Era um sábado ensolarado em novembro. Eu saí da piscina do clube que frequento na Lagoa e deitei em uma das espreguiçadeiras para pegar um pouco de sol.

A piscina é cercada por dois campos de futebol.  No maior deles, o society, acontecia uma competição de crianças que pareciam ter uns 7 anos. Um dos times era formado por crianças do clube com camisas em que a numeração se repetia. Do outro lado, bem mais organizado e com uniforme impecável, estava uma escolinha de futebol da Roma, da Itália.

O treinador da equipe europeia tinha prancheta, assistente e passava instruções para seus jogadores (se é que podemos chamar assim crianças tão novas). Já o time do clube era menos “descompromissado” no bom sentido da palavra. Dava para perceber que os meninos estavam ali apenas para se divertir, como eu acho que deve ser encarado o esporte nessa idade. Mas não impedia que a cada ataque adversário bloqueado pela zaga local levasse os pais ao delírio.

Mas o que mais me chamou a atenção nessa partida foi um dos zagueiros. Quer dizer, A zagueira. No meio daqueles meninos todos, uma garota de saias e chuteira usava a camisa 4. Não a conheço, não sei se ela joga bem ou se costuma jogar sempre. A única certeza que tenho é de que essa garota tem personalidade. Fiquei muito feliz ao ver uma menina tão nova ali em um ambiente dominado pelos homens. Eu jogava futebol quando era mais nova (não tão nova como essa menina) e sei bem como é difícil ser a única menina no meio dos garotos.

Mas o sol estava mais forte do outro lado da piscina, onde fica o outro campo de futebol, o menor. Sentei ali então.

Não deu cinco minutos e ouvi uma voz mais alta. Olhei até para trás e vi um pai gritando com um menino.

VOCÊ ACHA QUE EU SOU PALHAÇO? VOCÊ ME PEDE PARA JOGAR FUTEBOL, EU VENHO, ACORDO CEDO E FAÇO O SEU CAFÉ. AÍ CHEGO AQUI E VOCÊ NÃO QUER JOGAR? A MESMA COISA NO JUDÔ. VOCÊ ACHA QUE EU SOU OTÁRIO? VOCÊ JÁ É UM HOMEM, VOCÊ JÁ TEM 5 ANOS. TEM QUE AGIR COMO HOMEM. FALA, ‘EU SOU HOMEM’. DIZ, FALA ALTO. ISSO, AGORA COSPE NA MÃO. ANDA. COSPE NA MÃO. VAMOS. ISSO, ESSE É O NOSSO PACTO DE CUSPE. AGORA VOCÊ VAI VOLTAR LÁ E JOGAR COMO HOMEM.”

Menos de 10 minutos depois, o pai já não estava mais no campo com o filho.

Não sei se devo fazer mais qualquer comentário sobre isso. Apenas ressalto a importância do uso das aspas.

Imagem: caoazul.com

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One Reply to “Um sábado machista qualquer…”

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