Ontem de madrugada estava assistindo ao bom “Bola da Vez” programa da ESPN Brasil que traz algumas personalidades do esporte a cada semana para um bate-papo. Essa semana foi uma figura especial. O ex-centroavante Reinaldo.
Reinaldo é uma figura importante do esporte, um dos maiores centroavantes da história do futebol e importante demais na história do meu clube, o Flamengo. É estranho falar isso porque o Rei nunca jogou no time e muito pelo contrário, sempre foi “inimigo”.
Curioso, mas tem sentido. A grandeza de um time se mede pelo tamanho do rival, de quem teve que transpor e Reinaldo simplesmente foi o “maior vilão” daquele time que decantei aqui semana passada. Mas é um cara tão fabuloso como jogador e como pessoa, tão talentoso, tão carismático, tão gigante que é impossível ter raiva dele. Eu pelo menos só consigo ter admiração por Reinaldo. Podem alegar porque não vi os grandes confrontos dele com o Flamengo ou porque ele perdeu na maioria das vezes. Não me importa, não quero encontrar justificativas, apenas enaltecer um “Rei”.
Reinaldo é gigante por tudo que representa. O garoto-prodígio que surgiu no Galo e acabou com a dinastia do Cruzeiro de Raul e Dirceu Lopes. O menino que antes dos 20 anos de idade já não tinha os meniscos e tinha que tomar infiltrações, passou por inúmeras operações nos joelhos que viviam inchados, tinha que enfaixar sempre as pernas para não ter derrames. O homem que sabendo de seu tamanho e respeitando seus ideais levantava o punho ao marcar um gol representando os Panteras Negras e todos que lutam por um mundo melhor. O ser humano que sucumbiu diante das drogas e soube se recuperar. O gênio que calou o Maracanã com 150 mil pessoas com apenas uma perna.
Flamengo 3 x 2 Atlético MG, final do Campeonato Brasileiro de 1980. Para mim sem nenhuma dúvida o maior jogo da história do Flamengo. Duas seleções em campo e o Flamengo em seu palco maior pronto para ser campeão brasileiro. O clube carioca tinha que vencer e fez 1 a 0, Reinaldo empatou e o Fla fez 2 a 1, se encaminhando para o título.
A torcida comemorava, Reinaldo teve uma distensão e só ficou no campo fazendo número, se arrastando. A torcida percebeu e começou a chamá-lo de bichado, foi cruel como toda torcida em arquibancada é e como todos nós já fomos. Reinaldo sofre com os gritos, quer sumir do estádio, mas não sumiu, recebeu uma bola e num último esforço empatou a partida e levantou o punho comemorando em um silencioso Maracanã. Era seu momento de virar um Ghighia mineiro e poderia ter sido o maior drama da história do Flamengo, mas como não respeitar a imagem de um Reinaldo sorrindo, mancando ao correr com o punho levantado diante de uma incrédula torcida do Flamengo? Para desespero dos atleticanos, acabou expulso pelo árbitro José de Assis Aragão por suposta cera.
Nunes fez o terceiro gol e a história todo mundo já sabe. Reinaldo é tão grande que ele é o que é tendo uma carreira restrita por contusões e perseguições. O que poderia ter sido Reinaldo sem esses problemas? Reinaldo foi praticamente um exilado político dentro dos campos. Foi orientado por Geisel a não comemorar com o punho levantado e não abaixou a cabeça, continuou fazendo e foi afastado do time titular da Copa de 1978 e não foi convocado para a Copa de 1982, não pôde fazer a carreira que merecia e todos nós merecíamos ver.
Encerrou a carreira em 1988 com apenas 31 anos por não suportar mais as dores. Se a gente for pensar na longevidade que os jogadores têm hoje em dia, como Zé Roberto jogando com 42 anos, e a medicina avançada para uma cirurgia de meniscos, sente até dor no coração pelo Rei. Onde ele poderia ter chegado no futebol de hoje? Nunca saberemos. Mas talvez sendo o homem que é e levantando o punho chegou onde nenhum jogador de hoje chegará.
Reinaldo, adorável inimigo, toda minha admiração por você e tenho certeza que hoje a torcida do Flamengo não fica mais em silêncio por você e nenhuma. Todas te aplaudem.
E erguem o punho.
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