coreografia apresentada, o que prejudicou a evolução dos componentes. Por fim, na Imperatriz, ele trouxe novamente o argumento usado pelo João Wlamir para a Portela em 2015: excesso de informações na coreografia dificultando a compreensão da proposta.
https://www.youtube.com/watch?v=FS2wBLngaio
Módulo 2
Julgador: Raphael David
Notas
- Estácio – 9.6 (concepção/indumentária 4.7 e apresentação/realização 4.9)
- União da Ilha – 9.8 (concepção/indumentária 4.7)
- Beija-Flor – 10
- Grande Rio – 10
- Mocidade – 9.8 (concepção/indumentária 4.8)
- Unidos da Tijuca – 10
- Vila Isabel – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Salgueiro – 10
- São Clemente – 9.8 (concepção/indumentária 4.8)
- Portela – 9.8 ((concepção/indumentária 4.8)
- Imperatriz – 10
- Mangueira – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
Aqui já temos a primeira “falta de diálogo” entre os julgadores. Se Marcus Nery penalizou mais a apresentação do que a concepção, David fez o exato oposto. Obviamente, na maioria dos pontos, suas justificativas vão por caminhos opostos, além de ter uma justificativa polêmica para a São Clemente. Vamos descrever escola por escola as justificativas.
Estácio: aqui ele concordou com Magalhães ao retirar décimo na concepção estética confusa e pela desproporcionalidade do tripé em relação a comissão, sem qualquer impacto. Além disso retirou ponto por falta de acabamento no tripé e pela coreografia confusa, complexa e sem criatividade.
Ilha: “indumentária com discreta impressão quanto as formas e entrosamento, exploração e distribuição de materiais e cores”, falta de acabamento e repetição de padrões e tons entre o elemento cenográfico entre os integrantes e o tripé, o que retirou “impacto” da comissão”. Aqui uma dúvida: o primeiro e o último motivo não seriam um “bis in idem”, ou seja, penalizar a mesma coisa duas vezes? Sinceramente não consegui distinguir a diferença das justificativas.
Mocidade: “O cavalo com oito patas, ainda que original, não produziu boa impressão quanto à forma em relação ao todo e a máscara do Sancho Pança estava parcialmente solta, junto ao pescoço o que sugeriu que a mesma não seria totalmente adequada à exibição do grupo”. Com todo o respeito à subjetividade do julgador, mas a comissão da Mocidade teve problemas maiores de arrastamento e harmonia em sua apresentação do que uma simples máscara de Sancho Pança que “sugere” inadequação, conforme escreveu o julgador do módulo 1.
Vila: impacto discreto “provavelmente devido a concepção pouco clara de apresentação do enredo” e “realização imperfeita com troca de indumentárias e outros elementos durante a apresentação, com a inserção desses movimentos na estrutura cênica do exibição do grupo, o que prejudicou muito a impressão final”.
Como assim? Ele tirou ponto pela troca de indumentária? Então ele também não daria 10 para a famosa comissão de O Segredo? Ou houve erro durante a troca de roupa? Se foi isso, está muito mal explicado.
São Clemente: falta de acabamento e “a proximidade com a ala ‘abertura’ onde predominavam cores intensas tirou um pouco da expressão plástica, do brilho do grupo que assim pareceu uma extensão da referida ala”. Como a comissão de frente, parece apenas uma extensão de uma ala? Essa ala também faz as coreografias mirabolantes da comissão? Como a comissão pode parecer uma extensão de uma ala que vem após, não seria o contrário? E o quesito comissão de frente também julga a interação da Comissão com o resto da escola? O manual não fala nada sobre isso. Pelo contrário, o único quesito que tinha essa interação como ponto de verificação era o quesito “Conjunto”, que como todos sabem, acabou.
Portela: a representação do mar foi mal resolvida e o elemento cenográfico em seu deslocamento permitia a visualização das rodas, das ferragens e parte das pernas dos componentes, “produzindo uma impressão desfavorável quanto as formas e entrosamento, utilização, exploração e distribuição de materiais e cores”. Senti um gosto de “bis in idem” de novo aqui, mas não é algo tão gritante como na Ilha.
Mangueira: segundo o julgador houve umas falhas na apresentação que resultaram em um quase atropelamento de um componente pelo tripé.
A impressão que me deu ao ler o caderno é que os julgadores dos módulos 1 e 2 viram comissões completamente diferentes….
