Tem umas expressões no futebol atual que enchem o saco. Uma é “saber sofrer”. Amigo, quem sabe e gosta de sofrer é adepto de BDSM. Isso é futebol, e quase todos os treinadores adoram repetir essa ladainha, que seu time “soube sofrer”.

Outra é o tal do “Futebol reativo”. Explicando no linguajar boleiro, futebol reativo é uma expressão bonitinha para a antiga “retranca”. É o time que fica na defesa, entrincheirado, esperando seu adversário e no contra-ataque tenta matar o jogo. Time que provavelmente no fim seu técnico irá dizer que “soube sofrer”.

O primeiro time que me vem à mente nesse estilo foi a seleção italiana de 1982, apesar de que aquele era um timaço. No futebol brasileiro, teve a experiência mal sucedida de 1990 e a primeira vez que isso deu certo foi em 1994. Hoje temos vários “filhotes de 1994” no futebol brasileiro, times que sabem sofrer, de futebol reativo, e os maiores exemplos são Corinthians e Botafogo.

O Corinthians será campeão brasileiro assim. Não dá para dizer que é um time retranqueiro, já que tem um dos melhores ataques do Campeonato Brasileiro, mas é um time que começou a ser formado pela defesa, como dizem os mais boleiros, “fechando a casinha”.

Existe hoje uma ideia de que um time tem que começar a ser formado pela defesa e só depois pelo meio-campo e ataque, e o Corinthians foi formado assim. Primeiro, o Carille ajeitou a defesa e durante o Paulista foi ajeitando o ataque. O Corinthians hoje é um time que toma pouquíssimos gols, é um especialista no 1 a 0 e está dando certo.

Outro que também age assim e dá certo é o Botafogo de Jair Ventura. O Botafogo tem um elenco ainda mais limitado que o do Corinthians e, sabedor de suas limitações, sobra em organização, atitude e vontade para igualar elencos superiores.

Agindo dessa forma, o Corinthians conseguiu contra o Sport não fazer nenhuma falta no primeiro tempo e apenas duas no segundo, mostrando que futebol força, competitivo, não tem nada a ver com raça e, sim, organização e atitude. Dessa forma, também o Botafogo está nas quartas de final da Libertadores sendo um dos oito maiores times em 2017 da América do Sul.

Mas não são fórmulas perfeitas e isso foi mostrado recentemente com os dois provando do próprio veneno. O Vitória foi ao Itaquerão jogando o mesmo futebol reativo do Corinthians e, sempre que o clube paulista encontra um adversário assim, enfrenta mais dificuldades. O Vitória soube armar a arapuca da “uma bola”, fez 1 a 0 e poderia até ter ganho de mais.

O Botafogo caiu nessa arapuca contra o Flamengo. O Rubro-Negro, com o novo técnico, se organizou melhor defensivamente, bloqueando os principais pontos de ataque do Botafogo, e na hora que precisou fez valer seu maior poder técnico, eliminou o Alvinegro da Copa do Brasil.

Não são fórmulas perfeitas, mas são interessantes para elencos que possuem essas características e têm limitações. Não dá para impor a Flamengo, Palmeiras e Atlético esse tipo de jogo, a própria torcida não concordaria, mas dá para em certos momentos agir assim como fez o Flamengo na Copa do Brasil.

Sinceramente prefiro times que partam para o ataque, toquem a bola, times mais técnicos, mas não dá para dizer que o tal futebol reativo não possa ser interessante e útil desde que não se abra mão de atacar como fez o Botafogo na Copa do Brasil. Se errado na prática pode causar jogos feios e chatos como foram as semis cariocas.

Jogo chato sim faz a gente sofrer.

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