Vamos à parte final de nossa história.

Quatro anos mais tarde, o fracasso da Seleção Masculina no Pré-Olímpico fez todas as atenções da torcida brasileira no futebol se voltarem para as mulheres. Campeãs no Pan de Santo Domingo, em 2003, as comandadas de René Simões tinham um time ainda melhor que o dos Jogos de Sydney.

Em Atenas, pela primeira vez o torneio feminino teve 10 times. A melhor geração do futebol feminino brasileiro tinha Andreia, Pretinha, Formiga, Ju Cabral, Marta, Cristiane, entre outras.

A derrota para as americanas na primeira fase não abalou as brasileiras, que garantiram uma medalha após superarem México e Suécia. Na final, um reencontro contra a equipe estadunidense. Prejudicada pela arbitragem, que ignorou um pênalti claro, a equipe brasileira empatou em 1 a 1 no tempo normal e foi derrotada no gol de ouro. Apesar do gosto amargo da medalha de prata, a campanha foi muito bem recebida no Brasil e iniciou um ciclo de bastante sucesso do futebol feminino no país.

No masculino, a Argentina chegou com um enorme favoritismo. O time argentino era uma máquina. Tinha uma defesa forte, com Ayala, Coloccini e Heinze, um meio-campo de respeito com Mascherano, D’Alessandro e um grande ataque com Saviola, Delgado e Carlos Tévez. Dessa vez, o favoritismo foi confirmado e os hermanos faturaram um ouro inédito.

Surpresa foi o adversário na final: o Paraguai, cuja única estrela era o zagueiro Gamarra (embora seu companheiro Devaca tenha ficado conhecido pelo gol que eliminou o Brasil no Pré-Olímpico). Esta é a única medalha da história olímpica do país vizinho. A grande Itália de Pirlo, Del Piero, Bonnucci, Bonera, Barzagli e Chielini ficou com o bronze, enquanto Portugal, com Cristiano Ronaldo, decepcionou ao ficar em último na fase de grupos.

Nos Jogos de Pequim, com a Seleção masculina novamente classificada, o Brasil vivia a expectativa de que conseguisse pelo menos um ouro. O time masculino não brilhou, mas chegou à semifinal com quatro vitórias, nove gols marcados (sendo dois na prorrogação contra Camarões) e nenhum sofrido.

O time era forte, tinha Alexandre Pato, Hernanes, Marcelo, Ronaldinho Gaúcho e Lucas Leiva, mas foi facilmente superado pela infernal argentina comandada por Riquelme e Messi (e que já tinha jogadores como Lavezzi, Banega e Garay). Um 3 a 0 impiedoso no segundo tempo, que abriu caminho para o bicampeonato, decretado após vencer a Nigéria por 1 a 0. O Brasil ficou com o bronze – aquele mesmo que o Ronaldinho foi receber falando ao celular.

No feminino, houve a expansão para 12 participantes, como é até hoje. O Brasil jogou um futebol burocrático até a semifinal. Enfrentando a Alemanha, que em 2007 havia vencido Marta e companhia na final da Copa do Mundo (que também foi disputado na China, aliás), o time brasileiro fez um de seus melhores jogos na história e goleou por 4 a 1.

O reencontro contra as americanas tinha ares de “tira-teima”. O Brasil havia perdido em Atenas, mas, no mesmo Mundial de 2007, goleou as americanas por 4 a 0 na semifinal, em outro jogo espetacular de Marta e Cristiane. O resultado, porém, repetiu Atenas. O jogo foi disputado, equilibrado, o Brasil perdeu várias chances, mas, na prorrogação, mesmo sem o gol de ouro, o tento de Lloyd foi fatal para deixar a Seleção mais uma vez com a prata.

Por fim, Londres 2012. Uma disputa diferente, pois abriu-se uma exceção para que se formasse uma equipe da Grã-Bretanha (o que não acontecia desde 1912). Pegou-se, assim, representantes de todos os países formadores da Grã-Bretanha filiados à Fifa para formar o Team GB.

