Com todos os sambas já escolhidos (ou divulgados, no caso dos encomendados), o processo de gravação em andamento e a expectativa pelo lançamento do CD oficial só falta agora… Uma solução para as escolas de samba da Série A.
Cada vez mais encurraladas pela perspectiva da perda de barracões, seja pelo avanço das obras na Zona Portuária, por incêndios ou condições insalubres, seja pela falta de vontade política de dar-lhes apoio, as corajosas e sobreviventes agremiações dos grupos de acesso – das quais a Série A é o expoente, visto que único grupo a desfilar na Marquês de Sapucaí – apresentam suas trilhas sonoras para o Carnaval 2018.
Certamente o tema será mais explorado e desenvolvido daqui por diante. Mas não resisti à tentação de dar os primeiros pitacos, baseados nas primeiras impressões de audição. Sempre com aquelas ressalvas de que samba-enredo…
- amadurece, se torna mais ou menos palatável com o passar do tempo e….
- tem que ACONTECER, mesmo, na avenida.
Feitas as ressalvas, digo que estou satisfeito com a qualidade da safra na Série A. O lado benéfico, talvez o único, da falta de recursos é o estímulo à criatividade dos enredos. E com boas temáticas é natural que se desenvolvam boas letras. Especialmente letras.
A melodia já não depende tanto da sinopse. Ainda que eu acredite que não se possa separar totalmente, no processo de criação, letra e música. Uma letra poética inspira uma melodia envolvente e vice-versa.
Há enredos muito interessantes e ricos culturalmente no Acesso. E, desse modo, obras de valor passarão pelo Sambódromo na sexta e sábado de carnaval do ano que vem.
Pela ordem, vejamos. As três primeiras escolas de sexta-feira trazem enredos com temática que envolve, de alguma forma, crenças afro-brasileiras. Isso é muito bom na luta diária que se trava contra a intolerância religiosa crescente em nossa cidade, em nosso país.
A Unidos de Bangu acerta ao escolher bem melhor seu enredo em comparação ao “Imperium”, de 2015, um fracasso anunciado para a vermelho e branco, que acabaria fazendo um bate e volta na Série A daquele ano.
O Império da Tijuca retoma seu DNA afro e a Acadêmicos de Sossego, novamente pela pena de Felipe Filósofo, nos apresenta o terceiro samba seguido de grande beleza.
Há claramente uma queda na média do dia – em se tratando de samba-enredo – quando analisamos o hino da quarta a desfilar. A Unidos do Porto da Pedra, que nos últimos anos não vem se notablizando por grandes obras, novamente levará para a Avenida um samba apenas mediano. Ainda que o enredo, sobre as divas do rádio, seja muito bonito.
Falar bem dos sambas da Renascer é quase chover no molhado. Uma vez mais a encomenda deve render boas notas para a escola, com a bela obra que retrata a relação entre Villa-Lobos e a floresta. Por fim, a Estácio de Sá aposta mais num samba valente do que propriamente de excelência poética e melódica. Não está entre os destaques da noite ou da safra.
No sábado, a Alegria da Zona Sul abre os trabalhos com uma obra que particularmente me agradou. Não foi exatamente uma encomenda mas uma inscrição única na disputa da agremiação de Copacabana. Com destaque para a interpretação segura de Igor Vianna.
Já a Santa Cruz, que assim como a Porto da Pedra tem histórico recente de sambas-enredo pouco inspirados, segue a tendência. Não foi uma obra que cativou à primeira audição. O mesmo se aplica à Viradouro. Ainda que, no caso da vermelho e branco de Niterói, o passado recente seja o oposto – de bons sambas. Em 2018, o hino pode crescer – e deve crescer na Avenida, dada a capacidade de desfile e força harmônica da escola. Porém, não o colocaria entre os melhores da safra. Pelo contrário.
Daí para o fim da noite de sábado estaremos bem servidos de sambas-enredo. O lindo enredo da Rocinha proporcionou uma obra desafiadora. É um samba longo, rico em nuances melódicas e vai precisar ser abraçado pela comunidade. Pode ser até que não exploda na Sapucaí. O que não tira dele a beleza poética que retrata muito bem a sinopse.
Cubango segue mostrando que se a escola não subiu para o Grupo Especial até hoje não foi por causa da parte musical. Inocentes de Belford Roxo, com enredo para o qual muita gente torceu o nariz, nos brindou com um belíssimo samba-enredo. E, por fim, a Unidos de Padre Miguel deu sequência ao retrospecto de bons sambas e encerrará os desfiles com um dos melhores – se não o melhor samba do ano.
Fica até difícil dividir a safra em sub-grupos. Para isso acho que vou esperar mais um pouco, ouvir as gravações oficiais, apurar a audição. Assim, de primeira, faria apenas o lado A e o lado B. Sendo o lado A o dos sambas que mais me agradaram. Seguindo a ordem desfile e não de preferência.
Lado A
Bangu, Império da Tijuca, Sossego, Renascer, Alegria, Rocinha, Cubango, Inocentes e UPM.
Lado B
Porto da Pedra, Estácio, Santa Cruz e Viradouro.
Com o passar dos dias… Tudo pode mudar.
Imagem: Arquivo Ouro de Tolo
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