O decantado carnaval da crise se refletiu muito mais nas arquibancadas que na pista. A sexta-feira costuma ser um dia menos procurado de ingressos mas a insistente propaganda negativa e que as escolas da Série A viriam pobres no visual afastou ainda mais o público. Uma pena porque, na verdade, o que se viu na Sapucaí não estava plasticamente muito diferente do que costuma ser uma apresentação do grupo de acesso do carnaval carioca.

Havia muita reciclagem de alegorias e fantasias? Sem dúvida. Quando não houve? E os sambas-enredo? E as baterias? E a força da dança e das coreografias das comissões de frente sem trambolhos cenográficos? Vamos falar de coisas boas?

E, na primeira noite, falar de coisa boa é falar da Estácio de Sá. A herdeira direta da Deixa Falar, comemorando noventa anos no quintal de casa, a Marquês de Sapucaí, foi o destaque da primeira noite. Com um visual em que soube respeitar as tradições sem deixar de apostas na inovação, a escola do morro de São Carlos passou muito bem o recado em seu enredo sobre o comércio popular, as feiras livres, a história do comércio na cidade desde a sua fundação. Mesclou fantasias de pegada mias clássica com soluções bem humoradas, como o setor dedicado aos imigrantes. O Leão desfilou leve e feliz, mesmo sem ter um samba que se destaque na safra.

Outra escola que, a despeito do samba, fez bela apresentação foi a Porto da Pedra. Jaime Cezário tem um viés muito claro e leve de contar e desenvolver enredos. E esse estilo casou bem com o Tigre nos últimos anos. A comissão de frente foi a mais criativa e bem resolvida da noite e a homenagem – justíssima – às Rainhas do Rádio proporcionou um bonito desfile. A lamentar erros de evolução que assolam a Porto da Pedra vez por outra no carnaval. Houve imprecisão de movimentação da escola na entrada e na saída da bateria do recuo.

Talvez por isso, tecnicamente, o Império da Tijuca tenha passado com menos percalços. O enredo mias denso, de menor identificação imediata para os não iniciados nos ritos e tradições do candomblé, teve um visual caprichado e um samba que funcionou e foi muito bem cantado. Sendo assim, os destaques da sexta-feira foram o Leão, o Tigre e a Formiga. Difícil dizer se uma delas quebrará a escrita da campeã nunca sair da sexta-feira. Provavelmente não, dada a força e expectativa de outros grandes desfiles para a noite de sábado. Mas deram conta do recado.

Das três que passaram para permanecer no grupo a missão mais bem cumprida foi da Renascer de Jacarepaguá. A fórmula não é nova -as alegorias e fantasias tampouco eram. Um bom samba, uma boa bateria, um bom canto. Dessa vez com carros e figurinos simples mas bem dentro do enredo sobre Villa-Lobos e a floresta amazônica.

Sossego e Bangu, que dividem barracão e tentam não voltar para o purgatório da Intendente Magalhães, cumpriram rituais semelhantes. Apostaram em grandes sambas, baterias ousadas e canto forte. Na estética, ponto a favor da escola da Zona Oeste. Com Cid Carvalho desenvolvendo um bonito enredo sobre a nobreza africana escravizada no Brasil, a Unidos de Bangu teve bons momentos, como o abre-alas em palha e soluções mais bem acabadas em fantasias. A azul e branco de Niterói passou mais simples nos quesitos fantasia e alegorias e adereços. Porém, errou menos na pista. Bangu conseguiu a proeza de mesmo com pequeno contingente estourar o tempo de desfile em um minuto. Vão aguardar as apresentações de hoje para suspirar de alívio ou botar as barbas de molho.

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Fotos: Pedro Migão

3 Replies to “Estácio de Sá se destaca na sexta-feira de desfiles na Série A”

  1. Destaque da Série A para mim foi você amigo. Ainda não tinha visto a Série A pela Tv e parabéns pelo trabalho. Você gosta de samba, mostra esse amor na transmissão e assim consegue representar a nós todos. Sucesso para seu Império Serrano e parabéns mais uma vez pela transmissão.

  2. Duas coisas:
    – Estácio de Sá não é e nunca foi herdeira direta ou indireta da Deixa Falar;
    – Estácio de Sá é representante de todo o bairro do Estácio. Ela deixou de ser representante somente do Morro do São Carlos quando deixou de chamar Unidos de São Carlos.

  3. Valeu, Villar. Grande abraço. E sobre a relação Estácio/Deixa Falar, Carlos, eu acho que isso é discutir o Sexo dos anjos. Se a escola se considera a herdeira – e todo ano reafirma essa condição – está no seu direito legítimo. Sinceramente, o vácuo temporal entre o fim da Deixa Falar e a criação da São Carlos não desfazem esse laço. As cores foram mantidas e, acima de tudo, os baluartes e ícones incorporados. Ainda que, historicamente, você esteja coberto de razão. A Deixa Falar foi extinta antes de as escolas de samba tomarem forma como as conhecemos hoje. Abraços

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