Não deu bode para o Cubs

Começo a coluna dizendo que não curto beisebol, acho um esporte chato, um taco com grife..Taco sim era maneiro, jogar a bola na latinha tendo que ser mais rápido que o rebatedor…Enfim, acho sacal, mas como disse no twitter quem não viu o jogo 7 da World Series não tem coração.

Por quê digo isso? Peguei esse trecho da Wikipedia para explicar.

“A maldição de Billy Goat se refere a uma praga jogada ao time do Chicago Cubs por Bill Sianis, que era dono de uma taberna chamada Bill “Billy Goat” Sianis. O ocorrido se deu durante um jogo da World Series de 1945 entre a equipe do Cubs e o Detroit Tigers. Bill foi ao estádio Wrigley Field e comprou dois ingressos, um para ele e outro para seu bode chamado Murphy. O proprietário do estádio, no entanto, solicitou que o animal fosse retirado das arquibancadas, alegando que o mesmo cheirava mal. Bill se revoltou e lançou a maldição – “Os Cubs não vão ganhar mais nada”, disse ele. A equipe então perdeu aquela disputa e só voltou a jogar a World Series em 2016″

Surreal não? O cara jogou a praga em 1945 e realmente o Cubs venceu mais nada. Mas a coisa é pior. Em 1945 o Cubs já não vencia um campeonato há 37 anos!! Faça as contas caro leitor e verá que a equipe não ganhava um campeonato há 108 anos, consegue ser mais que o tempo que o Fluminense não tem Libertadores, só o Pedro Migão dos que conheço era vivo nesse título do Cubs.

Pois bem, chegaram na final contra o Cleveland Indians que também vinha de uma fila de mais de 70 anos, por si só já era uma disputa que chamava atenção. Mais que isso, foram para o jogo 7, mais que isso, tiveram um jogo 7 cheio de reviravoltas indo para entrada extra e interrompido pela chuva. Jogo que foi decidido apenas na última bola com vitória do Cubs e o fim da maldição.

O bode foi enterrado e de forma emocionante após 108 anos o Chicago Cubs foi campeão. Imagino o que deva ser esse momento para o torcedor. O bode foi finalmente enterrado.

Esse jejum da equipe me lembra que tivemos jejuns importantes, famosos no futebol brasileiro. Temos pelo menos três equipes grandes que se não passaram um jejum nem próximo ao da equipe de beisebol tiveram série de derrotas que incomodaram, machucaram suas torcidas. Pelo menos dois dos fins desses jejuns foram épicos.

Apesar de ter passado pro um longo jejum não acho o do Palmeiras tão marcante quanto os outros dois. Foram 17 anos sem títulos, mas de certa forma ganhou de forma tranquila o paulista de 1993 quebrando a série. Apesar de ter entrado em desvantagem na última partida contra o Corinthians tinha muito mais time tanto que venceu por 3×0 no tempo normal e 1×0 na prorrogação. O palmeirense valoriza demais essa conquista de fim de fila, mas os outros dois exemplos para mim são realmente épicos.

O que representou o título paulista do Corinthians em 1977 e carioca do Botafogo em 1989? Eu não tenho dúvidas em afirmar que são os títulos mais importantes da história dos dois clubes mesmo o Corinthians sendo campeão mundial em 2012 e o Botafogo brasileiro em 1995. Não tem comparação, pergunte a qualquer torcedor que vivenciou as filas e o fim dos jejuns.

O corintiano sofreu com o Santos de Pelé e a academia palmeirense chegando ao ponto de mandar Rivelino embora. Protagonizou invasão ao Maracanã em 1976, aí nessa época virou a “Fiel torcida” porque mesmo 23 anos na fila sua torcida aumentou.

Botafoguense também sofreu. Adversários contavam nas arquibancadas ano a ano até chegar ao tempo de fila e cantar parabéns, teve que ver o maior rival ser campeão do mundo e lhe aplicar 6×0 no ano do título, viu músicas serem feitas falando de seu jejum como uma que dizia “E se o Botafogo for campeão” ou o samba da Caprichosos com “Bota, bota, bota fogo nisso” lembrando tempos que não voltam mais. O Botafogo virara isso, um time do passado.

O sofrido gol de Basílio contra uma superior Ponte Preta e o místico gol de Mauricio, o camisa 7 fazendo gol aos 12 do segundo tempo num dia 21 com 21 graus (referências a Garrincha e os 21 anos sem títulos) contra o superior Flamengo de Zico foram desafogo, foram aquele grito saído das entranhas, sonhados por toda uma vida. Gols que fazem adulto virar criança e chorar copiosamente, se emocionar só de lembrar, ajoelhar e atravessar campo pagando promessa. São catarse, são loucura, são redenção.

Não vi o título do Corinthians, era muito novo, mas vi o do Botafogo e foi justo contra meu time. Nunca me esquecerei das fortes imagens, do escudo do Botafogo voando na TV, a torcida chorando, Paulinho Criciúma chorando feito criança abraçado a outros jogadores…Nem consegui ficar com raiva da derrota. Foi a derrota mais bonita que já vi do Flamengo.

Não é difícil imaginar o que a torcida do Chicago Cubs passa agora, não é preciso que seu time do coração passe anos na fila para ter noção. Basta lembrar que somos seres humanos comuns e que passamos adversidades na vida. Seres humanos que ao longo da vida tem mais fracassos que vitórias, basta pensar em alguma grande vitória que tivemos na vida. Isso que eles passam agora.

Mais bonito que vencer é se superar. Chicago Cubs nos mostrou hoje (escrevo assim que o jogo acabou) que quando temos um sonho é possível, basta acreditar. Ninguém pode vencer ou sonhar pela gente. Nós que temos que arremessar e jogar para longe as bolas que aparecem em nossa frente. Maldição? Já era. Agora é festa.

Não deu bode.

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