Na tarde e noite de ontem tive oportunidade de pela primeira vez ver como é feita a televisão “do lado de dentro”, em visita à Globosat, mais especificamente à Redação do canal de esportes SporTv.
Atendendo a convite do editor chefe do programa “Tá na Área”, meu amigo Carlos Eduardo Sá (Cadu no meio do samba, “Sardinha” no meio jornalístico), já entrevistado por este blog, acompanhei por trás das câmeras toda a preparação e a realização do programa de ontem, quarta feira. Foi uma edição longa, de quarenta minutos de duração.
Na chegada ao prédio, que fica na Barra da Tijuca, há uma certa burocracia. Precisa-se ir à portaria, falar com a pessoa que a irá receber, pegar uma autorização para estacionar nas vagas de visitantes, voltar à portaria, fazer o cadastro, tirar uma foto e finalmente pegar o crachá.
Isto posto, comecei a acompanhar o trabalho do Editor Chefe, se iniciando pelas ilhas de edição (acima). Ali são editadas as matérias enviadas pelas sucursais, as preparadas pelas equipes locais e as presentes nos principais clubes e eventos. Também se prepara a coluna da “Lis Futriqueira”, que é um dos destaques do programa e cujo personagem foi parcialmente inspirado em uma das pessoas da equipe que prepara o “Tá na Área”.
Por exemplo, esta coluna trouxe brincadeiras com o falecimento do cantor Wando, com a “conjuntivite” de araque do jogador Ronaldinho e com o apresentador Lucas Gutierrez – esta feita de surpresa com ele.
Também fui a espaços como a sala de locução dos “offs” dos programas e (acima), o local onde os narradores fazem as transmissões “off tube”. Como vêem, é uma sala pequena, com tvs pequenas onde a imagem do evento a ser transmitido chega ali e é feita a narração. Agora entendo o comentário feito pelo amigo e comentarista Lédio Carmona, de que analisar esquemas táticos em transmissões deste tipo “é uma miragem”.
O controle de áudio destas transmissões é feito em uma sala anexa.
Estive nos dois estúdios utilizados para os programas da emissora.
No menor (acima), é gravado o Redação SporTv e o Troca de Passes. No maior (abaixo), o SporTv News e o Tá na Área. Este estúdio maior possui uma particularidade interessante: o cenário é feito de “cubos” que são iluminados e ganham assim as cores de cada programa. Mas a calibração das luzes do cenário é algo que demanda certo tempo.
A tarefa do Editor Chefe é especialmente ir controlando o andamento das matérias que darão forma ao programa e coordenar a montagem de um “espelho” onde será colocada a montagem da edição. Este espelho é um programa de computador onde aparecem as matérias na ordem, com tempos de duração e que são mexidas praticamente a todo instante.
Ontem especificamente houve ainda um outro contratempo. O evento que a emissora iria exibir antes do programa teve problemas de recepção de sinal e o programa teve de entrar dez minutos mais cedo, às 18:20. Isso gera uma série de complicações, pois ainda se aguardavam vts de outras praças e o processo de edição e montagem teve de ser acelerado.
Os apresentadores tem também funções na preparação do programa. Vanessa Riche atua como verdadeira repórter atrás de informações, enquanto Lucas Gutierrez prepara as locuções de “offs” – pelo menos foi assim que me pareceu.
Antes do início, uma passada pela redação, que serve a todos os programas do SporTv. O ambiente é bastante dinâmico e o tempo todo se busca o “furo” jornalístico. Inclusive soube de uma “bomba” que irá explodir proximamente no futebol, mas a pedidos não posso revelar.
O entrosamento do editor chefe com a equipe é bem nítido, com brincadeiras a todo momento. Não posso inferir para o restante da emissora, mas pareceu um ambiente legal.
Faltando cinco minutos para o início fomos todos para a sala de controle (acima), contígua ao estúdio, de onde todo o andamento é controlado. Com o “Tá na Área” em andamento ainda se mudam tempos de reportagens, ordens e vão se trocando vts das sucursais.
Há toda uma série de canais de áudio internos onde se pode comunicar com os apresentadores, com as equipes que fariam os jogos subsequentes ao vivo – Brinco de Ouro e Engenhão – e com a retaguarda. O tempo todo as pessoas na sala se falam e vão fazendo ao vivo os ajustes necessários. O pau quebra mesmo – e todo mundo sai abraçado no final.
Cada monitor do painel de controle e nas bancadas de baias possui um determinado tipo de imagem, e uma tv à esquerda mostra a imagem que o telespectador vê. Curiosidade: existe um “delay” de cerca de quatro segundos entre a emissão da imagem/voz – a fala dos apresentadores, por exemplo – e o momento em que se vê a mesma na tela da televisão de casa.