O Brasil pela primeira vez em muito tempo entrou como o grande favorito. Nem tanto pelo bom time de Neymar, Ganso, Alexandre Pato e Leandro Damião, mas mais pela ausência de grandes times – a Argentina não conseguiu defender sua medalha de ouro em terras britânicas. Com a queda precoce de Espanha e Uruguai, dois dos maiores concorrentes, o Brasil chegou à final após passar por Egito, Bielorrússia, Nova Zelândia, Honduras e Coreia do Sul (que conquistou um inédito bronze).

https://www.youtube.com/watch?v=DQaqOLdZ8Kg

Talvez com a maior oportunidade da história para conseguir o seu tão desejado ouro, o Brasil enfrentou o México na final. Os mexicanos tinham superado o bom time do Japão na semi e, apesar de não serem os favoritos, montaram uma boa Seleção, com vários jogadores que já tinham defendido a equipe principal. O promissor atacante Oribe Peralta aproveitou a tarde desastrosa do sistema defensivo brasileiro e abriu 2 a 0.

Lá atrás, o goleiro Corona (que vivia um ano brilhante), segurou o Brasil que, apesar do gol de Hulk nos acréscimos, ficou de novo com a prata. A exemplo do que aconteceu com Luxemburgo, também foi essa derrota determinante para a demissão de Mano Menezes no meio do projeto que deveria culminar na Copa de 2014.

A disputa feminina já não tinha o Brasil como uma das grandes atrações, especialmente após a queda nas quartas de final da Copa do Mundo da Alemanha. As brasileiras perderam para o remendado time da Grã-Bretanha e, com o segundo lugar, caíram no caminho da ótima seleção japonesa, que já havia conquistado o título mundial no ano anterior. Nitidamente superiores, as nipônicas até encontraram alguma dificuldade para superar as brasileiras, mas fizeram 2 a 0.

Repetindo a final do Mundial, americanas e japonesas jogaram em Londres e, dessa vez, levou a melhor o time americano, consagrando a geração de Hope Solo, Alex Morgan, Carl Lloyd e Abby Wambach. Sem a Alemanha, que não conseguiu se classificar, a boa geração francesa conseguiu o bronze ao superar o Canadá.

No fim das contas…

Apesar dos momentos importantes e emocionantes, o futebol dos Jogos Olímpicos, no caso do masculino, não tem a menor relevância atualmente. O que é uma pena. Há de se buscar uma alternativa para se fazer um Campeonato profissional, de alto nível, que não concorra com a Copa do Mundo e, ao mesmo tempo, se adeque ao calendário europeu.

A minha sugestão, confesso, é um pouco polêmica: acabar com a Copa das Confederações e transferir o formato para os Jogos. Bastaria atrasar um pouco o calendário europeu da temporada seguinte (neste caso, 2016/17), uma vez que ele poderia se estender até o junho do outro ano, já que não haveria nenhum grande evento (como existe, hoje, a Copa das Confederações).

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2 Replies to “Futebol nos Jogos Olímpicos: a História (Final)”

  1. Essas duas derrotas seguidas em finais da seleção feminina para os EUA foram doloridas… Na primeira, um pênalti escandaloso, e na segunda, uma atuação irrepreensível da Hope Solo ( que é bom lembrar, estava inexplicavelmente no banco na goleada sofrida no mundial), juntamente com uma inteligente estratégia americana de permitir as investidas brasileiras para atacar no final do jogo, se valendo de seu preparo físico superior. Sobre as derrotas da seleção masculina, 2012 surpreendeu, pois esse mesmo time se portou muito bem em amistosos cerca de dois meses antes das Olimpíadas, vencendo a seleção principal da Dinamarca, que se preparava para a Eurocopa por 3×1, e fazendo um ótimo jogo contra a Argentina com Messi, Di Maria, Higuaín, vendendo caro a derrota por 4×3. Nas Olimpíadas, mesmo chegando a final, o time jogou muito mal, com direito ao Rafael entregando a rapadura logo no primeiro minuto…

    Já quanto a sua sugestão Leonardo, sou um pouco mais polêmico: acho que o futebol nas Olimpíadas é uma competição menos importante em comparação com torneios continentais e, claro, a Copa do Mundo, e poderia perfeitamente ser disputada por times sub-21, sem atrapalhar muito os clubes europeus, em pré-temporada e com alguns disputando pré-champions, e os brasileiros, já que a maravilhosa CBF não interrompe o Brasileirão. Também me incomoda essa distribuição dos jogos para outras cidades. Em Londres, por exemplo, isso não seria necessário, e no Rio, poderiam se utilizar de locais mais próximos que fossem pelo menos dentro do Estado, como Caio Martins, Édson Passos, Los Larios, Macaé, Volta Redonda… Fica parecendo um torneio de nações sem qualquer relação com a Olimpíada…

    1. A questão das várias sedes tem muito a ver com uma questão política, também. É chance de outras cidades terem um pouco dos Jogos Olímpicos

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