Obs: o panorama da eleição presidencial está no post passado

Além da presidência dos Estados Unidos, no dia 8 de novembro estarão em jogo 33 das 100 cadeiras do Senado dos Estados Unidos, para eleger senadores para um mandato de seis anos.

A disputa pela maioria do Senado é cada vez mais importante em um país ainda mais polarizado politicamente e sempre “quebrando as barreiras do impossível” na política. Primeiro foi o nó orçamentário que a Câmara dos Deputados de maioria republicana deu em Obama no fim de 2013, depois foi a negativa inédita do Senado de sequer votar a indicação de um magistrado feita por Obama para a Suprema Corte – ainda em março de 2016.

Mas por que tal negativa? A Suprema Corte tem 9 magistrados. Com a morte sem reposição de Antony Scaglia em fevereiro, hoje existem 8 deles nomeados, sendo 4 deles conservadores e 4 deles progressistas. Ou seja, caso o nomeado de Obama, Merrick Garland, um progressista moderado, seja confirmado, quebrará uma série de 40 anos nos quais a Suprema Corte funcionou como um paredão de defesa contra mudanças progressistas nos Estados Unidos.

20131111_154420Inicialmente, a argumentação republicana é que o próximo presidente deveria escolher esse nome, apostando na vitória do indicado do partido para a eleição presidencial. Porém, com a posição de Trump derretendo nas pesquisas, começaram a pairar rumores e temores de que o partido republicano tentará bloquear indefinidamente a confirmação do apontado para evitar uma maioria progressista na Suprema Corte.

Isso é só uma parte do porquê essa luta pelo controle do Senado que descreverei abaixo é muito importante para a política americana. Além disso, uma maioria no Senado também influi em questões como orçamento, teto da dívida pública e controle de venda de armas, apenas para citar os temas mais pulsantes nos Estados Unidos nos últimos tempos.

O Senado é composto por 100 cadeiras, 2 para cada estado; em caso de empate, quem desempata é o Vice-Presidente, que ao mesmo tempo é Presidente do Senado. Um terço da casa é renovado a cada dois anos, de forma que o mandato de um senador dura seis anos.

Hoje, existem 54 senadores republicanos e 44 senadores democratas, sendo 2 senadores sem filiação partidária, mas que para efeitos gerais são contados como democratas. Ambos tem posição ainda mais à esquerda do que os democratas e nas principais questões sempre votam com o partido. Alias, um deles é ninguém menos que o ex-rival de Clinton nas prévias, Bernie Sanders. Portanto, na prática, podemos dizer que hoje são 54 republicanos e 46 democratas.

20131107_125753Das 34 cadeiras que estarão em jogo no próximo dia 8, 24 pertencem a republicanos e apenas 10 a democratas. Assim, para os democratas reassumirem a maioria no senado precisam ganhar 14 cadeiras, caso se confirme a provável vitória da chapa Clinton-Kaine, ou 15 caso ocorra o contrário.

Das 10 cadeiras que os democratas precisam defender, 9 são seguras. Em Washington, Oregon, Califórnia, Colorado, Hawaii, Vermont, New York, Maryland e Connecticut o candidato democrata lidera por mais de 10% em quase todas as pesquisas e a demografia do estado é totalmente pró-democrata. A única “cadeira quente” é Nevada, que será explicada abaixo.

Sendo assim, das 25 cadeiras restantes, as 24 republicanas além da de Nevada, os democratas precisam conquistas “apenas” 5 ou 6 cadeiras. Olhando esse número, parece fácil. Mas, na prática, é bem diferente.

20131107_123504Do mesmo que os democratas tem 9 cadeiras certas, os republicanos tem 17 cadeiras certas. Não há um caminho viável para os republicanos perderem, pelo mesmo motivo dos democratas acima citados, as disputas em Idaho, Utah, Arizona, Alaska, North Dakota, South Dakota, Kansas, Oklahoma, Iowa, Ohio, Arkanasas, Alabama, Georgia e South Carolina, Louisiana, Kentucky e Flórida. Inclusive nos dois últimos, os candidatos são dois ex-presidenciáveis dessa “safra”, Rand Paul e Marco Rubio, respectivamente.

Logo, a disputa está resumida a apenas oito estados e são apenas nesses estados que os democratas precisam buscar as 5 ou 6 vitórias de que precisam para recuperar a maioria. Os oito estados em disputa são: Nevada, Wisconsin, Illinois, Indiana, Missouri, New Hampshire, North Carolina e Pennsylvania.

Em Illinois e Wisconsin, a vitória democrata está bem encaminhada. O 1° estado sempre teve forte tendência democrata e apenas elegeu o republicano Mark Kirk em 2010 na esteira de um escândalo de corrupção envolvendo o governador, do partido democrata, que foi pego tentando vender a indicação para ocupar a cadeira no senado que foi deixada por Obama quando o mesmo assumiu a presidência.

O problema já foi solucionado, o governador já está cumprindo a sentença de catorze anos que lhe foi imposta na prisão e o caminho está aberto para a democrata Tammy Duckworth – curiosidade, é biamputada – retomar a cadeira.

20131111_152720Em Wisconsin, tudo indica que depois de da população ter negado em 2010 a reeleição ao ex-senador democrata Russ Feingold, dando a cadeira para o republicano Ron Johnson, seis anos depois a população do estado se arrependeu e negará a reeleição de Johnson, devolvendo a cadeira a Feingold. Feingold lidera quase todas as pesquisas e não são poucas as disponíveis. Também parece uma vitória bem encaminhada para os democratas.

Fechando a trinca das disputas bem encaminhadas para os democratas, em Indiana Evan Bayh também lidera com boa folga todas as numerosas pesquisas, no que seria a 3ª cadeira a ser tomada pelos democratas.

