Obs: para uma explicação do procedimento das prévias americanas e de alguns termos técnicos usados nesta coluna, leia a coluna explicativa

Na última terça-feira apenas um estado votou, mas esse estado é simplesmente o gigantesco estado de New York e ele foi bastante importante para definir os caminhos a serem tomados por ambos os partidos.

Os favoritos, no caso Hillary Clinton e Donald Trump, tiveram vitórias expressivas e, com isso, provavelmente serão respectivamente os candidatos dos partidos democrata e republicano na eleição deste ano.

150413_hillary_clinton_getty_650x353Partido Democrata

Agora podemos dizer sem medo de errar que, salvo um escândalo político de proporções “lava-jatísticas”, Hillary Clinton será a candidata pelo Partido Democrata. Na batalha por New York, prevaleceu a base política de Clinton, ex-senadora pelo estado, que ganhou por incontestáveis 58% a 42% de Sanders.

Tal resultado, além de retirar qualquer possível retórica de Sanders no sentido de que ele estava performando melhor nos estados historicamente democratas, deu a Clinton 31 delegados “comprometidos” a mais, elevando a diferença para 241, com vistas a aumentar ainda mais semana que vem, quando cinco dos seis estados restantes do nordeste americano votarão. Clinton é favorita em todos eles a exceção do menor deles, Rhode Island.

Interessante ressaltar que todos esses quatro desses cinco estados, além da própria New York, realizam suas prévias na forma de primárias fechadas, justamente o método que no qual Clinton tem se saído melhor até aqui. Como em primárias fechadas os independentes ficam excluídos, Sanders perde a grande força que tem com aqueles não filiados ao Partido Democrata oficialmente.

Sanders mais uma vez falhou em alargar o seu eleitorado para além dos jovens e dos brancos. Em New York nem o apoio do eleitorado feminino, que ele vinha tendo com alguma consistência, ele teve. Segundo a pesquisa da CNN 63% das mulheres votaram em Clinton.

Em relação aos negros e latinos, outro ponto fraco de Sanders até aqui, outra lavada: 75% dos negros e 64% dos latinos votaram em Clinton.

Sanders ainda deverá manter pelo menos até Clinton conseguir fechar os delegados “comprometidos” necessários para garantir a indicação, 2383. Como Clinton tem 1446 até o momento e só existem 1400 ainda pendentes nos estados que não votaram, é bastante possível que Clinton não consiga reunir 2383 delegados comprometidos nem depois do dia 14 de junho, data da última prévia, mesmo que chegue próximo desse número. Mas provavelmente será apenas um “direito de espernear” de Sanders, sem qualquer consequência para evitar a candidatura de Clinton.

Já são 478 superdelegados que demonstraram apoio a Clinton e não há qualquer motivo que os façam mudar de ideia, já que como já comentei acima e em colunas anteriores, quase todos os possíveis argumentos de Sanders foram devidamente bloqueadas por Clinton com essa vitória em New York.

Eu acredito que Sanders mantenha a candidatura até o último dia de grandes prévias, 5 de junho, que inclui a Califórnia ou até o dia 14 de junho, quando a última primária ocorrerá, na capital federal. Logo após “dar o seu recado” no maior tempo possível, Sanders deverá desistir da candidatura. Ele pouco terá a ganhar mantendo uma convenção contestada onde sua derrota será iminente e óbvia.

Contagem parcial de delegados (estimativa):

  • Clinton – 1933 (1446 “comprometidos” e 487 Superdelegados)
  • Sanders – 1245 (1205 “comprometidos” e 40 Superdelegados)

Número mágico: 2383

Fonte: blog The Green Papers para os “comprometidos” e CNN para os “não-comprometidos”

trump2Partido Republicano

Se os democratas começaram a calmamente preparam a aterrisagem do longo voo das primárias consagrando Clinton após o resultado de New York, os republicanos abasteceram a aeronave no ar e o voo continuará tenso até a Califórnia, última prévia também no dia 5 de junho.

Trump conquistou a esperada vitória tranquila em seu estado natal de forma retumbante: não só pela primeira vez ele passou da marca dos 5o% dos votos como atingiu 60%. Kasich veio em um distante segundo lugar com 25% e Cruz ficou em terceiro com 14,5%.

O resultado de Trump foi tão impressionante que ele conseguiu mais de 50% em 23 dos 27 distritos do estado, o que é impressionante e assim carregou 90 delegados dos 95 delegados do estado, enquanto Kasich ficou com os outros 5. Cruz, que há semanas diz que luta contra os “valores de New York” personificados em Trump, obviamente nada esperava do estado e nada levou mesmo.

O resultado foi bom para Trump duplamente: ao mesmo tempo que ele deixa para trás 2 semanas de noticiario negativo sobre sua candidatura, ele voltou a ajeitar a matemática rumo a possiblidade de atingir os 1237 delegados, matemática essa que ficou bastante prejudicada com as vitórias de Cruz em Utah e Wisconsin e a convenção estadual de Colorado, que definiu todos os 34 delegados do estado para Cruz sem nenhuma consulta popular.

Alias, um adendo rápido para explicar essa história de Colorado que deve voltar a tona quando da convenção republicana no fim de junho. O partido republicano em Colorado decidiu não fazer nenhuma consulta popular, com o argumento de poupar dinheiro, e definiu que todos os seus delegados seriam escolhidos diretamente na convenção estadual, como era feito há 60 anos atrás antes da existência das eleições prévias.

O resultado não poderia ser mais desastroso. O comitê de Trump foi todo bagunçado para a convenção e o próprio partido estadual não soube organizar a escolha. Então tivemos candidato a delegado sendo esquecido na cédula, cédula sem espaço para votar em delegado, entre outros. O mais interessante é que todos os problemas só ocorreram com candidatos a delegados que apoiavam Trump…

O resultado é que Cruz ganhou os 31 delegados disponíveis na convenção e Trump estuda entrar com recurso na convenção nacional para impugnar a eleição dos delegados de Colorado e retirar o direito a voto deles. Caso isso ocorra, a quantidade de delegados total cairia para 2441 e a quantidade necessária para ser escolhido também cairia para 1221. Esperem muitos “fogos de artifício” em torno desse problema nos dias preparatórios para a convenção.

Voltando a matemática dos delegados, com o resultado de New York, o que já era amplamente aceito pela prática se tornou uma verdade matemática:  o único candidato ainda com chances de atingir os 1237 delegados necessários é Donald Trump.

Com o ótimo resultado de New York, Trump chegou a 847 delegados. Ou seja ele precisa conseguir 390 dos 700 delegados ainda disponíveis, ou 55,7% deles. Ele ainda deverá ser ajudado com ótimos resultados nas prévias nordestinas da semana que vem, nos mesmos 5 estados em que haverão prévias democratas, na qual ele deve ir bem e pode conseguir 100 delegados.

Ainda sim, a matemática mesmo não sendo tão apertada por causa dos estados “vencedor-leva-tudo” que Trump deve ganhar, ela também não é tranquila. Desses 700 delegados, 172 são da Califórnia, onde há 53 distritos e a fórmula de distribuição é “vencedor-leva-tudo por distrito”. Como as pesquisas até apontam que o eleitorado da Califórnia está bem dividido entre os 3 candidatos, é difícil que Trump consiga 100 delegados do estado.

Por outro lado, Trump é favorito em 8 dos 15 estados restantes, justamente os mais recheados de delegados. A probabilidade leva Trump muito próximo do número mágico de 1237, de forma que todos terão que prender a respiração até o fechamento das urnas da Califórnia para saber se Trump conseguirá passar dessa marca ou não.

Obs: mesmo que Trump não passe mas fique perto de forma milimétrica, há ainda 28 delegados eleitos sem comprometimento, dentre os quais Trump poderá tentar cortejar os votos faltantes para conseguir mais de 50% dos delegados ainda na 1ª votação.

Contagem Parcial de Delegados (estimativa):

  • Trump – 847
  • Cruz – 559
  • Rubio – 173 (desistiu)
  • Kasich – 149

Número Mágico: 1237

Fonte: blog The Green Papers

Próximas Prévias

Partido Democrata

Dia 26/04 – Connecticut (55 delegados, proporcional)

Delaware (21 delegados, proporcional)

Maryland (95 delegados, proporcional)

Pennsylvania (189 delegados, proporcional)

Rhode Island (24 delegados, proporcional)

FInalmente as prévias chegam fortemente em terras democratas. Após New York, outros cinco estados do nordeste votarão em conjunto. Desses, quatro são fortemente democratas e só a Pennsylvania é considerado um “campo-de-batalha”. Ainda sim, apesar de todas as margens terem sido pequenas, os democratas não sabem o que é perder eleição presidencial na Pennsylvania desde 1988 na reeleição de Reagan.

São estados de população diversa e, especialmente em Maryland, negros. Os grandes prêmios são Pennsylvania e Maryland, nos quais Clinton lidera facilmente todas as pesquisas. Provavelmente será a pá de cal nos sonhadores que ainda acham possível Sanders virar o jogo.


Partido Republicano

Dia 26/04 – Connecticut (28 delegados, “winner-take-all” por distritos e proporcional para os delegados estaduais”at large”, mas se alguém conseguir 50% leva todos os “at-large”)

Delaware (16 delegados, “winner-take-all”)

Maryland (38 delegados, “winner-take-all” por distrito)

Pennsylvania (68 delegados, “winner-take-all” por distrito)

Rhode Island (24 delegados, proporcional)

Para os republicanos é quase certo que Trump será o grande vencedor desses cinco estados. Resta saber o tamanho da vitória e, principalmente, quantos delegados Trump conseguirá. Só depois de saber a quantidade de delegados para Trump é que se poderá fazer melhores prognósticos matemáticos sobre as chances de Trump chegar a 1237 delegados. Para Cruz e Kasich, a estratégia continua sendo a mesma e não mudará até o fim: tirar delegados de Trump de qualquer jeito para impedi-lo de chegar a 1237.

Na Pennsylvania há um detalhe sórdido: os 54 delegados dos distritos são eleitos por eleição direta e na campanha eles costumam dizer quais são os seus candidatos preferidos. Porém pelas regras do estado eles são eleitos de forma “não-comprometida” ou seja, mesmo que na primária eles tenham dito que apoiaram o candidato X, eles podem votar no candidato Y no momento da primeira votação na convenção.

Para Trump a meta é conseguir 100 delegados. Caso ele consiga, ele estará em boa marcha para chegar perto dos 1237. Menos de 90 delegados e a situação pode complicar. A meta é perfeitamente atingível com os bons números de Trump nos estados e as regras de “winner-take-all”.