Módulo 3
Julgador: João Wlamir
Notas
- Estácio – 9.7 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.8)
- União da Ilha – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Beija-Flor – 10
- Grande Rio – 10
- Mocidade – 9.9 (concepção/indumentária 4.9)
- Unidos da Tijuca – 10
- Vila Isabel – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Salgueiro – 10
- São Clemente – 10
- Portela – 10
- Imperatriz – 9.9
- Mangueira – 10
O caderno de Wlamir já dialoga bem com o de Magalhães, já que em vários pontos suas justificativas são parecidas. Na Estácio ele reclamou das soluções fáceis, da falta de sincronia da apresentação por imprecisões coreográficas e do tripé que mais prejudicava do que ajudava o visual.
Já na Ilha, ele também reclamou da movimentação em excesso que resultou em tempos coreográficos diferentes para diferentes componentes em alguns momentos. Na Mocidade ele foi o primeiro a atentar e justificar algo que eu também notei: havia duas ideias dividindo um mesmo lugar (no meu entender foi a prisão dos corruptos e o hasteamento da bandeira em cima do poço de petróleo), provocando um tempo de apresentação muito longo e dividindo impacto.
Na Vila houve “confusão cênica” por deslocamentos confusos e tempos inexatos dos componentes no desenvolvimento (creio que seja, falta de sincronia na coreografia) e na Imperatriz ele também reclama da falta de “leitura cênica conclusiva” e da falta de impacto.
Módulo 4
Julgador: Paulo Cesar Morato
Notas
- Estácio – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- União da Ilha – 9.8 (apresentação/realização 4.8)
- Beija-Flor – 10
- Grande Rio – 10
- Mocidade – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
- Unidos da Tijuca – 9.9 (concepção/indumentária 4.9)
- Vila Isabel – 9.8 (concepção/indumentária 4.9 e apresentação/realização 4.9)
- Salgueiro – 9.9 (apresentação/realização 4.9)
- São Clemente – 10
- Portela – 9.9 (concepção/indumentária 4.9)
- Imperatriz – 9.8 (concepção/indumentária 4.8)
- Mangueira – 9.8 (concepção/indumentária 4.8)
Morato foi um dos julgadores mais rígidos de toda a apuração, dando apenas três notas dez. Interessante notar que um desses 10 foi para a São Clemente, o que fez com que a escola tivesse uma escala de notas bem incomum: dois 9.8 no início do desfile e dois 10 no final.
Apesar da rigidez, boa parte das justificativas já foram abordadas acima, por isso deixarei de escrever aqui sobre Estácio, Ilha, Mocidade e Imperatriz, já que ele repetiu os problemas na Estácio, notou falta de homogeneidade na Ilha, reclamou do tempo de apresentação da Mocidade e da falta de entendimento da Imperatriz. Também quanto ao Salgueiro, há pouco o que acrescentar, já que ele tirou ponto do LED de um dos componentes que não acendeu durante a apresentação, fato bem noticiado já logo após ao desfile.
Interessante é o ponto de vista dele para a Unidos da Tijuca. Morato reclamou que a comissão “não foi a fundo” na proposta, como se a comissão apenas sugerisse algo em determinado sentido, mas que não se concretizou. Por isso teria ficado incompleto. Morato foi o único a tirar décimo da Tijuca. normalmente quando isso ocorre é por algum problema específico na apresentação, não por um problema de concepção como é esse. Ou seja, apenas Morato ficou com tal impressão.
Na Vila, ele apontou a falta de um fio condutor para a narrativa, dois figurantes com indumentária branca em cima de um animal pardo, o que seria incompatível e teria causado desconforto visual e a falta de função da alegoria dentro da construção coreográfica. Na Portela ele reclamou da falta de clareza se a apresentação era composta apenas por uma parte (a de Ulisses) ou de duas, juntando com a parte de Poseidon. Assim, o encadeamento deixou a desejar pois gerou uma quebra de tempo que prejudicou o ritmo, denotando má concepção da coreografia.
Finalizando, na Mangueira ele reclamou das “soluções simples e lineares”, já vistas várias vezes na Sapucaí e da falta de entendimento para o público.
Concluindo o quesito, aponto um ponto positivo e um ponto negativo.
O ponto positivo é que, finalmente parece ter acabado aquele pensamento que a Comissão tem que “pensar grande”, pois o Salgueiro mesmo arriscando em uma comissão totalmente “pé no chão” sem qualquer tripé (apenas alguns carrinhos individuais) não foi penalizado. O único décimo perdido foi por um problema pontual de apresentação no último módulo.
Já o ponto negativo é que, se ano passado os quatro cadernos se completaram e “falaram a mesma língua”, este ano o caderno do módulo 2, Raphael David, ficou sobrando demais em relação aos outros 3, que estes sim tiveram justificativas concordantes.
Eu achava que a Portela não levaria nenhum 10 nesse quesito, visto que o Poseidon estava muito desconectado do restante da comissão. Essa podem colocar na conta do Paulo Barros.
Por via das dúvidas, seria melhor trocar o Raphael David.