Estou numa fase meio de adoração por Charles Chaplin, então decidi começar essa coluna com uma foto dele. De uma de suas obras primas chamada “Tempos modernos”, na qual mostra o homem sendo substituído pela máquina.

Não vou escrever sobre tecnologia, de o homem ser substituído por máquinas, apesar de isso ser cada vez mais nítido como no metrô do Rio e seus guichês nos quais seres humanos ganhavam seus salários em empregos estão fechados, e agora é a máquina que nos vende os bilhetes. Escrevo sobre o ser humano sendo tratado como máquina, como peça em uma engrenagem e não mais como ser humano.

O governo brasileiro acha que o ser hunano é máquina quando aprova que em acordos, a jornada de trabalho possa ser de doze horas e férias divididas em três vezes esquecendo, ou fingindo esquecer, que não há acordos quando um lado detém todo o poder.

Também acha que é máquina quando dificulta a aposentadoria, mas é aquilo, ele pode obrigar a submissão anal ao Kid Bengala que teremos hienas aplaudindo já que o que importava era “acabar com o comunismo”.

Diretores de grandes rádios cariocas tratam funcionários como números, máquinas, quando demitem em larga escala. O profissional está trabalhando e do nada recebe “o bilhete azul” em nome de uma austeridade financeira, de uma modernidade que se revela grande burrice. A austeridade não ocorre, a crise econômica continua, e o ibope não melhora porque os “jênios” que comandam a Rádio Globo, por exemplo, acham que colocando a rádio em rede nacional, demitindo comunicadores e focando mais nas músicas irá melhorar quando não irá.

Dessa forma perderá a audiência da dona de casa, do porteiro, do taxista que quer saber do trânsito e não pega a do jovem descolado porque esse usa o sportfy para ouvir as músicas que quer na ordem que quer sem precisar de rádio para isso. Fora que rádio é veículo local, que atende comunidade. Quem quer saber notícias ou ouvir sotaques de outros estados vê televisão.

Pior do que isso é a Rádio Tupi, líder de audiência e, portanto, cheia de anunciantes, dever salários em até 14 meses, demitir funcionários e não recolher FGTS. Vai para a terceira greve em menos de um mês, agora de 72 horas, e é inacreditável porque como eu disse é líder de audiência, então só pode ser má gestão. Temos o risco de perder a Super Rádio Tupi, ver a mesma comprada por igreja evangélica graças à irresponsabilidade.

Não é primazia do rádio tratar hoje o ser hunano como maquina. A ESPN demitiu José Trajano, o cara que praticamente criou a emissora. A Globo acabou de encerrar o talk show de Jô Soares renovando seu contrato, mas lhe tirando do ar. A mesma Globo que deixou Chico Anysio na “geladeira” até morrer e faz isso agora com Renato Aragão.

Pode se falar o que quiser de Roberto Marinho, mas ele nunca faria isso. Marinho era reacionário, de direita, mas quando os militares quiseram mexer com seus artistas disse “com meus comunistas ninguém mexe”. Roberto Marinho não tratava seus artistas como máquinas, tratava como artistas e assim fez a maior rede de comunicação da América Latina.

Quem será que tem a razão? Os empresários que hoje tratam seus artistas, seus funcionários como máquinas ou os que tratavam como seres humanos e assim construíram impérios que agora são ameaçados pelos “empresários modernos”? O único empresário de comunicação que ainda respeita o ser humano é Silvio Santos. Na sua, e na de Carlos Alberto de Nóbrega, “Praça é Nossa” artista só sai morto. Será coincidência o programa ser tão popular até hoje? Ou porque ali ainda preferem dar ao público qualidade em vez de “modernidade”?

Quem diria que Chaplin denunciando a modernidade seria mais moderno que os tempos atuais? E olha que ele nem precisava falar para isso.

Enfim. Feliz Natal atrasado para todos. Que vocês tenham tido uma noite maravilhosa e Papai Noel tenha sido generoso. Aliás, aproveitem bem Papai Noel.

Antes que ele seja substituído pelo Tiago Leifert.

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