O vídeo:

Chegamos ao fim de mais uma temporada da Justificando o Injustificável, com comentários detalhados de cada um dos 36 cadernos de julgamento do Grupo Especial.

Normalmente, eu faço uma pequena avaliação geral do julgamento e atualizo a lista de sugestões gerais para a LIESA visando a melhora do julgamento de forma global. Quanto às sugestões gerais, reitero que esta última lista é focada apenas em sugestões gerais para todos os quesitos, ou ao menos para a maior parte deles, já que as sugestões específicas de cada quesito são passadas ao final de cada texto e cada vídeo.

Porém este ano pouparei tempo e espaço em relação à avaliação do julgamento e o faço por um motivo simples: acredito que o julgamento teve um nível tanto no geral como em cada um dos quesitos muito parecido com 2023. Então, leiam o texto feito ano passado que ele se aplicará também para 2024 – apenas com as duas diferenças do próximo parágrafo.

Esse ano os acompanhantes receberam uma atenção melhor da LIESA como pedido após os problemas do ano passado e, diferente de 2023, tivemos uma escola com resultado final um pouco discrepante em relação ao que vimos na pista: o 4º lugar do Salgueiro. Após as várias conversas pós-carnaval acredito que seja praticamente um consenso que ela ficou umas duas ou até quatro posições acima do que deveria. Mas também não é algo que macule indelevelmente o resultado do julgamento.

Então vou aproveitar esse texto final para fazer algo novo e trazer alguns dados estatísticos sobre o julgamento deste ano.

O primeiro dado que achei interessante é que, no “olhômetro”, achei que a quantidade de notas 10 esse ano foi bastante inferior a 2023. Porém fui traído pela minha mente. Nos números frios até se reduziu de 221 para 210, ou em percentual, de 51,16% para 48,61%. Não é uma redução drástica.

Porém, defendo há algum tempo que não basta olhar a quantidade de notas 10 dadas. É muito importante olhar toda a escala, pois não adianta deixar de dar notas 10 e simplesmente abarrotar seu caderno com notas 9,9. É muito importante ver toda a distribuição de notas.

Pois bem, em relação às notas 9,9 elas praticamente ficaram inalteradas entre 2023 e 2024, mas ainda sim caíram. De 116, ou 26,85% em 2023, passou para 111, ou 25,69% em 2024.

Ou seja, o que subiram foram descontos mais drásticos de 9,8, que saltaram de 70, ou 16,2%, para 78, ou 18,06%; 9,7, que saltaram de 17, ou 3,94%, para 24, ou 5,56%, e os 9,6 que saltaram de 6, ou 1,39%, para 9, ou 2,08%. Lembrando que em 2023 houve dois 9,5 em fantasias que não teve no mapa de 2024.

Porém esses números gerais não mostram aquele que, para mim, hoje é o principal gargalo do julgamento: o maior impacto dos quesitos plásticos, mais caros e de mais difícil acesso a algumas escolas, quanto ao resultado geral comparados com os quesitos de “pista”.

Até 2022, mesmo que os quesitos plásticos sempre tenham uma maior prevalência, essa distribuição ainda mostrava algum equilíbrio. Até que em 2023 a balança pendeu fortemente para os quesitos plásticos e em 2024 esse problema ainda piorou!

Quero chamar a atenção de vocês a um dado. Em 2023, mesmo que a média geral de notas 10 tenha ficado em 51%, separando por quesitos, apenas dois deles apresentaram menos de 40%: justamente Alegorias, com 31,25% e Enredo, com 39,58%. Em compensação, Samba-Enredo apresentou 56,25% e Mestre-Sala e Porta-Bandeira (MSPB) 58,33%.

Logo, a corda arrebenta nos 9,8, 9,7 e 9,6. Os quesitos plásticos concentram uma quantidade de notas mais baixas desproporcionais em relação aos outros. O resultado final disso não é muito difícil de prever. Já com os descartes, os quesitos plásticos (Alegorias, Enredo e Fantasias) retiraram 9,9 pontos das escolas. Já os quesitos musicais (Harmonia, Samba e Bateria) retiraram apenas 3,7, sendo que desses nada menos que 2,2 foram apenas em Harmonia.

Esses números de 2023 já são impactantes, certo? Pois eles pioram em 2024.

Se Alegorias manteve os mesmos 31,25% de notas 10, Enredo despencou para 29,17%. Fantasias também caiu um pouco e ficou em 45,83%. Já Samba-Enredo praticamente manteve sua porcentagem com 54,17% e MSPB ficou nos mesmos 58,33%. O único outro quesito que reduziu bastante sua quantidade de notas 10 foi Comissão de Frente, logo o quesito mais caro após alegorias, que de 54,17% em 2023 caiu para 45,83%.

