O vídeo:
Módulo 1
Julgadora: Verônica Torres
- Porto da Pedra – 9,6
- Beija-Flor – 9,9
- Salgueiro – 9,9
- Grande Rio – 10
- U. da Tijuca – 10
- Imperatriz – 10
- Mocidade – 9,8
- Portela – 10
- Vila Isabel – 10
- Mangueira – 9,9
- Tuiuti – 10
- Viradouro – 10
Verônica seguiu mais uma vez o seu padrão, digamos, objetivo, e se focou na fluência e coesão da escola. É um critério que está dentro do quesito e evita polêmicas desnecessárias sobre empolgação e entusiasmo dos componentes. Entendo essa escolha de usar isso como princípio norteador do julgamento do quesito.
Basicamente suas justificativas se baseiam em três pontos: abertura de buracos, situação profícua neste caderno esse ano (como é comum no inferno do início da pista para as direções de evolução), velocidade de fluência da escola e embolação de alas.
Na verdade, a julgadora só viu duas embolações: uma na Porto da Pedra e outra na Mocidade. Também só viu problemas de fluência em apenas duas escolas: Porto da Pedra, inicialmente parada por seis minutos e depois a corrida desembestada do último carro para cobrir o mega-buraco, e Mocidade com sua longuíssima parada por causa do abre-alas empacado na Apoteose. De resto, buracos e mais buracos. Segundo os relatos obtidos por quem estava neste módulo, todos os buracos realmente ocorreram e não houve omissões.
Porém acredito que o nó górdio deste caderno seja a dosimetria. Por mais que a julgadora coloque um “(-0,1)” ou “(-0,2)” em todo o caderno, da forma como eles estão postos dificulta o entendimento do critério adotado. Em alguns momentos eles estão no meio de uma explicação e não sabemos onde começa um décimo e termina o outro.
De qualquer forma, me parece haver problemas mais sérios de padronização para os descontos. Por exemplo, na Porto da Pedra ela descreve um buraco inteiro sem qualquer despontuação e depois relata o “hiper-super-mega” buraco causado pelo último carro (capa e acima), que a julgadora descreveu como dois grandes buracos pois tinha uma destaque no meio. Só ao final deste parágrafo ela coloca um “(-0,2)”. Ou seja, ela juntou um buraco (ou dois, não faz muita diferença aqui) de proporções bíblicas com outro buraco “normal” para tirar apenas 0,2.
Comparamos com o Salgueiro que perdeu seu décimo por apenas um mísero buraco normal e vemos que tem algo errado na dosimetria. Coloco a Mangueira com dois buracos e o mesmo desconto de um décimo e a situação fica ainda mais nebulosa. Se eu junto aqui a Mocidade, que precisou de dois buracos razoáveis, uma embolação de alas e uma parada de longuíssimos seis minutos para perder apenas 2 décimos, a tentativa de delimitar uma dosagem do quanto vale um décimo perde-se de vez.
Acredito que a culpa aqui seja justamente de um comportamento sistêmico do quesito enredo de usar o que chamei ano passado de “dosimetria exponencial”. Ou seja, o 9,9 é dado a várias escolas com problemas pequenos ou médios. O 9,8 para evoluções péssimas (como a da Mocidade) e o 9,7 para verdadeiras catástrofes como Portela 2023.
O “espaço” entre os décimos vai aumentando em proporções exponenciais à medida que vai caindo a nota. É preciso que a LIESA se atente a isso e dê as devidas recomendações para os julgadores terem “prateleiras” melhor arrumadas. Provavelmente um mero 9,7 para a Mocidade e outro 9,8 para a Mangueira já resolveria boa parte dos problemas descritos. Mas esse caderno teve sete 10, quatro 9,9, o 9,8 da Mocidade e já pulou para o 9,6 da Porto da Pedra.
Módulo 2
Julgador: Mateus Dutra
- Porto da Pedra – 9,6
- Beija-Flor – 9,8
- Salgueiro – 9,9
- Grande Rio – 10
- U. da Tijuca – 10
- Imperatriz – 10
- Mocidade – 9,8
- Portela – 10
- Vila Isabel – 10
- Mangueira – 9,9
- Tuiuti – 9,8
- Viradouro – 10
Pelo terceiro ano consecutivo, um caderno de justificativas precisas, claras e com dosimetria clarividente deste julgador. Aliás, é interessante verificar que Mateus não fica detalhando cada um dos décimos que tirou. Ele descreve todos os problemas encontrados e ao final diz que eles tiraram “x” décimos da escola.
