Módulo 1

Julgadora: Verônica Torres

  • Império – 9,8
  • Grande Rio – 9,9
  • Mocidade – 9,9
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Salgueiro – 9,9
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Portela – 9,7
  • Vila Isabel – 10
  • Imperatriz – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Viradouro – 10

Verônica se notabilizou por ser bastante detalhada em suas justificativas e por ter um olhar clínico para embolação de alas. Esse ano, mesmo estando logo no início da avenida, onde isso costuma ocorrer menos, ela ainda notou este ocorrido no Império, Mocidade e Tuiuti. 

Outro ponto interessante neste caderno para que as harmonias tomem cuidado nos próximos anos é que várias escolas pararam suas baterias em frente ao módulo duplo para se apresentar, mas o resto da escola foi embora abrindo buracos evidentes. A julgadora anotou isso com Império, Grande Rio e Tijuca.

A julgadora também não se deixou enganar por musas em frente a alegorias, justificando em várias escolas aqueles claros que às vezes ocorrem quando um carro “demora a pegar” e a destaque tenta preencher o espaço correndo para todos os lados.

Em relação à aderência ao quesito, fidelidade ao ocorrido e tratamento homogêneo na avaliação dos problemas nas escolas, pouco há o que se falar pois é um bom caderno de julgamento.

Minhas observações ficam mais em relação à dosimetria. É inegável que a julgadora foi correta na arrumação das “prateleiras”. Nenhuma escola com maiores problemas recebeu nota melhor do que outra com problemas de menor monta. Porém acredito que este seja um bom momento para  repensarmos a dosimetria deste quesito como um todo.

Em toda a história de 8 anos da Justificando, já contando a polêmica nota do próximo módulo, tivemos apenas quatro notas 9,6 neste quesito. É um quesito que praticamente só varia de 9,7 até 10, mesmo que tenhamos desastres completos. 

Um exemplo claro é a própria Portela neste ano, que mesmo com todo o ocorrido levou no máximo 9,7. A Beija-Flor no ano da cratera de 2013 só ganhou um mísero 9,9 e com o descarte gabaritou o quesito. O queijo-suíço da Grande Rio em 2020 sequer recebeu 9,8.

O resultado desse achatamento, principalmente quando há um desastre como o da Portela, é uma dosimetria que chamaria de “exponencial” e que ficou evidente neste caderno. 

O mesmo 9,9 é dado para várias escolas, seja por um micro erro seja por uma quantidade maior de pequenos problemas. Neste caderno, por exemplo, o Salgueiro, que apenas apresentou um pequeno buraco entre a destaque e a alegoria, ganhou o mesmíssimo 9,9 da Grande Rio, que por sua vez abriu 2 buracos e ainda espremeu muito além do razoável a destaque que vinha à frente da alegoria 2 (eu ainda acrescento que todo o setor atrás dessa alegoria também estava espremido muito além do razoável na minha avaliação).

Para ganhar o 9,8, tem que apresentar uma evolução péssima, cheia de problemas. No caso deste caderno, o único 9,8 foi para o Império por causa de 3 buracos (um deles, o da parada da bateria, de tamanho razoável), uma penetração de ala, e uma correria no setor final. Agora comparem a quantidade de problemas do Salgueiro e do Império. Um décimo apenas é o suficiente para separar as escolas? Fica a pergunta.

Por fim, ainda usando a dosimetria deste caderno, para se ganhar um 9,7 é necessário abrir um buraco destaque/ala, abrir um buraco de 1,5 setor por oito minutos com um carro completamente travado na avenida, ter correria em outras 2 ou 3 alas para tapar o buraco aberto, abrir um último buraco na penúltima alegoria e ainda ter a progressão da dança prejudicada por todos esses problemas, que começaram ainda no meio da escola. Pois foi isso tudo o que a julgadora anotou para a Portela.

Perceberam como a medida que a nota vai caindo a quantidade de problemas para justificar a perda desse décimo a mais é muito maior e que a zona do 9,9 ficou um tanto congestionada com escolas de variados níveis de problemas?

Talvez tudo ficasse mais natural se os 9,6 fossem soltos com mais naturalidade. Assim a Portela receberia o 9,6, o Império 9,7 (ou até 9,8, talvez) e ainda haveria espaço para dividir a prateleira do 9,9 em reais 9,9 (pequeno problema) e 9,8 (pequenos problemas em mais quantidade).