No intervalo (três minutos) ainda deu tempo de tirar uma foto com os apresentadores do programa. Aliás, o curioso é que eles não utilizam roupas pessoais, e sim do figurino do canal – Vanessa Riche, por exemplo, estava com um vestido de cor escura antes de ancorar o “Tá na Área”.
Ainda ocorrem imprevistos. A entrada do Paulistão ao vivo teve de ser (na hora) invertida com a do Carioca pois o narrador se atrasou e ainda estava colocando a roupa para entrar no ar diretamente do Brinco de Ouro – a partida seria Guarani e Portuguesa. Aliás, o fone de ouvido é colado nas costas do narrador com fita crepe…
O Editor Chefe funciona como uma espécie de “diretor” do programa, ainda fazendo intervenções pelos canais de áudio em tempo real. Uma delas foi a brincadeira com o comentarista Lédio Carmona, sobre a “Maldição do Zero a Zero”: todas as partidas que ele havia comentado até então haviam terminado com este placar. A brincadeira saiu exatamente da mesa de controle e foi pro ar.
Ou as referências a jornalistas, como um apelidado de “Tubarão Branco” pela sua arcada dentária ser bastante destacada na fisionomia – dentes grandes e brancos. E la nave va…
Matérias iam “caindo” e voltando no próprio decorrer do programa. Ao final duas reportagens não foram exibidas e se encerrou com 55 segundos a mais que o tempo total determinado – boa performance de acordo com o Cadu.
Sem dúvida alguma mudou totalmente a minha forma de ver a televisão. Não é um negócio fácil, as informações precisam ser totalmente checadas e o tempo de reação, na maioria das vezes, é mínimo.
O leitor também não pense que existe determinação de privilegiar ou prejudicar time A, B ou C. Este negócio de “ClubePress” é balela. Pense duas vezes antes de cornetar profissionais sérios e que estão ali para satisfazer a sua demanda por notícias, entretenimento e imagens.
Arriscaria-me a dizer que o telespectador não tem a menor noção do que ocorre atrás das câmeras. Está bastante longe de ser um mundo ideal, certinho, onde as coisas chegam prontas e acabadas apenas para serem divulgadas. Para se ter uma idéia, o processo todo leva cerca de cinco horas, para uma edição de 40 minutos no ar.
Para mim, valeu demais. Percebo cada vez mais que minha verdadeira vocação era o Jornalismo – mas agora, com 37 anos e bocas para sustentar, “Inês é morta”.
Oi Migão!
Muito legal essa visita e acredito que conhecer uma redação deste porte deva aguçar a vontade de se tornar um deles. Uma muvuca concentrada e acelarada em busca por notícias releventes. Essa rotina cheia de horários e prazos curtíssimos para terminar as matérias deve ser emocionante.
Mas…
Não seja tão poliano em dizer que não existe time-press porque existe. Não acontece na hora editar ou supervisionar um programa deste tipo.
As coisas sÃo bem mais evidentes em outras frentes.
Muito legal o post.
Sempre tive a curiosidade de saber como funcionava uma redação e esportes e o post foi bem elucidativo.
Discordo da Tatiana quando ela fala que existe a time-press mas é inegável que existem alguns jornalistas, mesmo que minoria, bem tendenciosos.
É mais ou menos por aí Rodrigo,quando escrevi “outras frentes”,quis dizer exatamente o que vc disse,hehe
Só pra exemplificar um pouco meu raciocínio,torço para um time com torcida regional e me incomodo muito durante o Brão acompanhando jogos do meu time contra times de massa, principalmente na transmissão da tv aberta. Quando o “maior do mundo” ganha as manchestes são sempre com aquele teor de gigantismo desnecessário,claro, na minha opinião.
Raça e garra existem em todos os clubes. Todo o torcedor espera o máximo dos jogadores de seus clubes.
É por aí que quero chegar, a time-press é essa relevância toda dada a uns poucos e sim, grandes, times, como se só houvessem eles no Brasil.
Se o Migão já reclama de tudo e todos em jogos do Fla, além do canelada é claro, imagino o quanto ele sofreria se torcesse pro Matsubara do Paraná, hehehe
Muito boa a coluna! Satisfez a curiosidade de saber como é e, claro, deu vontade de tb participar de uma “excursão” bacana destas.
valeu Migão, ficou bem legal o post, parabéns. Volte quando quiser.
abraços
Tati e Rodrigo,
Conversei muito com o Cadu sobre isso. E o próprio programa de ontem bateu no Fla e no Corinthians. Saí satisfeito