Nesta sexta feira, mais uma edição da coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro.

Cerveja pra Ca…lho, Cerveja pra Ca…lho, o Migão está Fazendo Aniversário

Reconheço: o título desse artigo é chulo e de gosto duvidoso. Mas é o meu lado de arquibancada falando mais forte, porque é assim que a gente celebra a passagem dos anos de quem está sempre do nosso lado nas boas e nas ruins. Lido, assim, não dá a medida exata do carinho. Só compreende bem a essência da coisa quem já esteve na muvuca, gritando alto essa bobagem, abraçando uma horda de ogros.

O Migão, desconfio, nunca esteve nessa muvuca, não faz o tipo dele. Embora tenha sido o Flamengo quem nos aproximou, eu nunca assisti a um jogo com ele. E nem quero! Ô sujeito teimoso, firme nas suas implicâncias. O time muda, mas as implicâncias do Migão permanecem. Quando seus perseguidos são dispensados, ele elege outros para ocupar o lugar vazio do ódio rubro-negro. É o jeito dele de amar, paciência.

Querem ver?

Descobri que não é só com os Torós e Renatos Caneladas da vida que ele cisma. Ele escolheu morar longe do trabalho e passa as manhãs praguejando no Twitter contra os caóticos engarrafamentos. Mas reage com fervor à menor sugestão de que sofreria menos caso saísse da Ilha do Governador [N.do.E.: para a família é melhor. Paciência]. A alma insulana do Migão é mais arraigada do que a dos palestinos à Cisjordânia.

Outra obsessão Migônica é a taxa de câmbio. Um dos meus passatempos prediletos, quando estou meio sem assunto, é lembrar suas profecias apocalípticas de que o Brasil iria naufragar com um dólar abaixo de R$ 2,00. A primeira vez que eu o ouvi falar nisso deve ter sido em 2008. Acabei de dar uma conferida ligeira na cotação, cerca de R$ 1,75 no aniversário do Editor Chefe. Ah, Migão, a gente devia ter feito uma aposta: a cada mês que o dólar fechasse abaixo de R$ 2,00 você me pagava US$ 100.00. Isso ia virar a minha previdência complementar. [N.do.E.: ter amigos advogados dá nisso…risos]

Falei no prazer que eu tenho de implicar com o Migão de vez em quando e acabo de me tocar de uma coisa: eu mal conheço o Migão. Ou melhor, eu mal conheço o Migão pessoalmente, mas o conheço bem mais do que quase todo o resto das pessoas que convivem com ele mais de perto.

Isso porque eu falo com ele praticamente todos os dias. Eu falo mais com ele do que com a minha mãe e o meu pai. Falo de futebol, de política, de economia, de negócios, de samba, de tudo um pouco….a coisa mais intrigante do fenômeno da Internet é essa loucura de tornar íntimas pessoas que mal se conhecem. E ter a sorte de ter o Migão como um dos meus interlocutores diários me estimula o intelecto.

Agora, eu devo ter virado muito amigo dele mesmo… Explico.

O chato da pessoa se mudar da cidade onde nasceu e cresceu é não poder conviver com os amigos de sempre. Volta e meia as pessoas me convidam, um tanto quanto protocolarmente, para que eu compareça a toda sorte de celebrações, casamentos, aniversários e festinha dos filhos. Elas me convidam e eu me sinto obrigado a recusar, porque não é fácil sair de casa para ir a um evento logo ali, a 1.500 km de distância. Mais difícil ainda com duas filhas gêmeas de seis meses de idade.

Mas ao aniversário do Migão em nenhum momento eu cogitei faltar. Acordo cinco da manhã, pego um aviãozinho básico e logo chego aí, Migão. Vai botando a cerveja para gelar, que esse abraço eu faço questão de dar pessoalmente.