Antes de dar continuidade à nossa série sobre o Outubro Rosa, quero pedir desculpas aos Leitores do Ouro de Tolo pela ausência de texto semana passada. Estava muito atarefada com a minha pré-banca de TCC. Felizmente, isso já passou e estou um pouco mais tranquila, pelo menos por enquanto.
Como eu havia prometido na coluna anterior, falaremos hoje sobre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, tanto genéticos quanto ambientais.
Primeiramente, vale ressaltar que o câncer de mama, assim como os outros tipos, não é uma doença única. Os tumores são heterogêneos: geneticamente falando, isso significa dizer que vários genes estarão mutados no mesmo tumor.
Aí está a razão pela qual muitos tumores apresentam resistência ao tratamento. Por mais que as drogas utilizadas na quimioterapia matem até mesmo as células normais que estão em divisão constante (motivo pelo qual caem os cabelos ), essas drogas têm um alvo específico.
Se o tumor contêm células que possuem mutações que não serão atingidas por estas drogas, o tumor pode continuar resistindo. Por isso, é muito importante que se estude o tumor geneticamente. É difícil falar disso, é difícil para que pessoas que não são da área possam compreender o que ocorre.
Então,vamos pegar um caso muito batido pela mídia: Angelina Jolie. A atriz causou polêmica ao retirar as mamas por descobrir que possuía chances muito altas de desenvolver câncer. Como ela descobriu isso e tomou a decisão?
Bem, Jolie tinha parentes próximas na família acometidas pela doença. Então, ela mandou sequenciar seu genoma, o conjunto de todos os genes que nós possuímos. Literalmente, ela fez um mapeamento de si e descobriu dois genes mutados, o BRCA1 e o BRCA2, que elevavam suas chances de desenvolver câncer em mais de 80%.
Muitos a criticaram, julgaram, mas a meu ver, ela fez o certo. Mutações nesses dois genes são muito comuns em câncer de mama e, além disso, a atriz tinha casos na família, o que aumentava o seu risco. Isso que Angelina fez foi prevenção, muito mais eficiente que a mamografia, pois detecta o câncer antes mesmo dele poder surgir.
Infelizmente, o sequenciamento genético é algo muito caro ainda, sendo a mamografia ainda a melhor opção para quem não dispõe de uma boa condição financeira.
Os casos hereditários de câncer de mama são de apenas 5%, segundo o Inca. O que significa que você pode ter alteração nos seus genes, mas nunca desenvolver a doença. Como isso é possível?
Nós temos, normalmente, duas cópias de cada gene em nossas células, que vão dizer qual a cor dos olhos, do cabelo, o tamanho do nariz, enfim, tudo o que você somos, quem determina, são as duas cópias desses genes. Você pode possuir uma mutação no BRCA1, por exemplo, mas se a outra cópia for normal, você não desenvolve a doença, porque o câncer é algo que precisa de muitos fatores para se desenvolver.
Mas se você tiver um estilo de vida inadequado, a mutação na outra cópia do gene pode ser questão de tempo. Muitos fatores ambientais influenciam nisso, como a idade da menarca, da menopausa, a idade elevada, o primeiro filho acima dos 30 anos, reposição hormonal após a menopausa a base de um hormônio chamado estrogênio, ingestão descontrolada de contraceptivos, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, tudo isso pode levar não apenas a mutações em uma cópia dos seus genes, mas nas duas.
Então, por mais que nasçamos com as duas cópias normais dos genes de suscetibilidade ao câncer, elas podem ser mutadas ao longo da nossa vida devido aos nossos comportamentos. E isso vale para todos os tipos de câncer. É claro que muitas coisas estão fora do nosso alcance, como idade da menopausa, da menarca, etc, mas em relação a outros fatores, nós temos totais possibilidades de controle
É realmente muito complicado falar dessas coisas mais específicas de um modo que todos possam compreender, mas falar disso é necessário, pois assim podemos perceber que o cuidado começa quando repensamos nossas atitudes, nosso estilo de vida. A primeira pessoa que deve cuidar da sua saúde é você mesma e não seu médico. Além disso, se temos na família alguém que já sofreu de câncer de mama ou ovário, o cuidado deve ser redobrado.
Na próxima coluna, daremos continuidade a nossa série do Outubro Rosa falando sobre os diversos tipos de tratamento para o câncer de mama. Enquanto isso, não se esqueçam, continuem se tocando, vamos fazer o possível para conscientizar amigos, familiares, vizinhos, e todos os que nos cercam.
Imagens: AFP e Rede Globo
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