Mas, mesmo sem essa minúcia, é muito fácil entender a dosimetria do julgador. Por exemplo, na Porto da Pedra houve uma pequena embolação das alas 3 e 4 e a ala 15 ficou muito espremida. Esses dois problemas se juntaram para tirar um décimo e a cratera lunar de três setores aberta pela última alegoria da escola retirou sozinha outros 3 décimos.
Também é interessante notar aqui que acho que é a primeira vez em toda a história da Justificando que um julgador tem a coragem de retirar 3 décimos de uma só vez pelo mesmo buraco. Acredito ser uma medida justa a partir do momento que não me recordo de nenhum buraco ter chegado na mesma dimensão de metade da avenida. Beija-Flor 2013 foi de dois setores e Portela 2023, um e meio.
De qualquer forma, raríssimos foram os julgadores que tiraram dois décimos desses buracos anteriores considerando que eram apenas “um buraco”, não importa o tamanho. Na minha opinião, o melhor critério de julgamento é o deste julgador que avalia a gravidade do buraco de acordo com o seu tamanho.
O buraco da Beija-Flor neste ano antes da alegoria cinco também causou a perda de dois décimos para a escola.
Outro ponto interessante é que no Tuiuti, além de descontar uma musa que retrocedeu na avenida, o que o Manual deixa claro ser proibido, ele descontou um buraco entre a ala 29 e a alegoria 5 que ocorreu “logo após passar pelo módulo 2, mas ainda no campo de visão desse julgador”.
Isso apenas reforça a importância da LIESA definir mais objetivamente o que é esse tal “campo de visão”, porque esse foi um buraco considerável e que não foi percebido pela outra julgadora do módulo duplo, que deu 10 para a escola.
A julgadora pode não ter visto o tal clarão? Pode, afinal o módulo dela fica no andar de baixo e isso dificulta um pouco a visão depois do módulo. Porém é perfeitamente possível que ela tenha visto a situação e decidiu não descontar porque ela achava que não estaria em seu “campo de visão”, ou simplesmente ela apenas olha para sua frente sem olhar para os lados, pois esse seria o “campo de visão” em sua opinião. Não temos como afirmar quem está certo ou errado enquanto não houver uma definição mais clara e objetiva do que a LIESA considera como “campo de visão”.
Módulo 3
Julgadora: Lucila de Beaurepaire
- Porto da Pedra – 9,7
- Beija-Flor – 9,9
- Salgueiro – 10
- Grande Rio – 9,9
- U. da Tijuca – 10
- Imperatriz – 10
- Mocidade – 9,8
- Portela – 10
- Vila Isabel -10
- Mangueira – 9,9
- Tuiuti – 9,8
- Viradouro – 10
Normalmente o módulo 3 costuma ser o mais tranquilo para evolução e a julgadora deste módulo precisa ser bastante rígida para conseguir tirar alguns décimos. Porém não foi o caso esse ano. Assistindo aos desfiles embaixo deste módulo, pude perceber alguns problemas mais sérios descritos neste caderno como o pequeno buraco deixado pelo abre-alas mangueirense, o último carro do Tuiuti que simplesmente não conseguiu acompanhar o ritmo frenético da escola no final do desfile e abriu um buraco além da cratera do último carro da Porto da Pedra que foi tão grande que chegou com proporções grandes também no campo de visão deste módulo, o suficiente para a julgadora tirar dois décimos de uma só vez e eu não contestar.
Porém, dois problemas gritantes de fluência simplesmente não existiram neste caderno. Ele omitiu completamente aquela longa parada de 6min da Mocidade por volta dos 50min em virtude dos problemas do abre-alas na dispersão. Ele só menciona a correria subsequente que ocorreu quando a escola voltou a andar.
Ele também não menciona o grande momento “Usain Bolt” do ano que foi a parte final do desfile do Tuiuti. Inclusive o tal claro do último carro que a julgadora menciona ocorreu justamente por causa disso: a escola estava correndo tanto que o carro, mesmo sem qualquer problema de mobilidade, simplesmente não conseguiu acompanhar o ritmo e “quebrou”, como se diz na gíria do atletismo.
