O título, muitos devem ter percebido, é uma paródia de uma música da Blitz, uma das grandes bandas do Rock Brasil no início dos anos 80.

Na canção, Evandro Mesquita interpreta um policial rodoviário que questiona o motorista sobre assuntos irrelevantes do ponto de vista de uma abordagem policial. A letra original diz “qual é teu signo, pra que time torce?”

O motivo da adaptação são as próximas linhas.

No mundo do samba, ter uma preferência declarada nunca – ou quase nunca – foi motivo de patrulhamento. Os jornalistas que cobrem carnaval, são entusiastas ou se interessam pelo assunto não são considerados parciais, maus profissionais, sem ética, vendidos ou qualquer outro termo menos elogioso porque têm uma preferência, uma paixão, uma relação mais íntima com a escola A, B ou C.

Basta dizer que praticamente todos os comentaristas, de todas as emissoras que já transmitiram o desfile das escolas de samba, em todas as épocas, tinham uma escola de samba de coração e falavam sobre isso abertamente (Pamplona – Salgueiro, Paulinho da Viola – Portela, Haroldo Costa – Salgueiro, Leci Brandão – Mangueira, José Carlos Rego – Império, Sergio Cabral – Mangueira e Em Cima da Hora, Pretinho da Serrinha – Império e por aí vai).

Imaginem esse universo transportado para o futebol?

Já estou acostumado com a cobrança do torcedor. Inevitavelmente, a primeira pergunta que ouço nas ruas é o indefectível…”Qual o teu time?”

Juro que seria tranquilo para mim responder com sinceridade. Não fossem a intolerância, a violência, a falta de respeito e educação quando a resposta não corresponde às expectativas do interlocutor. E, no fim das contas, a maioria sempre acaba achando que você torce para algum rival.

Recentemente, gravei uma reportagem com cinco sambistas/músicos e o mote era o futebol, não a escola da preferência deles. O Xandy de Pilares, rubro-negro e salgueirense. O Serjão Loroza, vascaíno e imperiano. Noca e Celso Lopes, tricolores e portelenses. O Léo Russo, botafoguense, eu achava que era mangueirense (pela ligação com a Beth Carvalho). Seria interessante. Torcedores dos quatro grandes do futebol carioca e das tradicionais quatro grandes do Carnaval. Expressão que caiu em desuso no universo atual dos desfiles. Bem, mas o Léo é Portela.

O que importa é que essa relação time-escola, algo tão carioca, nunca foi de identificação imediata. Alguns chamam a Mangueira de “Flamengo do Samba”. Têm a ideia de que todo mangueirense deve ser rubro-negro e vice-versa. Sei não, ao que me consta bambas como Cartola, Jamelão e a própria Beth, baluartes verde-rosa não vestiriam com prazer o vermelho e o preto. E o Zico trocou de escola depois de ter sido enredo. De Beija-Flor virou Imperatriz. O Junior talvez seja o cara que personifica melhor esse dueto em quatro cores.

O próprio Migão, em artigo anterior, desmistificou esta ideia.

Mas essa pretensa identificação obrigatória nunca me convenceu. É cíclica. Quem é o “América do Samba”? O clube ficou conhecido por ser o segundo time de todo carioca. Qual seria a segunda escola de todo carioca? A lista é muito pessoal e dificilmente chegará a consenso. Só se sabe que as cores do América inspiraram mesmo o pessoal da Deixa Falar. E a Estácio de Sá é, de fato, uma forte candidata a segundo amor no coração de qualquer um.

Na semana passada soube, em primeira mão, que o Madureira lançará um uniforme em verde e branco para homenagear os 70 anos do Império Serrano. A iniciativa me parece inédita. Não me recordo de nenhum time profissional usar as cores e o símbolo de uma escola de samba. Ainda que a relação entre Bangu e Mocidade tenha sido sempre muito próxima, o clube não trocou o vermelho pelo verde em sua camisa oficial de jogo.

A simpatia pelo Madura eu já tinha. Agora, o clube me quebrou um galho. Com o lançamento dessa camisa a pergunta “qual é teu time?” ganhou uma resposta padrão. Podem até rebater me acusando de estar declarando apenas o “segundo” time.

Mas não de esconder a primeira escola.

Imagem: O Globo

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5 Replies to “Qual é Teu Time, Pra Que Escola Torce?”

  1. Aos seis anos de idade comecei a torcer pela Mangueira. Primeiramente achava engraçado o refrão do samba falar em “xixi” (na verdade xinxim) e ao assistir diziam que era o “Flamengo do carnaval”, entendi aquilo como uma ordem, flamenguista teria que ser mangueirense. A comparação se devia ao tamanho da torcida, mas assim ficou em minha mente. De quebra veio a quarta-feira de cinzas e “O ‘Flamengo’ ganhou o carnaval”. Felizmente fui vendo que é possível torcer por uma escola e saber respeitar outras, inclusive torcer pelo título quando cai na real que a sua não tem condições para tanto.

  2. Minha escola é o Salgueiro seguida de perto pela Mangueira e sim tenho uma queda enorme pela Ilha
    Sou colorada e o vermelho e branco do Salgueiro ajudou muito na minha escolha

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