Sim, sei que o título é parecido com o de uma coluna recente minha, mas sou obrigado a repetir e a culpa não é minha.
Não posso ficar um mês sem escrever colunas, que esse país vira uma zona de vez. Parece uma novela do Walcyr Carrasco com direito a tortas na cara.
O impeachment foi aprovado como todos esperavam até porque sendo ou não golpe, dependendo do gosto do freguês, a Dilma não caiu devido a pedaladas fiscais, ninguém liga para essas pedaladas fiscais. Caiu porque a economia vai mal, o bolso do brasileiro anda vazio e urubus como Aécio Neves e José Serra aproveitaram a situação para criar uma comoção.
Caiu sim, vamos falar o português claro, evidentemente que se na câmara ela não conseguiu mísero um terço mais um para evitar a abertura de processo, claro que ela não terá a maioria no senado. Será afastada por 180 dias, mas antes disso ele será oficializado. Antes disso, mas não antes das Olimpíadas e assim pagaremos o mico internacional de ter dois presidentes nos Jogos.
São tantos micos rondando essa Olimpíada que eu acho que se o mico leão dourado não for extinto leva medalha de ouro.
Caiu, e pelo que a imprensa diz, teremos cinco presidentes. Não que a Dilma estivesse valendo muita coisa, mas juntando os cinco não dá um. O quinteto fantástico do mal é formado por Michel Temer, Eduardo Cunha, José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Acho que quinteto pior que esse só Paulo Victor, Rodinei, Cesar Martins, Wallace e Jorge.
Tudo batendo como eu disse numa coluna tempos atrás. Serra deve virar ministro e assim uma espécie de presidente sem faixa para poder terminar seu projeto de venda do pré-sal.
Não se fala mais em Lava-Jato, não se fala mais em prisão do Lula, não há mais pressa em nada disso, a missão já foi cumprida. Aos poucos, parte do povo acorda como numa quarta-feira de Cinzas macabra e percebe que sua escola não venceu o Carnaval e quem venceu foi o Eduardo Cunha, o novo imperador do Brasil. Com várias acusações de corrupção, comandou a queda de uma presidente, não sofre abalo de seus pares no conselho de ética e afaga o Supremo dando um aumento que serve como cala-boca.
Não falo que a Dilma era uma grande estadista, uma presidente honrada e competente que foi expurgada pela semente do mal. Era uma presidente incompetente e, se não roubou, evidente que fechou os olhos para a corrupção. Impossível uma presidente da República não saber de tanta roubalheira. Mas não acho certo que ela seja julgada por gente que está ainda mais suja.
Não sei se é golpe de estado. Acho uma palavra forte e tudo está sendo feito dentro da legalidade assim como uma menina de 18 anos está na legalidade ao casar com um homem de 90 mesmo sendo suspeito. Mas acho antiético. Acho antiético que tudo seja comandado por quem é e não acho parecido com o impeachment de Collor que envolvia corrupção e tráfico de influências. Só ver que quem comandava a frente de impeachment em 92 era Ulysses Guimarães e esse ano Eduardo Cunha, e a voz da imprensa era Barbosa Lima Sobrinho e hoje Kim Kataguiri. A diferença é enorme.
Assim como tem gente que diz que temos que aceitar porque a foto do Michel Temer estava na urna. Não, a foto dele estava abaixo como vice, não como presidente. Ninguém foi votar pensando “Vou votar nessa mulher porque se esse cara abaixo der um golpe ele tem uma esposa bela, recatada e do lar”.
É… Ainda tivemos isso… Bela, recatada e do lar. O país enlouqueceu. Revista enaltece padrão feminino dos anos cinquenta, deputado louco dá voto homenageado coronel que torturou vários, entre eles a presidente, e matou. O cuspe virou moda.
Quem é a favor do impeachment é chamado de coxinha e fascista, mesmo com muitos não sabendo o que é fascismo. Quem é contra é chamado de petralha, adorador de pão com mortadela e se é artista, dizem que recebe lei Rouanet sem saber que a lei não dá dinheiro nenhum, só autoriza a busca de recursos junto a empresas e alguns dos maiores recebedores de incentivo, como o produtor Claudio Botelho, são a favor do impeachment.
Pessoas públicas não podem mais ir a lugares públicos que são asperamente questionadas em suas opiniões se não for da maioria. Pessoas públicas acham que podem cuspir nos outros e que isso é algo banal. Não, não é. Cuspir é uma das agressões mais nojentas e repugnantes que existe. Não se cospe nem em um animal quanto mais em um ser humano.
Como eu não sei em qual categoria entra Jair Bolsonaro, fico na dúvida em relação a ele.
O Brasil enlouqueceu num grande tonel de ódio e intolerância. Onde pessoas brigam e se ofendem por causa de política. Onde numa manhã qualquer a gente sai apenas para comprar pão e tem que ouvir gente enaltecendo torturador dizendo que aquilo pertencia a uma guerra esquecendo que guerra pede condições iguais não enfrentamento entre oprimidos e opressores muito mais bem armados com o aparelhamento do estado no meio do mato, mas que se querem enaltecer alguém que enalteçam os militares que foram a combate, não um que ficou num porão esperando sua vítima chegar e enfiar rato em sua vagina.
O ódio e a intolerância chegaram a tal ponto que até eu fui vítima.
Quinta à noite fiz uma postagem no Facebook reclamando da classe política da Ilha em geral, dizendo que se preocupam com coisas banais como financiar camisas de parcerias de samba, churrascos, carros de som e e dar moções de aplausos enquanto temos UPA e Lona cultural fechadas, violência aumentando, esgoto a céu aberto, enchentes quando chove e um terrível sistema de transportes.
Pois bem. Recebi ataques de fúria de uma das pessoas beneficiadas por um vereador sendo que não citei nomes e nem falei de ninguém diretamente. Reclamei na educação e no campo das ideias da classe em geral. Escreveu no Facebook muitas ofensas, mentiras, falou de minha vida pessoal como uma louca. Sim, como eu disse, o país enlouqueceu.
Podia ter falado comigo de forma educada e inteligente já que não tenho candidato. Mostrado que eu estava errado e mostrado a atuação do vereador e seus projetos. Mas não, é mais fácil agredir que convencer. Estamos em um tempo que ser educado dá preguiça.
Ninguém consegue debater política, só agredir. É desse jeito que vou confiar em votar nesse vereador? É dessa forma, nos agredindo, nos cuspindo que vamos mudar um país? O país enlouqueceu e somos tratados por eletrochoques pela turma do Eduardo Cunha. Quando Eduardo Cunha vira nosso médico é que a morte está perto.
Pelo meu país, minha família e pela pouca sanidade que me resta, eu voto sim.
Pela internação do Brasil.
Twitter – @aloisiovillar
Facebook – Aloisio Villar
[related_posts limit=”3″]