Evolução foi um dos quesitos que mais sentiu a epidemia de 10 do novo julgamento. De 25, ou 52%, em 2024 saltou para enormes 31, ou 64%, se tornando o 3º quesito com mais notas 10, só atrás dos enormes 75% de Bateria e Mestre Sala & Porta-Bandeira.

Também temos que ter em mente que o julgamento de Evolução neste ano foi desafiador, especialmente para os dois primeiros módulos, porque pela primeira vez desde 2016 voltou-se a ter 4 paradas para apresentação de comissão e casal para os julgadores. Para os julgadores desses primeiros módulos entender quando a escola fez essa parada necessária e quando estava parada “à toa” não foi fácil. Eu, que estava quase em cima da faixa de meio da pista, já tive certa dificuldade, imaginem a situação dos julgadores do início da pista sem qualquer referência. Por isso, evitarei criticar a falta de desconto para paradas excessivas, especialmente nesses primeiros módulos. Afinal, na dúvida, o julgador não deve descontar.

Módulo 1

Julgadora: Verônica Torres

  • UPM –  9,9
  • Imperatriz – 10 
  • Viradouro – 10
  • Mangueira  – 10
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Mocidade – 10
  • Tuiuti – 9,8
  • Grande Rio – 10
  • Portela – 9,9

Verônica é julgadora bastante veterana com 7 desfiles de experiência e, apenas considerando as notas e as justificativas, fez um caderno correto e bastante fechado dentro dos limites do quesito Evolução.

Porém, mesmo desconsiderando as eventuais críticas às paradas excessivas, como expliquei na introdução, custo a acreditar que oito escolas passaram redondas no buraco-negro do módulo 1. O ato de puxar uma escola com carros imensos, musas, vários componentes e afins com uma curva fechada de 90 graus logo depois de um viaduto ou passarela é algo cada vez mais complexo e todos os esses problemas costumam estourar no nos primeiros metros de pista, exatamente onde está o módulo 1. Mas se isso realmente ocorreu, palmas de pé para as escolas que estão aprendendo a lidar com essa adversidade.

Porém, o grande calcanhar de aquiles deste caderno, mesmo com míseras quatro justificativas, é a dosimetria. Claramente as notas de Tuiuti e Portela estão completamente descalibradas para cima, seja pela coerência interna do próprio caderno seja com o senso comum.

Para a UPM, a julgadora anota um buraco entre a ala 11 e a musa logo atrás, além de um destaque de chão que passou muito espremido entre as alas 19 e 20 para tirar um décimo.

Já para a Unidos da Tijuca, um buraco bastante razoável entre a ala 20 e quarto carro com uma musa no meio foi o suficiente para a escola perder um décimo. Até aqui, tudo ótimo.

Agora vem o Tuiuti: um décimo foi por baixa vibração e empolgação. Por mais que esse décimo sempre seja polêmico, é difícil discutir. Os problemas do Tuiuti nessa seara são históricos e a extrema lentidão de entrada da escola deve ter exacerbado esse problema na parte final da escola já no início da pista como ficou nítido para mim no meio.

O problema é o outro décimo, que foi retirado por dois buracos e mais dois problemas com musas extremamente espremidas. Para isso tudo ela só retirou um décimo. Comparando com UPM e Unidos da Tijuca é fácil perceber que pelo menos um segundo décimo deveria ter sido descontado só nesses problemas.

Para finalizar, na Portela a julgadora descreve uma evolução bastante acidentada. Foram nada menos que três buracos, um deles de proporção considerável que nem duas destaques de chão em conjunto conseguiram disfarçar e para isso tudo ela retira o mesmíssimo um décimo de todas as outras escolas. Também é outra justificativa que implorava por um 9,8 apenas comparando com as outras justificativas do caderno. E se a julgadora resolvesse dar 9,7 por causa da gravidade do último buraco também seria aceitável.

Não obstante, a nota foi 9,9 em um claríssimo equívoco de dosimetria, que é um problema que persegue os comentários desta coluna a esta julgadora há muito tempo.

Módulo 2

Julgador: Gerson Martins

  • UPM – 9,8 
  • Imperatriz – 10
  • Viradouro – 9,9
  • Mangueira  – 10
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Mocidade – 9,9
  • Tuiuti – 10
  • Grande Rio – 10
  • Portela – 10

Outro julgador veterano de 5 desfiles, mesmo que com alguns problemas apontados em outras edições da Justificando, e outro caderno totalmente dentro dos parâmetros do quesito, com justificativas claras. Quanto ao escrito o único ponto a ressaltar é que a descrição do buraco notado próximo ao tripé “O Clã de Obatossi” da UPM não está completa pois faltou dizer se foi com a ala da frente ou a de trás. Mas é um lapso aceitável e se a escola quiser verificar as imagens, não será difícil localizá-lo na fita do desfile.

Quanto à dosimetria, praticamente tudo é entendível e aceitável com a exceção da Mocidade. Mais ou menos o julgador usou a régua de 2 problemas pequenos, incluindo buracos pequenos, para retirar um décimo de cada escola. Assim também foi feito na Mocidade que teve um buraco entre o carro 2 e a ala 8 e uma invasão da ala 10 no espaço de apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Porém, além desses dois problemas ele ainda acrescentou que “a escola apresentou falta de andamento e fluidez durante sua apresentação”, mesmo que sem especificar ou exemplificar essa afirmação. Se ele realmente verificou isso além dos problemas acima, deveria pela própria dosimetria adotada retirar pelo menos mais um décimo da Mocidade.

Por fim, acredito que a maior falha deste caderno é não despontuar o Tuiuti. A escola andou muito lenta por mais de 45min em frente a este módulo para, de repente, começar a correr desenfreadamente a partir de mais ou menos 1h07 de desfile. A correria já foi bastante perceptível ainda no módulo 2 e deveria ser despontuada. Foi uma clara quebra abrupta de fluência da escola, primeiro critério de avaliação deste quesito.

Só para fins de esclarecimento, aqui ainda é razoável aceitar o 10 para a Portela. Realmente a escola passou bem coesa neste módulo, mesmo que lenta, e ainda sem uma correria perceptível. A Portela só apertou um pouco mais o passo, ainda sim de forma bem mais suave que o Tuiuti, quando o fim da escola já estava quase na linha do meio, depois deste módulo.

Módulo 3

Julgadora: Lucila de Beaurepaire

  • UPM – 9,9
  • Imperatriz – 10 
  • Viradouro – 10
  • Mangueira  – 10
  • U. da Tijuca – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Mocidade – 9,8
  • Tuiuti – 9,8
  • Grande Rio – 10
  • Portela – 10

Dentro do que escreveu nas justificativas, caderno correto, respeitando os limites do quesito Evolução com uma dosimetria bastante clara. 

Inicialmente é importante clarificar que apesar da julgadora ter anotado que a ala de passistas da UPM “passou pelo módulo andando”, algo que não deveria ser avaliado pelo julgamento, afinal a ala não é obrigada a sambar e requebrar em frente ao julgador, as alas espremidas e os claros na pistas relatados anteriormente são mais do que suficientes para justificar a perda do décimo da UPM. Ou seja, não é real o que se espalhou nas redes sociais de que a julgadora teria retirado o décimo da UPM por este motivo. Mas  concordo que a julgadora poderia simplesmente não ter escrito isso e evitado a polêmica desnecessária.

Ela também explica de forma mais fácil de entender o que o julgador do módulo anterior pincelou sobre a Mocidade: “A escola evoluiu de forma irregular, alternando entre ritmos lento e acelerado, mudando a dinâmica do desfile.”. Inclusive duas dessas acelerações causaram problemas na fluência, o que gerou a perda do outro décimo. Por fim, a julgadora ainda despontuou falta de empolgação dos destaques (creio que deva-se ler “composições”) de alegorias de todos os carros, com a exceção do último. Inclusive, com a inclusão desse detalhe final seria até possível discutir uma possível nota 9,7 para a Mocidade, mesmo que o 9,8 seja perfeitamente aceitável dentro da dosimetria da julgadora.

Também é discutível a retirada de apenas um décimo pela correria do Tuiuti tamanha foi a correria imposta (o outro décimo foi por excesso de espaçamento interno em várias alas), mas a situação no módulo 3 ainda não foi tão desesperadora como no módulo 4, de forma que ainda creio ser defensável a posição da julgadora.

