Qual o maior time da história do futebol?

Essa é uma grande polêmica, hein? Capaz de criar um debate por horas. Temos grandes seleções campeãs do mundo como o Brasil de 1958 e 1970, talvez as maiores seleções campeãs. Curioso que essa relação aumenta quando pensamos nas seleções que perderam. Brasil 1950 e 1982, as decantadas Hungria de 1954 e Holanda 1974. É… Difícil essa..

E se formos para os clubes? Nossa!!! Quantos grandes times tivemos! Aqui no Brasil, o Santos de Pelé é considerado o maior. Mas não podemos não citar grandes esquadrões como o Botafogo de Garrincha, o Cruzeiro de Tostão, o Inter de Falcão, a academia palmeirense de Ademir da Guia, o São Paulo de Telê, o Vasco de 1997 a 2000 e aquele que é o mais especial em meu coração. O Flamengo de Zico.

Mas tivemos o grande Ajax de Cruyff, o Milan de Van Basten, o Real Madrid de Di Stefano, o Benfica de Eusébio, o Bayern de Beckenbauer e esse Barcelona de Messi, que desde 2009 vem fazendo história.

Mas eu sou abusado e digo na “lata” qual é para mim o maior time da história.

O Leicester de Claudio Ranieri.

Vão me chamar de maluco. Esse time não tem a técnica dos times citados acima, nem terá a quantidade de títulos. Como um time modesto de um clube modesto pode ser considerado o maior de todos?

Porque não existe nada de modesto naquele que se torna gigante.

É difícil pensar num similar do Leicester no Brasil. Pensei em Goiás, Santa Cruz, até Chapecoense, mas não dá. Não dá porque aqui temos torneios estaduais, regionais, durante muito tempo tivemos Campeonatos Brasileiros de mata-mata, então todos esses são grandes em seus estados, são ganhadores de títulos ou já beliscaram posições boas no Brasileiro. Eu acho que um feito parecido só se a Portuguesa aqui da Ilha chegasse na Primeira Divisão do Brasileiro e vencesse, mesmo a Lusinha tendo menos tradição que o Leicester, mas comparando a epopeia.

Sim, tivemos muitos pequenos que já ganharam títulos. Em São Paulo, o Bragantino foi campeão em mata-mata com o Novorizontino, o Inter de Limeira venceu o Palmeiras em 1986, Ituano foi campeão recentemente e o Audax está na final esse ano. O Coritiba já ganhou título brasileiro em cima do Bangu, o Guarani em cima do Palmeiras, o Atlético Paranaense em cima do São Caetano e o próprio São Caetano decidiu Libertadores. Santo André e Paulista já venceram Copa do Brasil. Até o Botafogo de vez em quando ganha títulos.

Mas todos esses ganharam títulos em mata-mata. O Leicester ganhou nos pontos corridos. Não foi uma zebra na final, foi uma zebra em 38 rodadas. Jogou até agora 36 finais, muitas vezes com adversários muito mais ricos, poderosos no principal campeonato do mundo. A proporção na casa de apostas em caso de título do clube era de 5000 por 1.

Leicester fans before the English Premier League soccer match between Leicester City and Southampton at the King Power Stadium in Leicester, England, Sunday, April 3, 2016. (AP Photo/Rui Vieira)

E eles venceram…

Como Dons Quixotes, enfrentaram os moinhos de vento, como Davis enfrentaram os Golias. O pequeno se agigantou e disse “não tenho medo de você”. O grupo de renegados, de jogadores inexpressivos, se juntou e formou um time. Um time de futebol, um time de cinema. Daqueles que toda hora vemos histórias em filmes de ficção e rimos falando “Isso nunca aconteceria na vida real”.

Mas aconteceu. O conto de fadas virou realidade. De vez em quando o mundo dos sonhos, aquele que todos nós queríamos viver, nos visita e mostra que ele existe. É o que está acontecendo.

O bravo, o valente Leicester 2015/2016, queria fazer 40 pontos para não cair. Fez mais, fez muito mais. Fez muito mais pontos, fez muito mais tudo, fez história. Um sonhou pelo outro, um correu pelo outro e quando menos percebemos o pequenino Leicester já tinha a maior torcida do mundo. Quem não é Tottenham virou Leicester e nem podemos dizer que somos um bando de modinhas. Não somos, somos humanos, amamos futebol e vimos no Leicester o nosso sonho.

Sim, os nossos sonhos de todos os dias. Aqueles que guardamos no peito durante anos e não compartilhamos com ninguém por achar impossível. Aquele time de Claudio Ranieri, o técnico decadente, mostrou que sim, dá pra fazer, que o impossível só existe até alguém realizar. É a nossa mola propulsora, o nosso estimulante para lutarmos, para acordarmos todos os dias para enfrentar nossos medos, nossos gigantes com a certeza que se não vamos vencer pelo menos vamos lutar por isso. Como por um prato de comida. Como por uma bola.

Eu nunca tinha ouvido falar no Leicester até essa temporada e com esse filme da vida real que proporcionaram e a péssima fase do Flamengo, que se fosse filme pareceria a “Cinderela baiana” de Carla Perez, me peguei curioso por essa história. Quando dei por mim estava vendo todos os seus jogos torcendo, vibrando e me emocionando como fico vendo as reprises do jogo contra o Manchester United.

O bravo pequenino inglês fez reviver o moleque que um dia se apaixonou por futebol.

Até pouco tempo nunca tinha ouvido falar no Leicester. A partir de agora nunca mais vou lhe esquecer.

Obrigado, maior campeão da história.

Obrigado, pequenino gigante.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

One Reply to “O pequenino gigante”

  1. Também achei incrível a conquista do Leicester, Aloísio, torci bastante, a festa da vitória no jogo de sábado foi emocionante, daquelas de você ficar feliz como se fosse seu time, vários torcedores chorando, muito legal mesmo. Agora, também me coloquei no lugar dos torcedores do Tottenham, poxa, time tradicional, torcida grande, não é campeão inglês desde 1961, viu seus principais rivais Arsenal e Chelsea ganharem títulos, aí, quando finalmente parece que será a sua vez, deixando todos para trás, surge o improvável Leicester e lhes deixam mais um ano na fila… Sem querer comparar grandeza e história, mas a situação lembrou um pouco o sentimento portelense no último Carnaval, quando parecia que a Majestade do Samba acabaria com seu sofrimento, e sem que ninguém esperasse vem a Mangueira e leva o título…

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