Nos cinco estados restantes o cenário é mais incerto. Se os democratas levarem 3 desses 5, levará junto o Senado; se levarem apenas 2, precisarão do vice-presidente. Para garantir a continuidade da maioria, os republicanos precisam ganhar 4 das 5; se levarem apenas 3 precisarão também do vice-presidente. Abaixo uma análise, estado a estado.

Nevada: o longevo lider dos democratas no Senado, Harry Reid, está se aposentando e indicou Caroline Cortez-Mastro para ser sua sucessora. Porém ela passou toda a temporada atrás do candidato republicano Joe Heck nas pesquisas. Junto com a arrancada de Clinton no estado há 2 semanas, Cortez Mastro também subiu nas pesquisas e chegou a liderar algumas delas. Porém os dois estão trocando pequenas lideranças desde então e a corrida está indefinida. Há uma levíssima projeção futura a favor dos democratas com os dados de hoje, mas tudo continua em aberto.

New Hampshire: estado pequeno e uniforme, o que já aumenta bastante a probabilidade de erros nas pesquisas. Para piorar, a quantidade de pesquisas disponíveis também não é grande. Por isso a disputa é incerta. O que é certo é que a candidata republicana a reeleição, Kelly Ayotte, não está sabendo como lidar com Trump.

20131109_121646Por vezes ela faz declarações de apoio, por vezes faz declarações de repúdio e por vezes simplesmente se cala. Isso está minando a confiança do eleitorado na candidata. Pelas 3 últimas pesquisas, a ex-governadora democrata Maggie Hassan está em leve vantagem. Considerando que as pesquisas para as duas cadeiras do estado na Câmara, para presidente e para governador estão todas apontando para vantagem folgadas dos democratas, é de se inferir que os democratas deverão levar esta cadeira no Senado também.

Missouri: é a novidade na lista. Até o fim da semana retrasada, o Missouri estava listado como mais uma disputa já definida, nesse caso a favor da reeleição do republicano Roy Blunt. Eis que, de repente, aparecem duas pesquisas de institutos respeitados, uma apontando um empate na disputa e outra apontando uma liderança de 7% a favor do democrata Jason Kanter.

Blunt é outro político que está sofrendo em achar o tom certo para lidar com Trump, enquanto isso Kanter está fazendo uma campanha fortemente fincada na propanganda dele ser um “não-político”, uma pessoa de fora dos círculos da política: algo que está em alta tanto no Brasil como nos Estados Unidos. Temos apenas 4 pesquisas nos últimos 2 meses no estado, já que todos imaginavam que a fatura estava liquidada, o que é pouco para fazer projeções. Talvez com o sinal de alerta que foi ligado semana passada, apareçam na próxima semana pesquisas mais esclarecedoras.

Pennsylvania: essa disputa é o conceito-padrão de disputa apertada. As pesquisas disponíveis são inúmeras e elas estão alternando entre vantagens de até 4% para os dois candidatos há semanas. Só deveremos ter ideia se o republicano Pat Toomey se reelege ou a democrata Katie McGinty toma a cadeira já no meio da apuração.

North Carolina: outra disputa que até o fim de agosto ou início de setembro era dada como certa para a reeleição de um republicano, no caso Richard Burr. Porém, pouco a pouco a democrata Deborah Ross está ganhando terreno e hoje já algumas pesquisas indicando uma microvantagem dela. A maior parte delas ainda dá um empate ou uma pequena vantagem para Richard Burr, de forma que ele ainda pode ser considerado ligeiramente favorito. Mas uma eventual vitória de Ross já saiu da categoria de zebra para apenas menos provável.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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4 Replies to “Eleições Americanas 2016: a luta pelo Senado”

    1. Cal,

      Diferentemente da disputa presidencial, não é raro que as disputas indefinidas do Senado em um determinado ano sejam todas favoráveis ao mesmo partido em “convencimento final” dos indecisos. Inclusive foi isso que ocorreu a favor dos republicanos nas mid-term de 2014 e por isso os republicanos ficaram com essa larga vantagem de 54 a 46 no Senado.

      Porém, mesmo indo contra a história, essa eleição está tão atípica que eu não acredito que isso ocorra para nenhum dos lados esse ano. Meu palpite hoje é que os democratas conseguem uma maioria de 51 a 49.

      O cenário “periférico” de New Hampshire é claro a favor dos democratas, motivo pelo qual não consigo acreditar em outro resultado a não ser a vitória dos democratas.

      Nas outras quato em vejo uma boa probabilidade de dar 2 a 2. Particularmente acredito que a campanha de Kander está em uma crescente muito forte e a posição dele deve melhorar nas próximas pesquisas. Por outro lado, por mais que North Carolina claramente esteja lentamente “azulando”, a vitória de Clinton hoje só é possível graças ao adversário ser Trump. Ainda não vejo o estado preparado para dar na mesma eleição vitórias democratas para a presidência e para o Senado.

      Em Nevada e Pennsylvannia, a situação é bem complexa, mas são estados um tanto quanto diferentes. Meu sentimento diz que se um estado for para um lado, o outro irá para o outro. Em que me baseio para isso? Em nada concreto, puro instinto mesmo.

      Mas, apesar desse meu palpite, eu realmente não ficaria surpreendido nem se os democratas conseguissem um 53 a 47 (ou seja, ganha os 5 incertos), nem se os republicanos mantenham um 52 a 48 (o cenário oposto ao extremo).

      1. Acho a mesma coisa, que tá muito aberto. Mas nem me arrisco a um chute.

        E o quanto você acha que o envolvimento do FBI na eleição a essa altura pode impactar nas votações pro Senado e pra Câmara?

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