No último sábado o Departamento Cultural da Portela promoveu uma série de atividades no MAR (Museu de Arte do Rio), aproveitando o ensejo da exposição sobre o samba e suas origens em cartaz no museu.
Entre as atividades, promoveu-se uma mesa redonda sobre Clara Nunes, o enredo da Portela para 2019, bem como a sua inserção neste mesmo enredo.
Ocorrida na parte da manhã, reuniu o autor da biografia da cantora, o escritor Vagner Fernandes; o presidente Luiz Carlos Magalhães; o presidente do Conselho Deliberativo e diretor de Carnaval Fábio Pavão; o escritor e biógrafo de Candeia João Baptista Vargens; e a pesquisadora e sub-secretária municipal de Cultura Rachel Valença.
O presidente Luiz Carlos Magalhães, em sua explanação e posteriores intervenções, disse que o enredo havia sido uma decisão da diretoria e que o formato final foi resultado de negociações entre a diretoria executiva, a diretoria de carnaval e a carnavalesca.
Entre outras informações, o presidente da Portela disse que o título original do enredo deveria ser “Nação” (em alusão ao disco de mesmo nome da cantora), mas que o título final é da carnavalesca Rosa Magalhães.
Outro tópico importante, embora não diretamente sobre o enredo, é que na visão do Presidente há possibilidade de se fazer carnaval sem patrocínio, desde que a escola não tenha dívidas anteriores.
Ele ressaltou (apoiado por Fábio Pavão) que o modelo de patrocínio é algo diferente de outras manifestações culturais, porque as empresas patrocinadoras não conseguem ver suas marcas e/ou empresas inseridas em uma história maior; sempre solicitam que seja contada a história dela em si mesma.
Um outro ponto abordado nessa linha (já quase no final) foi de que as escolas como um todo necessitarão mostrar mais transparência e governança corporativa se quiserem ser mais atrativas a patrocínios. É uma exigência do mercado hoje.
Sobre a Portela, para 2019 a escola teve patrocínio da empresa do estilista Jean Paul Gaultier, mais alguns apoios de menor monta. E que em ano anterior chegou a se negociar um enredo sobre o papa Francisco e sua história na Argentina.
A exposição do diretor de carnaval Fábio Pavão focou-se mais no enredo em si e em sua estruturação. Nos dois vídeos que coloco aqui ele explica o enredo e seus setores, trazendo algumas informações que ainda não haviam sido divulgadas pela imprensa – especialmente sobre o primeiro e o último setor.
Pavão também reforçou o papel de Clara Nunes e sua relação com a Portela, introduzindo o tema que seria abordado pelo seu biógrafo Vagner Fernandes na palestra seguinte.
Vagner Fernandes abordou pontos da biografia de Clara Nunes, e contou como a cantora chegou à Portela: Carlos Imperial, que era amigo de seu então namorado, havia sido preso como “subversivo” após enviar um cartão de Natal onde aparecia sentado em um vaso sanitário.
Ele ficou preso na Ilha Grande, ao lado de Castor de Andrade e Natal, e este último fez um convite para que visitasse a Portela quando fosse solto, o que ocorreu. Clara Nunes foi extremamente bem recebida e, a partir daí, iniciaria sua história com a escola.
Vagner Fernandes também pontuou que a carreira de Clara Nunes foi extremamente curta: na prática foram 12 anos – de 1971 a 1983. Ela foi a primeira cantora a vender 1 milhão de discos e a primeira a colocar temas como a identidade de gênero, entre outros, no debate público. Não que fosse uma militante; era do comportamento padrão dela.
Rachel Valença, em seu pronunciamento (em parte nos três vídeos neste post), dissertou sobre as escolas de samba como um todo e sua relação atual com a sociedade. Também mencionou a importância de Adelzon Alves como mentor de Clara Nunes, entre outras questões.
Também mencionou a relação de Clara Nunes com o Império Serrano.
João Baptista Vargens, que originalmente não faria parte da mesa (substituiu a carnavalesca Rosa Magalhães, que não pôde comparecer por demandas do barracão), fez sua intervenção contando sobre os grandes bambas da Portela e a relação das escolas de samba com a Academia.
O evento da manhã se encerrou por volta das 13 horas e contou com aproximadamente 70 pessoas. No final houve sorteio de brindes.
Adicionalmente, a exposição sobre o samba merece uma visita atenta. Entre outros, temos preciosidades como as fantasias da bateria e do casal de “Kizomba”, a meu juízo o maior desfile da história da Sapucaí (acima).
Em tempo, uma outra exposição que merece uma visita atenta é sobre os 70 anos da Beija Flor, no Centro Calouste Gulbekian (em frente ao Terreirão do Samba). Como trabalho pertinho, estive lá há cerca de quinze dias, na hora do almoço. Recomendo bastante.
Imagens e Vídeos: Ouro de Tolo