Aliás, eu não sei até que ponto Verônica chegou a pensar em dar 9,6 para a Portela e mudou de última hora, porque nas justificativas, ela juntou o problema dos dois primeiros buracos e anotou do lado “(-0,2)”. Depois pegou os problemas de correria com o último buraco e anotou do lado “(-0,1)”. Por fim, ao falar na quebra da progressão da dança, ela anotou do lado mais uma vez “(0,1)”. Somando tudo, daria um desconto de quatro décimos, ou seja, 9,6. Mas a nota escrita e assinada para a Portela realmente está 9,7 sem qualquer dúvida ou rasura.  

Mas, repito, em relação à dosimetria como um todo, não é um problema desta julgadora. É um comportamento sistêmico de todo o quesito Evolução desde tempos imemoriais, sendo que neste tempo já passaram por este quesito inúmeros julgadores. A julgadora em si, dentro do quadro de consenso atual deste quesito, fez um bom trabalho de julgamento. O que discuto aqui é justamente uma possível mudança de pensamento coletivo, até talvez de uma diretriz mais enfática na instrução dos julgadores.

 

Módulo 2

Julgador: Gerson Martins

  • Império – 9,6
  • Grande Rio – 9,8
  • Mocidade – 9,9
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Salgueiro – 9,9
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Portela – 9,7
  • Vila Isabel – 9,9
  • Imperatriz – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Viradouro – 10

Especialmente em Evolução, é interessante notar como em um módulo duplo podem haver duas visões diferentes do mesmo desfile e, não necessariamente, uma delas está errada, principalmente quando nos deparamos com um desfile caótico no quesito como o da Portela.

Por exemplo: Verônica no módulo 1 reparou todos os vários problemas relatados acima em relação a Portela. Já para Gerson, fora a cratera resultante da alegoria 03 e o buraco da alegoria 4, não houve nenhum problema de fluidez na escola. Inclusive ele escreveu que “apesar do enorme buraco, não houve correria das alas seguintes”, o exato oposto do descrito por Verônica. Então houve ou não houve correria? Depende da sua visão! Houve um ligeiro aperto no passo, mas fiquei com a impressão que fica naquela zona cinzenta que depende da avaliação de cada um.

Eu, particularmente, assistindo o desfile do mesmo ponto, tive uma 3ª visão diferente. Para mim realmente a escola não correu após o problema do carro 03, porém até pelos problemas de locomoção desta alegoria e de outra por toda a avenida, a escola em seus setores finais mostrou uma lentidão excessiva, com muitos “para e anda”, que atrapalharam a progressão da dança e merecia um desconto. Necessariamente, ao menos um de nós está errado? Não. É perfeitamente possível haver percepções diferentes, principalmente quando o caos se instala. Mesmo com essas percepções totalmente diferentes, todos nós três concluímos que a nota para a escola deveria ficar entre 9,6 e 9,7.

 Quanto à escrita das justificativas e os motivos dos descontos, todos eles estão claros e condizentes com os critérios do quesito e, salvo uma escola, sua dosimetria é facilmente entendível.

Porém, a grande polêmica deste caderno é justamente como o julgador conseguiu dar uma nota ao Império menor do que a nota da Portela, apesar de todo o desastre ocorrido em frente a esta cabine.

É justamente aqui o único problema de dosimetria deste caderno porque realmente o 9,6 dado ao Império não se coaduna com todo o resto do caderno deste julgador.

Por exemplo; para o Salgueiro e para o Tuiuti, o 9,9 foi justificado por dois pequenos buracos em frente a alegorias. Já para a Portela o enorme buraco de 1,5 setor e 8 minutos e outro pequeno buraco a frente a alegoria 4 juntos foram os únicos problemas apontados para o desconto de três décimos.

No Império, por conta de dois buracos em frente a alegoria (este julgador não escreveu sobre o buraco na apresentação da bateria), um décimo foi embora. Até aqui, está condizente com as outras justificativas.

Por causa de uma penetração de ala, a única vista por este julgador e a mesma vista por sua colega de módulo, se foi outro décimo inteiro. Neste ponto, ate é discutível se deve-se retirar um décimo inteiro apenas por isso, pois nenhuma escola recebeu 9,9 neste caderno por apenas um pequeno problema. Porém, em favor do julgador, pode-se usar os exemplos de Grande Rio e Portela para alegar semelhanças.

Para mim, a grande “mão pesada” foi no último ponto. O julgador alegou uma brusca aceleração da alegoria 04, o que implicou em uma correria das alas 24 e 25 (fato também relatado por Verônica) e apenas por isso se foram 0,2 décimos. Aqui sim creio ter havido um erro mais nítido de dosimetria. Uma mera correria temporária de 2 alas justifica um desconto seco de 0,2 décimos? Creio que não, ainda mais comparando com a justificativa escrita para a Portela e seu enorme buraco. 