Pior, se formos olhar as notas mais baixas, elas são praticamente dominadas pelos quesitos plásticos. Das nove notas 9,6 de 2024, tirando as três para evolução excepcionalmente terrível da Porto da Pedra, todos eles são dos quesitos plásticos, sendo cinco de Alegorias e um de Enredo.

Se formos para os 9,7 o panorama não é muito melhor. Das 24 notas 9,7 nada menos que 16, ou dois terços, são dos quesitos plásticos: oito em Enredo e quatro tanto em Fantasias e Alegorias. Dos quesitos musicais, apenas duas em Samba-Enredo e outras duas em Harmonia, dadas pelo mesmo julgador.

Uma última estatística apenas para terminar de ilustrar o que quero demonstrar: enquanto houve dez notas 9,8 em samba-enredo, praticamente o piso deste quesito, foram nada menos que treze em Alegorias, sendo que mesmo após esse catatau de 9,8 ainda tivemos os 9,7 e os 9,6 indicados.

Obviamente o resultado final dessa discrepância salta aos olhos na quantidade de décimos subtraídos das escolas em cada quesito, já retirados os descartes, aqui mostrados em ordem decrescente:

  • Alegorias 4
  • Enredo  3,9
  • Fantasias 2,8
  • Evolução 2,6
  • Harmonia 2,1
  • Comissão de Frente 2
  • Samba-Enredo 1,8
  • MSPB 1,7
  • Bateria  0,5

Percebam que os três quesitos plásticos estão nos três primeiros lugares enquanto dois dos três musicais estão na parte final. Agrupando os quesitos, já considerados os descartes, os plásticos retiraram enormes 10,7 pontos, os de dança 6,3 pontos e os musicais apenas 4,4, ou seja menos da metade dos pontos retirados pelo visual.

Para um gestor que gosta de números e gráficos qual é a mensagem que fica? Foque nas artes plásticas?

Aqui está uma breve explicação do porquê acho que os julgadores de Samba-Enredo precisam urgentemente rever seus parâmetros de julgamento.

Como fazemos desde 2022, a Justificando o Injustificável 2024 termina com uma lista de sugestões gerais para melhorar o julgamento dos quesitos como um todo nos próximos anos, lembrando que as recomendações específicas já foram dadas ao final das colunas de cada um dos quesitos.

  1. Criar uma logística que permita aos julgadores uma rápida saída do Sambódromo de volta ao hotel oficial para que nele, com calma e longe do confusão da Sapucaí, eles possam finalizar e lacrar seus cadernos de julgamento com calma. Nesse caso, é possível que a versão definitiva do caderno de julgamento só seja entregue ao julgador no próprio hotel durante a manhã de terça, assim que ele entrar no local designado para a escrita do caderno.
  2. Deixar expresso em algum lugar do Manual do Julgador que o julgador deve se ater somente ao seu campo visual/sonoro para fazer sua avaliação e justificativa. Apesar de ser algo costumeiro, não está expresso. Em Harmonia e Evolução, especificamente, essa indefinição está gritante.
  3. Manter e aprofundar o diálogo institucional já criado entre julgados e julgadores em cada quesito. A situação com os compositores ainda é um desafio.
  4. Criar um calendário com reuniões posteriores com os julgadores para fornecer um feedback do trabalho por eles realizado e receber o mesmo feedback dos julgadores sobre as dificuldades que eles tiveram para realizar seu trabalho. Essa conversa também pode servir para entender melhor eventuais ocorrências inusitadas que poderão se tornar base para melhorias futuras do sistema de julgamento.
  5. Abolir os subquesitos no julgamento de todos os quesitos, porém mantendo a divisão nos critérios de julgamento. Isso permitirá ao julgador uma maior liberdade para implementar sua dosimetria entre os melhores e os piores, podendo juntar pequenos problemas dos diferentes subquesitos para tirar apenas um décimo, o que é teoricamente proibido na dinâmica atual. 
  6. Verificar a ausência de julgamento em qualquer dos nove quesitos da conexão artística entre alegorias e fantasias. Hoje, mesmo que elas sejam totalmente desconexas artisticamente entre si, não há nenhum quesito que puna isso.

Mais uma vez agradeço imensamente a todos que acompanharam a Justificando o Injustificável 2024 e, sempre, de forma especial aos julgadores que aceitaram a conversa proposta. Suas experiências gentilmente compartilhadas são fundamentais para a qualidade desta série.

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