A Olimpíada, maior evento esportivo do mundo, nada mais é do que a vida sintetizada em duas semanas. Um dos grandes motes da vida, a redenção, talvez seja o que de melhor tem nos Jogos Olímpicos.

Foram vários os exemplos de superação nos Jogos do Rio, como o caso dos atletas refugiados, mas vou me ater a dois especiais para nós brasileiros.

No começo da semana passada, quando de forma surpreendente a seleção feminina de vôlei foi eliminada dos Jogos, escrevi no twitter que o esporte era tão louco que era capaz de Neymar e Bernardinho serem campeões olímpicos. Era uma suspeição que estava virando quase certeza ao ver tudo o que passaram, e conhecer um pouco o esporte.

Costumamos falar que esporte é imprevisível, mas é só até a página 5. Sabemos que na maioria das vezes que existem disputas de pênaltis nas quais o craque do time é quem perderá a cobrança, principalmente se for dele a última cobrança. Sabemos também que aquele que é ridicularizado durante uma competição é capaz de no fim vencer.

Ninguém foi mais questionado do que Bernardinho. Ninguém foi mais ridicularizado do que Neymar.

bernardinhoatenasBernardinho é um grande vencedor. Foi medalhista de prata com a seleção de vôlei em 84 como jogador. Levou a equipe feminina, já como técnico, pela primeira vez ao grupo principal de seleções, com medalhas de bronze em 1996 e 2000. Assumiu a seleção masculina e ganhou três mundiais, uma medalha de ouro olímpica, duas pratas e um porrilhão de outros torneios até o começo dos Jogos desse ano.

Mas mesmo assim foi questionado. A seleção parou de ganhar de 2010 pra cá, perdeu o ouro em 2012 quado vencia a final por 2 a 0, efetivou seu filho Bruninho como levantador, fez várias campanhas publicitárias, palestras motivacionais e juntando isso a seu jeito explosivo acabou sendo comparado a Zé Roberto Guimarães. O tricampeão olímpico com jeito bem mais discreto e calmo.bernardinholondres

Foi comparado e perdeu na comparação. Fora isso pegou uma geração menos talentosa do que as anteriores e começou mal na Olimpíada chegando à última partida da primeira fase com riscos de eliminação. O povo brasileiro já tinha vaticinado. Zé Roberto era melhor do que ele.

neymarostentaçãoAssim como vaticinou que Marta era melhor do que Neymar. Não disse isso porque realmente achava, até porque a maioria das pessoas só acompanha a jogadora em Olimpíadas, mas gritou esse lema para atacar o jogador. Até o nome de Neymar na camisa da seleção foi riscado para que se colocasse o de Marta.camisariscadaneymar

Neymar foi debatido, discutido, ridicularizado, muito por culpa sua, seu jeito de ser de menino bobo alegre, mimado e deslumbrado, por situações no mínimo esquisitas como sua venda ao Barcelona, mas também porque um cara de 24 anos que joga na Europa com destaque e é milionário podendo comprar o que quiser e pegar a mulher que quiser causa inveja. Tom Jobim dizia que sucesso no Brasil é ofensa pessoal e é assim desde que Carmen Miranda voltou “americanizada”.

Neymar começou mal, assim como toda a seleção e a mesma ficou ameaçada de eliminação logo na primeira fase, o que seria um vexame histórico.

Neymar e Bernardinho próximos da eliminação, discutidos, menosprezados. Marta e seleção de futebol feminino exaltados. Seleção feminina de vôlei virando “Dream Team”. Cenário pronto.

neymarmedalha2016Cenário pronto para os Deuses do esporte que podem até castigar os craques de vez em quando, mas lhes amam e não gostam quando os mesmos são ridicularizados. Os Deuses do esporte não costumam perdoar quando isso ocorre e se vingam. A seleção feminina de futebol parou de fazer gols e ficou sem medalhas. A de vôlei eliminada de forma surpreendente pela China e, no meio disso tudo, Neymar e Bernardinho sobreviveram.

Sobreviveram e venceram.

Isso não tira o fato de Zé Roberto Guimarães ser um grande técnico, e em vez de discutirmos quem é o melhor, temos que nos sentir felizes em ter os dois. Nem de que o Neymar tem que aprender a deixar de ser babaca porque com 24 anos a pessoa já tem maturidade suficiente para ser responsável pelo que faz na vida. Mas dentro das quadras e campos são dois craques e têm que ser respeitados.

E os Deuses do esporte sabem disso tanto que deram aos dois finais felizes.

Final? A graça do esporte é essa, sempre tem a partida seguinte.

E vamos ver o que ela trará.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

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