O desconto de apenas um décimo aqui ou juntar essa correria com a penetração para tirar 0,2 décimos, seria mais coerente na minha opinião e igualaria a nota do Império com a da Portela, em 9,7. Isso seria mais condizente com o visto na avenida e o relatado pelo próprio julgador para ambas as escolas.

De qualquer forma, fosse a nota do Império 9,6 ou 9,8 não mudaria em nada o resultado final pois com qualquer delas seria a nota descartada. Inclusive, esse é um dos motivos primordiais de existir o descarte, justamente para que uma visão muito divergente da média, que não necessariamente indica um mau julgamento, apenas uma opinião divergente, não influa no resultado final do Carnaval.

Módulo 3

Julgadora: Lucila de Beaurepaire

  • Império – 9,8
  • Grande Rio – 9,9
  • Mocidade – 9,8
  • U. da Tijuca – 10
  • Salgueiro – 9,9
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 10
  • Portela – 9,8
  • Vila Isabel – 10
  • Imperatriz – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Viradouro – 10

Normalmente o módulo do meio da pista é o mais tranquilo para Evolução. Normalmente os problemas ocorrem no início, com a entrada da escola provocando buracos ou no final com a confusão do recuo de bateria aliada a famosa inclinação da pista no setor 9 (sim, leitores, a Sapucaí não é exatamente reta e o fato dos carros costumarem “tombar” a esquerda na altura do setor 9 é relativamente conhecido).

Dessa forma, normalmente só sobra para esse módulo aqueles claros que as vezes acabam acontecendo por causa de alegorias ou um julgamento mais focado na dança e na empolgação dos componentes. Como para todos os 3 julgadores até aqui todas as escolas passaram empolgadas, vibrantes e dançando, só sobrou para Lucila justificar os claros e as alas espremidas.

Nesse ponto, seu caderno é coerente, as justificativas claras, dentro dos critérios de julgamento do quesito e com dosimetria entendível. Mais uma vez Lucila se notabilizou pela quantidade de alas espremidas que encontrou em 4 das 6 escolas que penalizou.

Porém neste ano eu realmente acredito que isso possa ter ocorrido. Se esse problema já foi recorrente no início da pista este ano, é bem possível que no meio da pista ele tenha se avolumado.

Única correria relatada foi a da Portela, já reflexo do problema ocorrido no início do desfile.

Módulo 4

Julgador: Mateus Dutra

  • Império – 9,9
  • Grande Rio – 9,8
  • Mocidade – 10
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Salgueiro – 9,8
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 10
  • Portela – 9,7
  • Vila Isabel – 10
  • Imperatriz – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Viradouro – 10

Mateus teve uma ótima estreia ano passado e em seus dois desfiles ficou no último módulo e lá foi implacável com as correrias ano passado e neste ano com paradas prolongadas.

Neste ano, a exceção de Salgueiro e Imperatriz, ambas descontadas por buracos provocadas por seus abre-alas (no caso da primeira o buraco foi grande o suficiente para ele descontar dois décimos de uma só vez), todas as escolas descontadas tiveram uma parada completa por 4min ou mais, o que realmente não é justificável por questões de desfile no último módulo.

Por outro lado, ele só apontou leves correrias de Portela e Império já na parte final de ambas as escolas. 

Mais um bom caderno do julgador, com justificativas bastante detalhadas e pertinentes ao quesito e uma dosimetria de fácil entendimento, mesmo que se possa discutir, até por comparação com as justificativas de Grande Rio e Salgueiro, se a nota mais justa para o Império depois de todo o relatado pelo julgador não seja o 9,8. Ao mesmo tempo,  também é perfeitamente possível se defender o 9,9 aplicado, fica na zona fronteiriça.

Finalizando o quesito, é interessante notar que a exceção da Verônica no modulo 1 para a Portela, não houve nenhum desconto por falta de empolgação ou progresso de dança. Isso não é uma crítica, é apenas uma observação que facilita a avaliação do quesito de uma forma mais objetiva.

Recomendações para a LIESA no quesito Evolução:

  • Reforçar com os julgadores a necessidade de se reavaliar a dosimetria neste quesito, tornando as notas 9,6 mais naturais quando necessário.
  • Clarificar no Manual do Julgador em Evolução que a parte conceitual ou de execução de alas coreografadas não devem ser julgadas no quesito.
  • Dar maior clareza no Manual do Julgador entre a diferença deste quesito e Harmonia. A alteração de 2022 já melhorou bastante, mas creio ser possível definir critérios de julgamento mais claros e detalhados em Harmonia.
  • Verificar a possibilidade da instalação de alguma luz na cabine de julgamento dos primeiros módulos para avisar ao julgador de evolução que está ocorrendo alguma apresentação obrigatória da escola a frente e que tal parada da escola não deve ser despontuada.