Todos sabemos que o glamour do carnaval carioca se concentra no Grupo Especial. Mas a essência do que ainda se entende por escolas de samba está, em grande parte, nos grupos de base (para evitar dizer “de baixo” ou “inferiores”).

Sempre fui fã do segundo grupo – aqui deixando o politicamente correto de lado. Os nomes variaram ao longo da história. Lembro-me bem do eufemismo Grupo 1-B, logo no início do Sambódromo. Passamos a Grupo A, de Acesso, Série A, que é a Série B no frigir dos ovos. Pouco importa o nome.

O que vale é que este grupo sempre lutou bravamente por espaço e divulgação, à margem das primas ricas do domingo e da segunda. Nem vou entrar aqui no mérito da Intendente. Obviamente que a tradição também desfila por ali (com o perdão do trocadilho) e que é fundamental que as agremiações das Séries fora-Sapucaí recebam atenção.

Durante os anos, nem sempre os desfiles de sábado – e, mais recentemente, de sexta e sábado – tiveram cobertura devida da imprensa. Em alguns anos só mesmo pelo rádio para acompanhar os desfiles, que não tiveram transmissão televisiva.

De 2013 pra cá, a Série A vem sendo exibida para o Rio de Janeiro pela Globo, que também detém os direitos de transmissão do Grupo Especial. Isso foi um salto importante para as escolas em termos de exibição de marca, como o Migão escreveu recentemente.

Para valorizar ainda mais os desfiles, as escolas e suas comunidades, a produção de carnaval da Globo – da qual faço parte este ano – decidiu organizar um encontro de bambas, um papo de samba entre representantes das catorze escolas de samba da Série A. Esses encontros aconteceram em janeiro e serão exibidos na semana que vem, de forma enxuta, claro.

Esse processo de edição é tão doloroso quanto necessário. As conversas, todas elas gravadas no Baródromo, na Praça Onze (point obrigatório para os amantes das escolas de samba aqui no Rio de Janeiro), duraram por volta de uma hora. Irá ao ar algo em torno de cinco minutos! Não tem jeito. É assim que a banda toca na tv aberta.

Os encontros foram divididos por uma ordem geográfica. A ideia era reproduzir, na mesa de bar, um bate papo entre vizinhos. E deu muito certo.

A turma do Berço do Samba foi formada por Estácio e Império da Tijuca (fotos e vídeos deste artigo). Uma história de amor nascida em vermelho e branco e uniu uma passista (hoje coordenadora das baianas de São Carlos) e um folião de ala fez lembrar o velho e lindo samba de Martinho da Vila (“Pra tudo se acabar na quarta-feira”). A memória viva da Formiga com seu Tiãozinho e o presidente Tê, figura impagável. Abrilhantando o encontro, a ilustre presença de Selminha e seu sorriso campeão em 1992.

Madureira e Jacarepaguá são limítrofes. E a história de uma porta-bandeira une a Serrinha ao Largo do Tanque. A emoção tomou conta da autora do livro que conta a gloriosa história imperiana. E o compositor das maravilhosas obras recentes da Renascer confirmou que pode ter sido o último ano dele na escola. O que faz a bateria da Curicica ser tão premiada?

Aqui… ou lá da Zona Sul… também tem batuque e paixão pelo samba. Tem alegria em Copacabana e resistência na maior comunidade/favela da América Latina. Na Zona Oeste um super campeão das disputas de samba enredo fala da força da comunidade de Padre Miguel. E o sangue verde e branco é real em Santa Cruz. Como numa licença poética cheia de cadência da Baixada, a Inocentes se juntou às coirmãs nessa conversa.

Do outro lado da poça tem muita força também. O presidente da Academia que ajudou o Tigre a caminhar com as próprias pernas. E como tem troca-troca por aquelas bandas. É mestre de bateria, compositor, muito bamba que mudou de cor mas não de cidade. Alô Niterói, alô São Gonçalo… Obrigado pela resenha super especial.

São apenas pinceladas de uma tela em branco que foi ganhando as cores de todas as comunidades que vão pisar forte na avenida a partir do dia 24. Vale só uma vaga no tão sonhado Grupo Especial.

Mas não vale só isso.

É uma afirmação de grandeza, de talento, de suor, dedicação, amor ao pavilhão que não pode e não deve ficar ofuscado por um brilho que é, de fato, impressionante – o das desfilantes das noites seguintes. A Série A tem muito samba, tem muito valor e muita história. E o que tentamos foi tentar contar um pouco disso para aqueles que ainda não se encantaram por ela. E também pros que morrem de amores pela “segundona”, a grande e aguardada “avant premiere” do Maior Espetáculo da Terra.

Nosso obrigado a todos os convidados. Espero que todos curtam.

Imagens: Ouro de Tolo

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