No último sábado tive oportunidade de estar no churrasco da vitória dos compositores vencedores da Portela.  Foi uma tarde e noite bastante agradáveis, reunindo os compositores, figuras proeminentes da agremiação e apoiadores – como este blogueiro.

Entre revelações como inconfidências sobre o carnaval azul e branco de 2013 e algumas histórias de bastidores, fiz o registro de um samba composto por Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo, não gravado em disco. É uma homenagem feita ao grande Luiz Carlos da Vila (1949-2008) após a derrota deste em um concurso da Unidos de Vila Isabel para o samba enredo em um ano destes.

Posteriormente Máximo me passou um MP3 caseiro, também com o registro completo da canção – que coloco mais abaixo. Não foi gravada em disco e faz parte de uma característica da música brasileira: inúmeras canções que jamais foram registradas e que acabam se perdendo com a morte de quem as tem na memória.

Este problema é ainda maior no samba, tanto o samba de enredo como o chamado “de meio de ano”: não se grava talvez 10% do que se é feito. Verdadeiras pérolas foram para o túmulo junto com seus autores, e não há, que eu saiba, nenhum trabalho estruturado de resgate e gravação desta memória. A cantora Cristina Buarque de Holanda fez alguns registros juntamente com o grupo Terreiro Grande, mas ainda é muito incipiente – embora louvável.

Peço aqui algum tipo de apoio, seja do governo, seja de grandes empresas ou mesmo das agremiações a fim de gravar estas músicas, registrá-las e assim evitar que estes tesouros se percam. Antes que mais e mais pérolas acabem indo para o túmulo junto com os autores ou conhecedores.

Não é preciso muita coisa. O vídeo acima foi feito com meu celular, por exemplo. Uma câmera de vídeo, algumas cervejas e depois o trabalho de decupar as letras e escrever as melodias. Não é muito.

O vídeo, em interpretação do próprio Wanderley Monteiro, não está “limpo” pois havia música ambiente. Mas é perfeitamente audível. A brincadeira feita por Carlos Monte (pai da cantora Marisa Monte) no vídeo é uma referência a Evandro Bocão, ex-presidente da Vila Isabel e vencedor de vários sambas na agremiação.

Pelo menos este samba está registrado. Mas há todo um trabalho a ser feito.



No dia em que o samba sucumbiu (Um samba pro Luiz)
(Wanderley Monteiro / Luiz Carlos Máximo) 

No dia em que “João” driblou “Mané”
E fez de súdito o Pelé
Elizete desafinou
A flauta do Pixinguinha não emitia som
Vinícius não foi beber com Tom
A poesia abandonou Drumond
São Jorge perdeu a luta com o dragão
E a maldade com o mundo em mãos
O espremeu como limão
Zumbi se conformou com a clausura
Guevara ficou sem ternura
Os anjos reprovaram a criação
E o tempo se fechou para a janela
Que mostrava imagem bela
De um Portinari que se esvaiu
Se ouviu do fundo do quintal no céu
Um triste choro de Noel
No dia em que o samba sucumbiu

Mas o tempo se distraiu e deixou cair
A folha seca do Didi
E uma candeia se formou
Iluminou
É a chama que nos chama a reagir
No samba restabeleci 

A força e a fé que um dia aprendi


(P.S. – “e uma candeia se formou” é referência a Candeia, ícone portelense.)

(Da esquerda para a direita: Máximo, eu, Wanderley Monteiro e Tuninho Nascimento)

One Reply to “Memória Musical Brasileira – Há Muito a Ser Feito”

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