Durou pouco mais quatro meses a passagem de Loco Abreu pelo Bangu. O anúncio da contratação do uruguaio pela tradicional equipe da zona oeste do Rio foi feito no dia 11 de novembro. A apresentação oficial, no entanto, só foi realizada no dia 27 de dezembro. E a recepção em Moça Bonita foi realizada com pompas, com direito a papel picado, fogos de artifício e até samba.
Mais do que uma simples apresentação, a festa realizada pela chegada de Loco Abreu fez com que a equipe de Moça Bonita voltasse a ganhar espaço na mídia. Um bom exemplo pode ser conferido a partir das capas dos jornais cariocas no dia seguinte ao evento. Todos falaram do uruguaio. O jornal “Extra” destacou em sua capa a recepção em meio ao sol escaldante do verão carioca: “Calor humano para Loco Abreu”.
Já “O Dia” deu foto com o trocadilho “Loco Abreu abala Bangu.” O Globo reservou também um espaço em sua primeira página ao artilheiro, única notícia do caderno de esportes destacada na capa. O popular Meia Hora também colocou uma foto de Abreu em sua edição. Único jornal diário especializado em esportes na cidade, o “Lance” foi mais econômico e apenas fez uma chamada em sua capa.
A estreia do camisa 113 (número em alusão à idade que o Bangu vai completar em 2017) veio no dia 29 de janeiro diante da Portuguesa com direito a gol de pênalti de Abreu (sem cavadinha). O jogo terminou empatado em 2 a 2.
No jogo seguinte, contra o Vasco, vítima preferida de Loco Abreu, o atacante novamente deixou sua marca, o gol de número 400 na carreira. Antes disso, porém, chegou a desperdiçar um pênalti durante a partida, que terminou com vitória da equipe cruzmaltina por 3 a 1.
O artilheiro também balançou as redes no duelo seguinte, contra o Volta Redonda. Depois, disso, no entanto, veio um jejum: sete jogos sem marcar, incluindo o confronto contra o ex-clube, o Botafogo. A partida contra o alvinegro carioca aliás foi a última de Loco com a camisa do Bangu. Para o confronto seguinte, contra o Macaé, ele alegou um desconforto e não foi relacionado. Logo depois, anunciou sua saída da equipe alvirrubra, antes mesmo da última rodada da Taça Rio.
Abreu tinha contrato com o Bangu até o início de maio, mas alegou motivos particulares para antecipar sua saída e voltou ao Uruguai, onde assinou com o Central Español, da segunda divisão.
A curta passagem de Abreu pelo Bangu, onde só disputou 10 jogos oficiais, não é uma novidade na carreira do atleta. Aos 40 anos, ele já tem 24 times no currículo e pouco atuou também no Figueirense (7 jogos e 1 gol em 2012) e Grêmio (também 7 jogos e 1 gol em 1998) para ficar só nos exemplos dos clubes brasileiros. A maior exceção mesmo está no próprio Botafogo, onde Loco fez 106 partidas, 63 gols e se tornou ídolo da torcida, com direito até a uma homenagem em um muro em frente à sede de General Severiano.
É complicado avaliar a trajetória de um jogador, qualquer que seja, que tenha feito tão poucos jogos por um clube. Dentro de campo, como vimos, apesar do bom início, os números não impressionam, mas também não chegam a ser ruins.
Verdade também que o elenco montado pela equipe da zona oeste também não ajudou muito: surfando na onda de Abreu, as contratações dos também gringos Luis Peralta e Damían Eroza não surtiram efeito e o time era bem limitado. Além disso, o Bangu mudou três vezes de treinador durante o campeonato carioca, o que certamente dificultou o trabalho.
Por outro lado, fora das quatro linhas a repercussão da passagem de Abreu pelo Bangu foi imensa e trouxe resultados também para o clube. Além de voltar a ganhar espaço na mídia como muito tempo se via (me arrisco a dizer que desde 1895 quando decidiu a final do Brasileiro contra o Coritiba), as vendas da camisa do clube registraram um aumento de 400% no primeiro mês, saltando das modestíssimas 70 unidades comercializadas a cada 30 dias para 350, 50% de todo o estoque vendido em 2016. O uruguaio também encabeçou o projeto do sócio torcedor do clube, o “Partiu Bangu”.
Assim, provavelmente o torcedor banguense nem deve ter tido tempo de ficar com saudades de Abreu dentro de campo. Talvez quem sinta mais falta mesmo seja o marketing do clube e a imprensa. Sim, porque o uruguaio é um baita personagem, daqueles que estão em extinção no esporte: bem articulado, sincero e autêntico. De loco mesmo, tem pouco.
Imagens: Celso Pupo/Fotoarena/ Ag O Globo e Divulgação