Ao conviver nos últimos dias com atletas das mais diversas modalidades dos Jogos Paralímpicos voltou a me chamar a atenção algo muito especial em todos eles. São pessoas que escolheram ser felizes. Diante de uma doença, acidente, condição congênita, seja lá o que for, se abateram, sim. Quem não se abateria? Mas, diariamente, optaram por lutar e ir atrás do que há de bom por aí.

Assim são as escolhas. Também feitas de renúncias. Muitos deles precisaram deixar suas cidades, se afastar dos familiares, sofrer, sentir dores. Dores às vezes tão insuportáveis que fizeram a belga Marieke Vervoort, do atletismo, entrar com um processo para conseguir – e conseguiu – o direito legal de decidir quando morrer.

A Bélgica tem as leis mais liberais do mundo relacionadas à eutanásia, a morte assistida por médicos. Quando Marieke achar que as dores não compensam mais o sacrifício que pode ser sobreviver, ao lado da família e dos amigos ela receberá uma injeção que a fará dormir para sempre.

20160911_165150Contra ou a favor? Sou sempre a favor do direito individual, assumindo as consequências, aqui ou em qualquer outra instância, sobre as próprias decisões.

Escolhas também movimentam, de maneira bem mais leve, a vida dos sambistas e sambeiros por essas bandas. As escolas da Série A já elegeram, todas, seus hinos para 2017. Estes serão motivo de um futuro “palpi-post”, mistura de palpite com texto, assim que a Paralimpíada me permitir ouvir com a devida atenção cada obra.

Queria me deter ao ato de escolher.

Estamos naquela época em que os sambas são escolhidos – no caso da Renascer, encomendado (aliás, permitam-me o parêntese – mais um sambaço dessa escola cuja discografia já elogiei aqui mesmo neste OT faz um tempinho…). Estamos naquela época em que muita gente reclama das escolhas e aponta os dedos para os “escritórios” como vilões do gênero.

20160911_174431Será? Tenho sérias dúvidas.

Nomes badalados da atualidade como Claudio Russo, Samir Trindade, Arlindo Cruz, André Diniz, Lequinho, Luis Carlos Máximo e tantos outros – assinantes ou não em uma, duas, dez escolas – só ganham por força de seus “escritórios”? Ou vencem porque são bons pra caramba de letra e melodia?

É claro que o poder econômico de diversas parcerias não pode ser desprezado. É claro que o peso de ter um samba assinado por um autor consagrado influencia decisões. E obviamente isso não pode ser negligenciado em uma análise sobre o processo.

Só quero ver o outro lado, o da qualidade das obras. Numa safra de qualquer escola em que essa turma se proponha a disputar, os sambas deles são ruins? Ou, na média, estão mais para candidatos fortes do que para meros coadjuvantes? Ninguém acerta a mão sempre.

Porém, a cada dez sambas dessa rapaziada quantos são bons? Quantos são dignos merecedores da escolha feita? Acredito que a maioria. Então, não diria que os “escritórios” são vilões, que os “escritórios” escondem os bambas. Não diria isso porque, no passado, tivemos grandes compositores enfileirando vitórias.

Isso é do jogo. Qualquer geração tem gente talentosa, que acumula conquistas. Silas, Mano Décio, David Correa, Alvinho, Jurandir e Hélio Turco. Didi, Aurinho da Ilha, Franco. Toco. Niltinho Tristeza. Martinho da Vila. Olha só quanta gente boa (e quantos eu não listei) são supercampeões em suas respectivas escolas antes da era dos “escritórios”. Que se discuta o modelo da disputa. Mas nunca se tente punir a criação e os criadores de grandes obras.

Escolher, como disse anteriormente, é também renunciar. O Império Serrano abriu mão de levar para a avenida um samba tecnicamente bem construído, bem resolvido, com a grife Arlindo e Aluizio Machado (e mais oito parceiros, entre eles Arlindo Neto e Pretinho da Serrinha). Uma obra que acertou na mosca ao homenagear Wilson das Neves com o verso “o samba é meu dom”, entre tantos outros acertos melódicos e poéticos. Pois bem, parece até que a escolha da minha escola me entristeceu.

Pelo contrário.

Quem esteve na quadra da Edgar Romero na última segunda-feira não pode ignorar a avalanche que foi a apresentação da parceria vencedora, a do time de futebol (sim, são onze compositores) capitaneado pelo jovem e talentoso Lucas Donato. Um arrasa quarteirão, uma vitória por aclamação vinda de todos os setores da agremiação.

E a escola de samba é isso. Organismo vivo, emotivo, é paixão, é entrega. No carnaval passado, apesar da bela obra, sentia-se na avenida um corpo que não havia se integrado e entregado por completo ao hino eleito. Apesar de falhas – corrigíveis – de letra e melodia, o samba do Império para 2017 não poderia ser outro.

Porque a escola escolheu a obra. Escolheu versos que, ainda sem o mesmo requinte, souberam atingir em cheio alma e coração imperianos. Sendo assim, parabéns ao Reizinho pela escolha.

#orgulhosemfim

Imagens: Ouro de Tolo

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