Acabou 2016, enfim faz parte do passado como quase todo mundo queria.

Eu desde 2011 escrevo aqui como última coluna do ano uma retrospectiva daquele que passou e faz alguns meses que para esse texto pensei: “2016, o ano que não devia ter começado” em alusão ao famoso livro “1968, o ano que não terminou” de Zuenir Ventura  e que fizemos alusão alguns anos atrás falando de 1989.

Mas pensei bem e desisti por não ser justo. Primeiramente, Fora, Temer, segundo, porque o meu ano pessoal foi bom, manteve a pegada dos dois anteriores, então seria ingratidão minha. Mudei também por outros motivos.

É evidente que foi um ano puxado, pesado e que as pessoas queriam ver pelas costas. Na verdade, o ano pode ser chamado de uma grande decepção porque foi esperado com muita ansiedade desde 2009 quando ganhamos o direito de sediar os Jogos Olímpicos. A Olimpíada em si deu certo, foram as únicas semanas realmente felizes no Brasil, que nos deram orgulho não só de nossos atletas, mas pela nossa capacidade de fazer uma edição olímpica, receber as pessoas e emocionar. Os problemas em relação aos Jogos vieram do conturbado período anterior e agora a depressão de perceber que todo um legado pode ser jogado no lixo em meio a crises e corrupção.

Foi um ano tão complicado que o impeachment de um presidente não é a primeira coisa que lembramos de 2016. Dilma caiu graças a ações entre amigos. Ação entre amigos que fizeram de uma pedalada crime o suficiente para derrubar presidente eleita com 54 milhões de votos. Ação entre amigos do PT, que quis se perpetuar no poder a qualquer custo montando um esquema de corrupção poucas vezes visto se achando acima da lei. Ingênuo, mal sabia que é aquele que a lei mais quer pegar.

Entre justiceiros e vingadores, o PT caiu. Dilma sofreu impeachment, Lula será preso amanhã, a maioria de seus líderes parou na cadeia e a Lava-Jato fez de um juiz, herói. Pobre país que precisa de heróis. Alguns dos grandes nomes da República sucumbiram, até Sergio Cabral e Eduardo Cunha foram presos, outros tiveram “Moro privilegiado” e em clima de namoro na TV são denunciados e nada acontece. O mar de lama vem sendo mostrado a nós todos os dias assim como o ódio, a intolerância que crescem como bandeira de uma horda de imbecis e falsos mitos. Religião é política, “justiçamento” é política, reacionários têm poder político. Tudo agora tem política, principalmente o que esses idiotas fazem na privada.

Em 2016 tivemos idiota de cor laranja virando presidente dos Estados Unidos, fundamentalista religioso prefeito do Rio e personagem mauriçola do Marcelo Adnet eleito em São Paulo. Detalhe, nenhum deles por golpe de estado, todos pelo voto. Quem não chegou à presidência pelo voto foi Michel Temer (eleito vice), mas para esse o esgoto da história está reservado, recheado de chocolate estragado e levando consigo pacotes de maldades que jogou nos braços do brasileiro em 2016.

Tivemos em 2016 estupro coletivo em que gente instruída culpou a vítima, tivemos torcedor sendo humilhado em metrô, xingado sem respeitar a idade com gente instruída dizendo que era “zoação normal de futebol”, tivemos guerras em que gente instruída diz que era para acabar com terrorismo, tivemos terrorismo que gente instruída diz que todos os muçulmanos fazem, tivemos refugiados que gente instruída não quer aqui, gente instruída elegeu Crivella, Dória, Trump e pede intervenção militar democrática. Pelo jeito burrice agora faz parte do currículo escolar porque vejo muita gente fazendo colação de grau em idiotice.

Mosquito matando, Velho Chico matando, balas perdidas matando inocentes, aviões caindo… A queda de um avião fez o Brasil silenciar e ter a certeza de que era a hora do ano acabar. Domingos Montagner encontrou a eternidade no fundo do rio, George Michael, David Bowie e Prince agora estão com as estrelas e o voo da Chapecoense terminou em nossas lágrimas. A força não esteve com Carrie Fisher e ela partiu assim como sua mãe, que agora dança no céu.

Muita coisa em 2016, mas reparem em uma coisa. Tirando as mortes que ocorrem todos os anos, vão ocorrer em 2017 e espero que não nos peguem, tudo que ocorreu de ruim foi produzido pelo ser humano. Esse ano foi apenas uma data assim como foi 2015 e será 2017. O ano de 2016 não tem culpa de nada, ele não tem culpa de sermos escrotos.

O ser humano que não sabe votar, o ser humano que é intolerante, que realiza estupro coletivo, que massacra vendedor em metrô, que rouba o povo, dá golpes, é homofóbico, espanca, mata,  faz genocídios e por ambição não põe gasolina em avião para não pagar por mais combustível. Nós somos os culpados pelo ano ruim, por todos que foram ruins e dos próximos porque podem ter certeza se continuarmos procurando culpados por tudo de ruim que ocorre e não assumirmos que a culpa é nossa, no fim de 2017 estaremos fazendo as mesmas reclamações.

O que tem que ficar de exemplo para nós é o que ocorreu após o acidente com a Chapecoense. As inúmeras imagens de amor ao próximo e solidariedade surpreendem e mostram que temos, sim, jeito. Uma flor nasceu no meio de terra devastada, temos que cultivar.

Que 2017 seja assim, um ano de cultivo. Cabe a nós manter essa esperança viva, afinal, o que seria da vida se não fosse a esperança?

Feliz Ano Novo.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar