Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloísio Villar, faz um divertido resumo do que são os Jogos Olímpicos.
Tempos Olímpicos
E chegou aquilo que esperamos por quatro anos. Não, não são as eleições municipais, até porque ainda não chegou a época de vendermos nossos votos por jogos de camisas, dentaduras e apoio em nossas competições de sambas de enredo – para alguns meses depois reclamarmos que políticos não prestam e esquecermos em quem votamos.
Chegaram as Olimpíadas, aquela que para o mundo inteiro na frente da televisão, mas não na frente da Globo porque essa perdeu os direitos de transmissão. Momento de acompanharmos os melhores atletas do mundo e aqueles melhores dopados, que conseguem enganar a ciência e se juntar aos melhores atletas do mundo. Esses que morrem de câncer nos testículos aos trinta e oito anos – ainda que essa pessoa que morra de câncer nos testículos seja uma mulher.
Nessa época do ano viramos especialistas em ginástica artística, judô, natação, hóquei sobre a grama e badminton mesmo nem sabendo se esses esportes usam as mãos, pés ou bolas. Sabemos tudo sobre triplo tweet carpado e a diferença de um ippon para um wazari.
Reclamamos chamando de ‘amarelões’ aqueles esportistas que ignoramos por quatro anos, ganham 0,1% de dinheiro e apoio do que ganha um jogador de futebol e achamos que tem obrigação de ganhar medalha de ouro. Viramos especialistas em tudo: um país de duzentos milhões de Galvões Buenos.
As Olimpíadas surgiram na Grécia antiga. Tempo dos filósofos, do início do conceito de democracia e dos banhos termais onde rapazes passavam sabonetes uns nos outros.
Nesse tempo também surgiram os jogos olímpicos. Vários rapazes fortes e atléticos, do jeito que o Pedro Migão gosta [N.do.E.: eu?], corriam, saltavam, lutavam pelados. Se na época houvesse direito de transmissão com certeza seria do canal For Man.
Com o tempo, desistiram dos jogos, e os europeus arrumaram outras formas de diversão como queimar pessoas na Santa Inquisição, praticar grandes navegações e invadir nosso continente como se tivessem descobrindo, dizimando povos e suas culturas.
No século XIX o Barão de Coubertin trouxe de volta o ideal olímpico, fundou o COI (Comitê Olímpico Internacional) e em 1896 Atenas realizou as primeiras Olimpíadas modernas.
O Barão que tinha por ideal “O importante é competir” levou o lema ao pé da letra: morreu pobre gastando toda sua fortuna na luta pelos jogos enquanto muitos enriqueceram a sua volta. A propósito, como em tudo aquilo que o homem se organiza em grupos e tem o poder de render lucros.
Dizem que a primeira Olimpíada que deu lucro foi a de Los Angeles em 1984. Só se foi lucro para as cidades em si, porque conhecendo o ser humano como conheço duvido que investissem oitenta e oito anos em algo onde ninguém ganhasse dinheiro.
Os jogos tiveram momentos marcantes, como Jesse Owens ganhando quatro medalhas de ouro na Olimpíada de Berlin em 1936, as Olimpíadas nazistas. Antes de fazer do mundo um tabuleiro de “War” e invadir a Polônia e mais vinte e quatro territórios Hitler teve de “entubar o negão”.
Os negros voltaram a ter destaque nas Olimpíadas do México em 1968, quando Tommie Smith e John Carlos, dois atletas medalhistas dos EUA, fizeram a saudação “black power”, braço estendido com o punho enluvado e fechado, durante a cerimônia de premiação da modalidade. O COI baniu-os dos jogos.
Em 1972, nas Olimpíadas de Monique, terroristas palestinos entraram na Via Olímpica sequestrando atletas israelenses provocando o famoso “setembro negro”. Foram dias de grande tensão até que o sequestro acabou da pior forma possível com a morte de todos os envolvidos.
Em 1976 o segundo maior acontecimento do ano, só perdendo para meu nascimento, foi o fenômeno romeno Nádia Comaneci. A ginasta foi a primeira a ganhar nota 10 na história.
Nas Olimpíadas de Moscou em 1980 pela primeira vez ocorreu um grande boicote comandado pelos Estados Unidos e outros países capitalistas. Alguns países aderiram aos jogos, mas competiram levando a bandeira do COI. Nas Olimpíadas seguintes. em 1984, a União Soviética e países comunistas deram o troco.
Em 1980 ainda tivemos o urso Misha chorando no fim dos jogos e em 1984 tivemos homem voando na abertura, Carl Lewis voando nas pistas e a suíça Gabrielle Andersen terminando a maratona cambaleante devido a câimbras sendo empurrada por bilhões de pessoas ao redor do planeta.
Em 1988 o corredor canadense Bem Johnson assombrou o mundo fazendo os 100 metros em 9,79 e depois teve a medalha cassada pelo uso de asteroides anabolizantes. Tentou voltar anos depois e novamente foi pego no doping. Perdeu a medalha de ouro dos 100 metros , a carreira, mas hoje é sem dúvidas medalha de ouro nas fraudes olímpicas.
[N.do.E.: naquela ocasião Bem Johnson não era o único. Foi o único pego.]
Em 1992 nas Olimpíadas de Barcelona um cadeirante atirou com uma flecha a tocha olímpica, acertando com precisão a pira. Depois foi descoberta a fraude: a flecha passou longe. Se a de Ben Johnson é ouro, essa foi prata nas armações.
Em Atlanta 1996, Muhamad Ali com mal de Parkinson acendeu a Pira Olímpica, 2000 Sidney a Olimpíada do refugo nacional simbolizado pelo cavalo Baloubet de Rouet, em 2004 as Olimpíadas voltaram a seu berço Atenas, em Pequim 2008 o corredor Usain Bolt e o nadador Michael Phelps fizeram história e 2012 o mesmo Phelps se tornou o recordistas de medalhas.
O Brasil tem uma história tímida nos Jogos Olímpicos, mas criou seus heróis como os saltadores Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo e Maureen Maggi, o corredor Joaquim Cruz, os judocas Aurélio Miguel, Rogério Sampaio e agora Sarah Menezes, os velejadores Torben, Lars Grael e Roberto Scheidt, a geração de prata do vôlei de 1984, as de ouro de 1992, 2004 e 2008 – fora os jogadores de areia como Jaqueline, Sandra, Ricardo e Emanuel, os nadadores Gustavo Borges e Cesar Cielo, o cavaleiro Rodrigo Pessoa, entre outros.
Eu gosto de Olimpíadas, mais até que de copa do mundo e tenho vivas em minha memória todas as lembranças que comentei de 1984 pra cá.
Acho que só o fato de um atleta chegar a uma Olimpíada e não usar de subterfúgios, da covardia do doping para competir já é um vencedor.
Quem dera se todos os conflitos do mundo fossem resolvidos em quadras, campos, ginásios, pistas, piscinas, tatames e no final todos sorrindo, se confraternizando e um ursinho chorando.
Dos gregos peladões, passando pelo Barão de Coubertin chegando à menina de quinze anos que foi medalha de ouro na natação o legado olímpico parece ser um só pra mim: o da comunhão dos povos.
E que em 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro a gente consiga nossa medalha de ouro. Não só dos esportes, mas a medalha como povo, a medalha da educação, da saúde, do saneamento básico, segurança, da cultura.
A medalha de ouro da cidadania, aquela que faz a gente não trocar nosso voto por benesses. Lembrar-se em quem votou depois para poder cobrá-lo e exigir que respeite nosso voto e o cargo que exerce.
Uma sociedade que consegue isso é medalha de ouro independente de vencer provas olímpicas.
Porque o importante não é apenas competir. O importante é crescer.
Enquanto não chegam as nossas Olimpíadas vamos com a de Londres, botando molho inglês na feijoada, misturando chá com cachaça. Ah tá… Achavam mesmo que eu não citaria nosso samba sobre Londres? É ruim, essa é a nossa medalha de ouro.
Orun Ayé!
Ainda bem que o Aloisio admitiu que todos viram especialistas sobre tudo, porque ele foi o 1° a virar especialista em volei do dia para noite. hahaha.