No caso do Tuiuti, ela “compensou” essa falha ao ser bastante rígida e tirar um décimo da ala 29 que “acabou se desorganizando na tentativa de preencher o espaço vazio”, mesmo que não fique muito claro o que exatamente essa “desorganização” se consistiu (eu realmente espero que não seja uma eventual quebra do pretenso alinhamento da ala).
Agora, na Mocidade é difícil defender. A inclusão dessa parada gigante de 6 minutos provavelmente reduziria a nota da escola para 9,7 já que se somaria ao que foi descrito, ou seja, a correria ocorrida logo após essa longa parada e buracos internos nas alas 8, 9, 10 e 16. Como a julgadora usou uma régua rígida na qual os décimos iam embora por pouco, fatalmente a escola perderia mais um décimo pela longa parada e até a eventual retirada de um segundo décimo seria entendível.
Os outros problemas citados foram alas ou grupos desfilando espremidos, sem conseguir mostrar sua dança e empolgação.
Módulo 4
Julgador: Gerson Martins
- Porto da Pedra – 9,6
- Beija-Flor – 9,9
- Salgueiro – 10
- Grande Rio – 10
- U. da Tijuca – 10
- Imperatriz – 10
- Mocidade – 9,7
- Portela – 9,8
- Vila Isabel – 9,9
- Mangueira – 10
- Tuiuti – 9,9
- Viradouro – 10
Justificativas rápidas, diretas e sempre com a minutagem. Dosimetria também de fácil entendimento mesmo sem haver a especificação de cada décimo, mas sim um texto condensando todos os problemas encontrados. Sendo no último módulo, problemas não faltaram, já que nele estoura todos os problemas de dispersão.
Então a Porto da Pedra teve inúmeros problemas de buracos internos em alas, dois buracos e correria no final. Já a Mocidade além do já citado problemão com o abre-alas teve outra longa parada por volta de 1h de desfile (acredito que tenha havido problemas com a dispersão da alegoria 4, mesmo que o julgador só descreva a longa parada da escola) e um buraco na frente da volta da bateria
A Portela também parou por problemas com o abre-alas na dispersão, teve um claro interno em uma ala e uma ligeira aceleração no meio da escola; a Vila também parou provavelmente por problemas na retirada do abre-alas e o Tuiuti perdeu ponto por causa da correria que já relatei no módulo anterior.
Esta última justificativa é a única discussão sobre dosimetria que vou levantar neste caderno. Sabendo que o Tuiuti já correra a enormidade que acelerou no módulo 3, a lei da física e o relógio apertadíssimo da escola me levam a concluir que o problema só cresceu de tamanho neste último módulo, de forma que o julgador deveria retirar dois décimos. Principalmente se formos levar em conta o décimo que foi embora da Beija-Flor por dois problemas bem menores para ganhar a mesma nota. Inclusive o segundo décimo da Portela também foi embora por menos.
Finalizando o quesito, é interessante notar que os 4 julgadores se ativeram a julgar apenas as situações mais objetivas como fluência, coesão, embolação de alas e espaço para desfilar. Nenhum deles se enveredou a arriscar a quantificar a empolgação dos desfilantes. Sinceramente, dentro da tentativa de “objetificar o subjetivo” para evitar polêmicas desnecessárias, não contesto tal decisão.
Recomendações para a LIESA no quesito Evolução:
- Verificar a possibilidade da instalação de alguma luz na cabine de julgamento dos primeiros módulos para avisar ao julgador de evolução que está ocorrendo alguma apresentação obrigatória da escola a frente e que tal parada da escola não deve ser despontuada.
- Colocar no Manual do Julgador de forma bem delimitada o conceito de “campo de visão do julgador”.
- Reforçar com os julgadores a necessidade de se reavaliar a dosimetria neste quesito, tornando as notas 9,6 mais naturais quando necessário.
- Clarificar no Manual do Julgador em Evolução que a parte conceitual ou de execução de alas coreografadas não devem ser julgadas no quesito.
- Dar maior clareza no Manual do Julgador entre a diferença deste quesito e Harmonia. A alteração de 2022 já melhorou bastante, mas creio ser possível definir critérios de julgamento mais claros e detalhados em Harmonia.
Imagens: Pedro Migão/Blog Ouro de Tolo