Porém a nota 10 da Portela é de defesa ainda mais difícil. Creio que a quebra da fluência da velocidade da escola na parte final desse desfile já foi mais nítida. Por mais que se crie a argumentação de que se ela só retirou um décimo do Tuiuti, com correria mais explícita, e ignorar essa aceleração da Portela seria coerente com a dosimetria adotada; creio que isso apenas explicita o caso de se discutir a correção da dosimetria adotada pela julgadora. Se uma quebra de fluência como a da Portela ainda não é descontável, talvez a rédea esteja mais solta do que recomenda o bom senso.

Módulo 4

Julgador: Matheus Dutra

  • UPM – 10
  • Imperatriz – 10 
  • Viradouro – 9,9
  • Mangueira  – 10
  • U. da Tijuca – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 9,9
  • Vila Isabel – 9,8
  • Mocidade – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • Portela – 10

Matheus tem um ótimo histórico de julgamento nesta coluna, sempre com um olhar bastante atento, mas neste ano vou criticar sua dosimetria, especialmente quanto a correrias e a altamente polêmica nota 10 da Portela.

Começarei com a justificativa da Vila Isabel na qual ele retirou pelo menos um décimo da escola “por causa da correria imposta a todo o 4º setor (medos de infância) e 5º setor (virados na bruxaria) da escola ao passar pelo módulo 4. Ambos os setores passaram na frente do módulo 4 em 7 minutos (dos 63 aos 70min de desfile).”.

Inicialmente, dois setores inteiros passarem em 7 minutos não é algo tão corrido. Nesse caso são 12 alas e 2 carros. É sim um aperto de passo, mas nada que aconteça algumas vezes. Até por isso, nem entrarei na discussão sobre o 10 dado no módulo 3 para a Vila, pois o mesmo continua sendo perfeitamente aceitável. Mas aqui o julgador já balizou o nível de gravidade de uma quebra de fluência para ser passível da perda de décimos.

Depois disso, vejamos a justificativa do Tuiuti: “A partir dos 68min de desfile, a escola começou uma correria em frente ao módulo 4, correria essa que começou na alegoria 3 e permaneceu até o fim da escola, atrapalhando de certa forma a evolução da escola.”. Aqui já são dois setores maiores do que o da Vila Isabel, com mais alas e um tripé a mais. Também sabemos pelas imagens da TV Globo que a correria da escola nessa fase final do desfile chegou ao ponto de desespero. 

Também pudera, o último componente passou da linha de meio com 74 quase 75min. A escola ter conseguido fechar o portão a tempo foi um milagre e eu nem precisaria ver as imagens da TV Globo para saber que ela correu horrores para isso, muito mais do que a VIla Isabel segundo o apontado pelo julgador. 

O próprio nível da correria imposta pelo Tuiuti nesse último setor, especialmente comparando com a Vila, já é passível de discussão, dentro da própria dosimetria do julgador, para a perda do segundo décimo. Mas, em benefício do julgador, aceitemos que ainda é apenas uma correria no limite para não perder o segundo décimo.

Depois de ler e ponderar essas duas justificativas, vem o 10 da Portela e com isso passa a ser impossível montar alguma lógica em que as 3 notas se encaixem. Só para contextualizar o leitor, o último componente da Portela passou na linha de meio da pista com 72min. Obrigatoriamente, para fechar o portão com 80min, algum ligeiro aperto será obrigatório, mesmo que não chegue perto do desespero do Tuiuti.

Mas vejam, o último componente da Portela teve que percorrer toda a 2ª metade da pista, que começa consideravelmente antes do módulo 3, o módulo anterior a esse, praticamente no mesmo tempo que o próprio julgador anotou que os dois últimos setores da Vila Isabel passaram por ele já no módulo 4, com uma diferença de apenas um minutinho.

Não é necessário ser nenhum Albert Einstein para chegar a conclusão que é fisicamente impossível a Portela ter corrido menos que a Vila Isabel para encerrar seu desfile. Logo, houve incoerência na aplicação do critério de julgamento.

Recomendações para a LIESA no quesito Evolução:

  • Verificar a possibilidade da instalação de alguma luz na cabine de julgamento dos primeiros módulos para avisar ao julgador de evolução que está ocorrendo alguma apresentação obrigatória da escola em momento posterior e que tal parada da escola não deve ser despontuada.
  • Colocar no Manual do Julgador de forma bem delimitada o conceito de “campo de visão do julgador”.
  • Reforçar com os julgadores a necessidade de se reavaliar a dosimetria neste quesito, tornando as notas 9,6 e 9,7 mais naturais quando necessário.

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